23.10.13

É assim mesmo

É assim mesmo: se passamos um tempinho longe daquilo que nos preocupa, passaremos a desfrutar de algumas alegrias que estavam mesmo ali ao lado sem que as preocupações nos deixassem ver algumas das coisas que nos poderiam dar paz e tranquilidade.

Isto não é bem assim, porque só assim será se tivermos a coragem de gozar um pouco com a falta de informação, com o esquecimento e até com a ignorância dos factos que nos causam dores e preocupações.

Se formos capazes de permanecer afastados dos programas televisivos de notícias, de comentários e de discussão política, se formos capazes de passar uns dias sem dar uma vista de olhos pelos títulos dos jornais, a não ser que sejam desportivos, teremos a garantia de uns dias de sossego, coisa que nos confortará a alma.

Contudo, é preciso ter cuidado com as recaídas, porque o veneno causado pela ausência da dose de um determinado analgésico, pode dar origem a contratempos ainda piores do que sucedia anteriormente.

Manter orelhas moucas e afastadas do ruído da propaganda pode dar alguma tranquilidade, mas abrir os ouvidos sem os preparar para o que está a acontecer, pode causar estragos verdadeiramente importantes e difíceis de esquecer, dado que podem contrariar as nossas piores previsões.

Eu já andava a preparar-me devidamente para continuar por mais uns quantos anos a levar pancada e a ser roubado legalmente se qualquer possibilidade de me defender e fazer valer os meus direitos ou, pelo menos, fazer valer aquilo que eu pensava serem os meus direitos.

Eis senão quando, dou comigo a ouvir que no ano de dois mil e quinze já poderei não ser roubado e, talvez até, já poderei ver reposto o meu rendimento nem que seja uma meia dúzia de euros.

Já estava convencido que o orçamento de estado estava definido, que já não se falava mais nisso, que o presidente, como sempre, vai deixar passar o dito, que o dito vai entrar à grande no bolso do pessoal, que o pessoal vai continuar alegre e contente por dizerem que estamos a cumprir, que não vai haver segundo resgate, que se trata de um seguro, que não é seguro mas de uma garantia por se acaso, que pode ser uma hipoteca mas sem troika,…

Verifico que o mal não está nas discussões do orçamento, não está nas bocas de ministros e de secretários de estado, que hoje dizem uma coisa e logo dizem outra, que ninguém se entende no meio desta bagunça toda, mas o mal está em mim que não sou capaz de continuar ausente das contradições da informação política.

Nada melhor que ganhar juízo e não acreditar que no ano de dois mil e quinze vou ter dias melhores, tanto mais que é ano de eleições legislativas!

Será que esta cambada ainda está convencida que o pessoal continua a acreditar em tanta patranha e tanta aldrabice e não entende qual é o programa delineado?

Duvido muito, mas eles são mesmo incompetentes.

16.10.13

Menor que…

Vou acalmar um pouco para tentar que a lucidez indispensável para atravessar estas águas profundas e revoltadas que inundam a nossa política não se esvaia e me deixe completamente à deriva sem norte e sem sul, porque o este e o oeste estão garantidos com o nascer e o pôr-do-sol.

De vez em quando é conveniente pensar um pouco antes de responder ao que quer que seja que nos bata à porta sem tino e critério como se exige em alturas como estas.

Os próximos tempos serão pródigos em discussões e palpites de quase os nossos atores políticos, uns mais, outros menos, conforme a sua implicação no processo, pois haverá quem se cale providencialmente, outros que se ficarão com os ouvidos moucos, outros ainda que se esconderão que nem ratos e ratazanas dos esgotos, evitando a todo o custo pronunciar-se sobre qualquer matéria do orçamento.

Todos dirão que é bem melhor estar-se calado, pois que com a boca fechada nunca poderá sair asneira, nem sequer daquelas que se dizem sem se saber ou ter consciência do seu significado e do seu conteúdo.

Vamos ser poupados a uns bons dislates, o que não será nada mau, uma vez que teremos imensas oportunidades de ver e ouvir os inteligentes e os espertos a mandar as suas bocas, como se tratassem por tu a ciência e o conhecimento das matérias objetos das suas altas apreciações.

Elas já começaram e nós ficamos, desde já, todos agradecidos porque já fomos informados que os descontos (Impostos) previstos no orçamento de estado para dois mil e catorze são menos que os verificados em dois mil e doze.

Estamos todos contentes por termos tido conhecimento antecipado de que a nossa vida será melhor que a de dois mil e doze, porque os descontos são menos, esquecendo-se o espertalhão de nos dizer que os descontos de dois mil e catorze são colocados sobre os verificados em dois mil e doze e dois mil e treze.

Mas já ficamos satisfeitos com a perspetiva de ver o programa de ajustamento terminar em julho do próximo ano, conforme previsto e dito, não havendo qualquer hipótese de a data poder ser alterada para agosto ou até mesmo para setembro e muito menos ser antecipada para o mês de junho.

Nessa altura já navegaremos com os nossos próprios instrumentos recorrendo aos mercados como sempre e com mais uma previsão de aumentos de impostos e de cortes nas pensões e nos salários para o ano de dois mil e quinze, como forma de salvar a Pátria e a Nação.

Por mim estou aviado, esperando apenas que o presidente não deixe de chatear o governo, não com a intenção de repor as injustiças, mas apenas para tomar posição sobre a matéria e daí lavar as mãos para tentar retirar a porcaria que tem feito e deixado fazer..

A austeridade mínima

Quem está habituado a levar no toutiço forte e feio já não leva a mal que lhe continuem a dar no toutiço.

O pior é quando alguém que tem estado ao abrigo das aves de rapina e que agora se vê a descoberto, começa a dar-se conta de que a coisa está verdadeiramente preta, mesmo para o seu lado.

Natural será, por isso, que comece também ele a habituar-se a levar as suas marteladas sem qualquer capacidade para reagir a tempo e a horas de se por ao fresco.

Pelo que vai ter que iniciar o processo de pagamento porque a fuga começa a não estar fácil, mesmo para aqueles que continuam a constatar que a porta, se não está totalmente fechada, ainda está semiaberta, permitindo alguma opção que não seja aquela de "paga e não bufas…".

Esta noite em sido um regabofe total de comentadores nos diversos canais generalistas e especializados: todos querem comentar com a maior profundidade possível o orçamento hoje divulgado, havendo uma quase total unanimidade numa apreciação geral de que se trata de um orçamento de austeridade ainda maior da que se esperava.

Para mim é uma maravilha que assim seja, porque já estou habituado a que as manápulas fiscais não saiam do meu bolso, controlando ao cêntimo tudo o que entra e sai numa promiscuidade só possível a situações de incapacidade total de reagir a esta invasão e devassa da carteira dos cidadãos.

De alguns cidadãos porque para outros ainda não chegou o tempo das vacas magras, pois verifica-se alguma incapacidade dessas tais manápulas entrarem ou acederem à conta bancária e aos rendimentos de alguns senhores que se passeiam no meio desta porcaria toda sem sujarem a sola dos sapatos.

Não sei se já será desta que o pessoal vai acordar para a realidade que está e estará na nossa frente, mas temo que as movimentações a sério comecem a materializar-se, pois a coisa só pende para um lado e a corda não vai aguentar por muito mais tempo, pelo que será natural que se rompa, o caldo se entorne e o almoço vá para o galheiro.

Depois, quem for capaz de fechar a porta que a feche, mas tenha algum cuidado porque poderá ficar com o rabo entalado sem possibilidade de dar às de vila diogo.

Alguns já estarão a preparar o terreno para não serem apanhados desprevenidos e com as calças na mão, mas outras não terão, certamente, essa sorte e serão estes que pagarão as favas.

Nessa altura não terei pena de quem quer que seja e apenas lamentarei que as passinhas do algarve sejam suportadas só por uns quantos, enquanto outros se ficarão a rir a bandeiras despregadas, continuando a tratar e a pensar que uma cambada de idiotas e de imbecis não merece ser tratada como gente séria e honesta com a mínima consideração e estima e respeito.

14.10.13

O anjinho da guarda

O anjinho da guarda dos reformados, dos pensionistas, dos idosos, das idosas e dos pensionistas de sobrevivência bateu as asas e voou para bem longe, tão longe que se esqueceu de nos informar que o lúcifer estava à espreita e já tinha assinado umas coisinhas destinadas aos funcionários públicos, que os vai deixar muito contentes.

Este contentamento não foi anunciado, porque só se anunciam coisas que custam a digerir e esta coisa de auxiliar o país com o seu contributo para a sua salvação de modo a evitar a queda definitiva estará sempre presente na intenção e na vocação dos funcionários públicos.

Ontem foi um aperitivo para a grande maioria dos cidadãos com pensões de sobrevivência, mas já estava decidido e assinado que os salários e as outras pensões não se livravam da martelada já prometida e agora divulgada pela imprensa.

No fim de contas não haverá português que viva do estado, quer através do trabalho quer da fruição de uma vida inteira de descontos, que não tenha a oportunidade de participar ativamente na salvação do seu país, evitando o naufrágio deste imenso barco governado por uma pandilha de fina estirpe.

Já andava por aí gente a embandeirar em arco, parecendo que não seriam chamados a acorrer em auxílio do défice, da dívida pública e da reforma do estado, mas foi sol de pouca dura, pois o grande predestinado não se esquece com facilidade das suas obrigações perante todo o povo, independentemente do gosto e da vontade de cada um.

Assim, como quem não quer a coisa, vai-se mostrando a desgraça às pinguinhas para uma fácil digestão com a consciência total de que não estamos perante circunstâncias facilitadoras de graves indigestões provocadas por grandes comezainas e grandes pacotes de chamamentos de que são devedores todos os contribuintes.

Eles não se esquecem de nós e têm a prova provada que é possível aguentar mais pancada com um sorriso nos lábios até vergar os lombos desta gentalha que continua a viver à custa dos nossos beneméritos e não do seu trabalho e dos seus direitos por uma vida inteiro de contributos para a engorda do estado.

Temos o que merecemos e ainda temos disponíveis uns euros na carteira, que os nossos governantes rapidamente irão encontrar maneira de os levar para devolver, talvez, aos nossos emprestadores com juros de agiotas.

Mas vida é assim, enquanto nós não dermos um valente par de coices e atirarmos com esta cambada lá para os quintos dos infernos que é, como quem diz, mandar esta gente pentear macacos pela sua indecente e má figura praticada à sombra das boas intenções da salvação da Pátria que outros quase levaram à ruína e à bancarrota…

Ontem foi um cortezito nas pensões de sobrevivência, hoje foi uma valente tesourada nos salários dos funcionários públicos, amanhã virá a confirmação do contributo das pensões dos funcionários públicos, no outro dia falarão da nova tabela salarial dos funcionários públicos que os vai reduzir ao seu significado real e depois, quando já nada restar, estes craques irão servir o capital para outras bandas.

Nós ficaremos cá, cantando e rindo, felizes e contentes por nos comerem as papas no alto da cabeça…


 

13.10.13

A fuga

Os malandros da oposição puseram a circular uns boatos e umas atoardas sobre cortes das pensões de sobrevivência, levando o pânico e a inquietação a umas centenas de milhares de portugueses na sua grande e larga maioria idosos, viúvos e viúvas, que já se viam a financiar mais uma vez a crise nacional.

Mas o governo estava atento às manipulações e demagogias de todos aqueles que vivem ressabiados e descontentes com as políticas sociais, económicas e financeiras levadas a cabo pelos atuais governantes, ao serviço da Pátria e da Nação.

De tal modo era grave o desespero dos que recebem pensões de sobrevivência que os nossos estimados governantes demoraram mais de uma semana para esclarecerem o povo através de uma conferência de imprensa, enquanto decorria o conselho de ministros que aprova o orçamento de estado para dois mil e catorze, repondo a verdade das medidas para tranquilidade dessas tais centenas de milhares de portugueses que já se viam roubados e espoliados mais uma vez por talhadas fiscais nas suas magras reformas.

Tudo se ficou a dever a uma fuga de informações praticada por uns malvados não identificados com o objetivo de prejudicar e difamar os nossos queridos governantes que passam o dia e a noite a sacrificarem-se pelo bem-estar de todos os portugueses, mesmo daqueles que não gostam deles.

Uma fuga de informação que tanto mal causou ao pessoal que recebe pensões de sobrevivência não podia ficar sem a resposta devida e em devido tempo, para que os portugueses continuem a confiar naquele grupo de predestinados que nos governam por mandato dos deuses e que sempre dedicaram a sua maior atenção aos problemas destes portugueses deserdados da fortuna.

Não havia razão para que estes boatos e estas atoardas postas a circular pelos malvados oposicionistas não fossem desmentidas, porque a verdade é clara como a água clara e transparente como a alma dos nossos governantes e pouco ou nada custava esclarecer as informações vagas e imprecisas sobre umas medidas que atingiriam apenas cerca de vinte e cinco mil portugueses, na sua grande maioria ricos, que não carecem da ajuda do estado para levar uma vida bastante razoável.

Das centenas de milhares de portugueses que recebem uma pensão de sobrevivência, apenas vinte e cinco mil vão ser "convidados" a participar na luta contra o défice e no combate à dívida pública, ao serviço da reforma do estado, poupando o sacrifício a mais de noventa e seis por cento dos "sobreviventes".

E não podia ser de outra maneira, porque o anjinho dos pobres e dos oprimidos, dos pensionistas e dos reformados continua atento e vigilante a tudo o que nos possa acontecer, desde que seja pela nossa saúde.

Só não entendo uma coisa: como é que um malandro da oposição teve acesso a informações que eram do conhecimento exclusivo dos membros do governo…?

Somos pobres, mas parvos…?

12.10.13

Os falhanços

Ainda se ouve algum ruído provocado pela entrevista coletiva do primeiro, mas já está mesmo a desaparecer de todo, tal como a sua relevância que foi um pouco mais que nula, um embuste e uma falsificação do que deveria ser um encontro entre uma tal alta personalidade da política portuguesa e um grupo de vinte cidadãos, escolhidos para lhe colocarem vinte questões ou perguntas, se se preferir.

Aquilo não passou de um monólogo algumas vezes interrompido por vozes estranhas desprezadas pela personalidade presente e ninguém se lembraria do acontecimento e não tivesse sido o primeiro de não sei quantos e se não tivesse sido tão mau e tão aborrecido, de tal modo que me fez lembrar um outro programa da televisão pública que dava pela designação de "conversas em família", com a diferenças que aquelas eram de um homem inteligente, com classe e com categoria.

O assunto já lá vai e ninguém se vai lamentar de ter perdido aquela coisa, salvo duas ou três afirmações que se podem aplicar a outras situações da vida portuguesa.

Vem isto a propósito da porcaria que se viu num campo de futebol ali ao lado da segunda circular tendo como protagonista o guarda-redes da seleção de Portugal.

Cabia dizer que se o "homem falha, falha Portugal inteiro", tão somente porque ele é o melhor do mundo e de vez em quando nem sequer vale um peido seco, como ontem aconteceu, fazendo figura de corpo presente e demonstrando claramente que estava a fazer um monumental frete e foi necessário ter um comportamento antidesportivo impróprio de um jogador e mais ainda tratando-se do capitão da equipa, forçando o amarelo para evitar a sua presença no próximo jogo e fazer as pazes com os portugueses que o admiram e que gostam de bola. E falhou.

Os dois falharam quando foram chamados a mostrarem o que valem e a demonstrar o apreço pelo seu País, mas um bota faladura da forte e da grossa contra os pequenos e os incapazes e o outro reserva-se para quem lhe paga a sua vida.

Nesta coisa de pessoas importantes que vão falhando os seus destinos, temos em abundância e eles estão entre nós duros e fortes, com um discurso limpo e escorreito, cheio de palavras doces e promessas vãs acompanhadas das mais elementares mentiras ou de meias verdades e até de meias mentiras, para que alguns distraídos ainda sintam esperança nas capacidades desta gente que nada mais faz que chular os pobres e os remediados e proteger os ricos e os poderosos.

Mas já andam a preparar o caldinho para o próximo ano com um cântico de encantamento, fazendo pensar que se estão a preparar para se atirarem aos tais políticos que recebem uns cobres como prémio e benefício do seu serviço público, prestado ao País, com prejuízo da sua vida pessoal, familiar e profissional deixando de ganhar balúrdios para receberem um miserável ordenado devido a um secretário de estado, a um ministro, a um presidente…

Não nos vão convencer, porque já estamos avisados.

10.10.13

A entrevista

Foi monumental e do outro mundo: o novo programa da televisão pública com um novo formato de entrevistas a figuras públicas e pessoas importantes, iniciadas com o primeiro.

Foi uma delícia ouvir vinte cidadãos a formular vinte perguntas sobre os mais diversos temas e assuntos e um discurso igual a tantos outros que já tivemos oportunidade de ouvir.

De facto, tivemos a oportunidade de ouvir umas perguntas que nem sequer tiveram grande impacto e que poderiam ter tido muito mais cuidado na sua escolha e na sua formulação, mas foi o que se teve e foi a isto que o primeiro respondeu.

Respondeu?

Ouviu as perguntas, mas foram respostas aquelas palavras debitadas como se fosse um papagaio já muito habituado a dizer pela milésima vez aquele chorrilho de afirmações, sem fundamento e muitas vezes sem nexo, parecendo mesmo que tinha pela frente o teleponto que não o deixava desviar do pretendido?

É assim que vamos tendo a oportunidade de continuar a ouvir sempre a mesma coisa cinzenta vomitada a cem à hora para português se convencer que estamos na presença do enviado do senhor dos passos para salvar não a humanidade, mas a portugalidade e com isto, os portugueses e por fim Portugal.

Estamos naquela fase em que alguns se sentem predestinados para salvar uma cambada de idiotas e de mentecaptos que nunca tiveram a dignidade de se assumirem como ignorantes e carenciados de quem os guiasse e levasse a bom termo e à salvação.

Apesar de termos podido constatar que as respostas quase nunca disseram respeito às perguntas, tivemos a oportunidade de ouvir mais uma vez que a austeridade é necessária para os funcionários públicos, para os reformados e aposentados, uma vez que o setor privado já sofreu o bastante e já fez a sua reclassificação e o seu ajustamento, mandando para o desemprego milhares e milhares de trabalhadores e encerrando uns milhares de empresas, fora aquelas que se seguirão nos meses mais próximos.

Continuam a ser os funcionários públicos, os aposentados e os reformados a pagar as políticas destes iluminados por nós ali colocados para sanear a nação e colocar os cidadãos nos seus respetivos e devidos lugares, sem qualquer possibilidade e capacidade de retorquir e bater o pé aos salvadores do povo.

Volto a afirmar o já aqui disse algumas vezes: o objetivo básico e principal desta escumalha é empobrecer o Povo em cerca de quarenta por cento relativamente ao que existia em dois mil e oito.

No fim disto, teremos os pobres mais pobres e os ricos mais ricos e ficando o País na total dependência durante algumas gerações por obra e graça do poder do capital e dos seus digníssimos representantes e arautos.

De que nos queixamos, se os deixamos lá continuar…?


 


 

8.10.13

O discurso político

De há uns tempos a esta parte uma das palavras que mais tenho ouvido nos meios de informação audiovisuais é a palavra "mentira".

Dito desta maneira poderá dar a entender que a grande maioria daqueles que falam nos meios de informação audiovisuais passam o tempo em conversas baseadas na mentira ou, se preferirem, nas conversas sobre a falta de verdade no discurso político dos nossos tempos.

Mente este, mente aquele, mente o outro, parecendo que a mentira é a base e a sustentação de tudo o que se passa à nossa volta.

Ainda não tenho a ideia que todos aqueles que ouço e vejo sempre que presto alguma atenção aos noticiários e aos programas de informação e de discussão sobre a atual situação política do burgo utilizam sistematicamente o discurso da mentira.

O que mais me preocupa e o que mais me chateia no meio desta bagunça toda não é a mentira de muitas afirmações, pois não tenho maneira de as provar, dadas as diferentes e diversas e até opostas interpretações passíveis de uma determinada palavra.

O que mais me preocupa e me chateia no meio desta bagunça toda são as meias verdades e as meias mentiras que se topam a léguas de distância sem necessidade alguma de ter ao lado o dicionário da academia das ciências.

Basta estar com a mínima atenção ao discurso de alguns políticos e ter o mínimo de informação sobre uma determinada matéria para saber que um qualquer membro do governo está a fazer do pessoal uma cambada de imbecis e de idiotas dadas as evidências das aldrabices que nos está a tentar enfiar sem a decência que merecem as coisas sérias.

Podemos falar da justiça das quarenta horas de trabalho que se praticavam antigamente e ainda se praticam lá fora; falamos da convergência das pensões do regime geral e da cga; falamos dos salários da função pública; falamos do ensino público; falamos da saúde privada; falamos dos impostos de uns e de outros; falamos da taxa de solidariedade; falamos da reforma do estado; falamos de…

Será que algum secretário de estado, ministro e até primeiro-ministro sabe realmente quantos funcionários públicos existem?

Será que algum governante, que fala todos os dias da reforma estrutural do estado sabe verdadeiramente os serviços duplicados, serviços que não fazem falta, serviços que faltam, serviços que…?

Será que algum governante sabe com alguma certeza onde faltam funcionários, onde há funcionários a mais…?

Será que algum governante com responsabilidades na reforma estrutural do estado sabe com alguma certeza quais são as profissões necessárias e indispensáveis para manter o serviço público num nível médio de eficácia e de qualidade…?

Não temos a obrigação de acreditar em gente habituada a mandar palpites, a dizer meias verdades, a proferir meias mentiras, a enganar toda a gente, a ludibriar uma boa parte, a roubar toda a esperança e a encaminhar muitos cidadãos para o desespero e para a infelicidade de uma vida desgraçada e miserável.

Mas, um dia o pessoal vai zangar-se…

7.10.13

A vergonha verde

A vergonha já não é o que era.

Antigamente, isto é, aqui há uns anitos, tinha-se e sentia-se vergonha por olhar para os tornozelos de uma rapariga e muito mais vergonha se tinha se se tive a mínima ideia de aldrabar o professor numa aula ou até de copiar qualquer coisa, que fosse à descarada.

Na verdade, era preciso ter vergonha para se ter vergonha.

Os tempos mudaram e a vergonha já não é o que era.

Agora está na moda o não ter vergonha seja onde for, mesmo que seja na cara.

Agora está na moda mostrar a toda a gente que não ter vergonha é o correto, o certo, o bom, o verdadeiro e tentar mostrar a qualquer um que se tem vergonha não merece da parte de ninguém qualquer estima e consideração.

O vulgar dos cidadãos ainda sente um ruborzinho na cara se se atreve a pensar fazer alguma coisa que possa indiciar a existência de alguma vergonha.

Este vulgar cidadão nunca terá a hipótese de ser eleito deputado e vir a ser secretário de estado ou até ministro e nunca jamais em tempo algum poderá pensar vir a ser primeiro-ministro ou até vice-primeiro ministro.

Isto não está ao alcance de quem sinta algum rebate na consciência quando é levado a pensar que alguém empossado responsável político de qualquer estrutura mesmo governamental não tem vergonha na cara quando diz e faz alguma sacanice ao povo.

O verdadeiro servidor político não tem tempo para sentir vergonha do que diz ou do que faz, pela simples razão que não tem consciência de estar a desgraçar seja quem for.

Pelo contrário, sente uma profunda alegria por ter a oportunidade de ser dispensado de ter vergonha e possa dizer e fazer aquilo que entende ser seu dever patriótico para lixar a populaça.

É preciso estar dispensado de ter vergonha para poder a qualquer momento e em qualquer altura desdizer o que disse e afirmar docemente que a Pátria e a Nação exige não ter vergonha nem qualquer remorso por roubar, assaltar, espoliar, gamar uma cambada de imbecis que não entendem que o político dispensa a ética e a moral para bem do serviço público.

O bom servidor político será sempre aquele que não pode ter preocupações de procurar fazer o mais difícil e procurar as soluções mais justas e que menos prejudiquem os mais fracos, os mais débeis ou, na sua linguagem, os mais malandros e mais idiotas e imbecis.

O bom servidor político será sempre aquele que não tem remorsos por fazer o mais fácil, mesmo que o mais fácil seja abocanhar o que está prestes a servir de alimento a um desgraçado qualquer.

O bom servidor político será sempre aquele que nunca se poderá comparar a um ladrão ou assaltante de bancos, os quais têm o seu trabalho e assumem os respetivos riscos, enquanto aqueles roubam e assaltam as bolsas dos pobres e dos remediados sentadinhos no gabinete sem receio de sentir o mínimo de vergonha, porque essa, sempre se disse, era verde e o burro comeu-a…


 

3.10.13

O rosário eleitoral

Os resultados do ato eleitoral do último domingo continuam em análise de que resulta que são possíveis de leituras a nível nacional, contra a ideia transmitida por muito boa gente, normalmente oriunda do partido perdedor, que não vê qualquer interesse em transformar umas questiúnculas locais em verdadeiros problemas nacionais.

Também me parece que os resultados eleitorais na minha freguesia de nascimento pouca ou nenhuma influência podem ter a nível nacional e muito menos serem preocupações de uma freguesia lá do norte transmontano.

Contudo, os resultados de uma câmara municipal capital de distrito ou de um grande concelho em número de eleitores já deverão merecer a melhor atenção tanto dos outros eleitores como principalmente dos partidos e organizações e instituições envolvidos no processo eleitoral.

Podemos ouvir e ver declarações a toda a hora e em todos os órgãos de informação no sentido de limitar os estragos ou estender a vitória a todo o território nacional, dando a devida dimensão a cada uma das capelas, mas a realidade está longe do verdadeiro sentimento de derrota ou de vitória dos atores políticos.

Podem dizer tudo o que quiserem, porque nós acreditamos piamente que eles sabem muito bem que nós temos consciência da realidade.

Quem perdeu sabe que perdeu, mesmo que nos diga que a derrota teve as suas nuances e não é assim tão grande que valha a pena uma preocupação desmesurada para além do razoável, tanto mais que a volatilidade do sentido de voto dos eleitores não justifica demasiado sofrimento.

De qualquer modo, há um sintoma do estado das coisas que não permite leituras muito diferenciadas: aquele ardor nas orelhas, a denominada "orelha quente" é tão verdadeira que justifica plenamente o recurso ao espelho e tentar vislumbrar o tal rubor. Se apenas se sente e não se vê, pode ser só impressão ou mania de perseguição; se se vê e se sente, então a coisa é a sério e exige uma observação fina de tudo o que nos rodeia para estarmos seguros que não há ninguém com um punhal devidamente escondido, mas preparado para ser usado.

Vamos continuar nestas leituras, nestes discursos, nestas opiniões porque interessa manter a chama independentemente da cor de cada um, porque haverá sempre uma razão para o grito de alegria e de revolta.

Bem vistas as coisas, nem a crise, nem a troika, nem os impostos, nem os jogos, nem as injustiças, nem o assalto aos salários e às pensões conseguem eliminar a convicção do pessoal de que os resultados eleitorais representaram uma grande derrota para o principal partido do governo, mesmo que nos queiram fazer crer que apenas estava em causa a eleição dos representantes do poder local, estando o central ao abrigo de maledicências, próprias dos invejosos da oposição.

2.10.13

O Constitucional

Andava eu convencido que a crise tinha muitas causas e que algumas estavam relacionadas com os gastos do pessoal que eram muito superiores aos respetivos ganhos.

Seria suposto que alterados estes procedimentos e iniciar um processo de gastar menos do que os ganhos, a situação líquida da maioria dos portugueses iria contribuir decisivamente para baixar a dívida pública, compor o défice, obedecer aos ditames da troika e assim dar como terminado o programa de ajustamento e a ida consequente aos mercados, mas com a intenção clara e deliberada de pagar atempadamente a todos os que entregassem a guita por um determinado período.

A coisa não era bem assim, porque não se reveste de tanta simplicidade, tanto mais que há por aí muito boa gente que está habituada a gastar à grande e à francesa e outra que nada gasta porque nada tem para gastar.

Por outro lado tenha-se na devida conta que aqueles que mais gastam continuarão a gastar mais e aqueles que menos gastam também estarão na mesma posição, dado que o provérbio é verdadeiro para todos: quem não tem dinheiro não tem vícios…

A não ser que o vício seja precisamente o ter dinheiro e o desejar ter cada vez mais dinheiro, não sendo justo nem eticamente correto pedir a estes senhores que abdiquem de um milésimo, para que quem nada tem aumente um milésimo o seu rendimento, sendo que o tal milésimo daria de comer a uns quantos portugueses.

Se tiverem dúvidas pensem na reforma de uns quantos que todos conhecemos, a fazer fé no que se diz nos jornais.

Bem vistas as coisas, devemos continuar convencidos que a existência de pobres é uma lei da vida, tal como o é e não deixa de o ser a realidade dos ricalhaços.

Que seria da nossa vida sem a existência de uns quantos ricos, mas mesmo muito ricos, com salários e pensões milionárias?

Seria uma tristeza muito triste se não tivéssemos motivos para falar mal daqueles que dispõem da capacidade de olhar o mundo e dizer e pensar com toda a seriedade: olhem-me só para toda esta cambada que luta por um miserável posto de trabalho pago a cinco euros à hora sem garantias do mesmo existir no dia seguinte!!!

Alguém já falou que se torna necessário baixar drasticamente os salários e as pensões aos milionários?

Talvez alguém já se tenha lembrado de tal ideia, mas rapidamente chega à conclusão que não é possível, dado que os seus efeitos são praticamente nulos, pois milionários há poucos e pobres e remediados é o que mais existe por aí.

Então, nada mais resta que ir ao bolso dos pobres e remediados.

Mas… e o Tribunal Constitucional???

1.10.13

A poeira

A poeira começa a assentar facilitada até pela envolvente meteorológica que dificulta a reunião dos pequenos grupos à esquina ou à porta do café para os indispensáveis e normais comentários à política nacional.

Em contrapartida, teremos, muito em breve, as facas de ponta e mola disponíveis para cumprirem o seu destino: dar o golpe de misericórdia nos que forem considerados os mais responsáveis pelos desaires sofridos, mesmo que não sejam os verdadeiros culpados.

Quem anda na política por gosto ou por necessidade tem de estar preparado para ser imolado por dá cá aquela palha e saber que o poder vai e vem ao sabor das contingências e das circunstâncias, independentemente da vontade dos mercados que tudo regulam sem olhar a quem.

O ruído de fundo do que está para acontecer já vai surgindo por aí a anunciar alguma tempestade que se aproxima perigosamente de uns quantos que tiveram a ousadia de se considerarem imunes à inconstância dos eleitores, ficando demonstrado que o poder não é para sempre e um dia as coisas mudam pura e simplesmente mesmo que não haja razão e fundamento para tal acontecer.

As coisas são assim, porque as forças sociais implicam a mudança, independentemente da sua velocidade.

Vão aparecer alguns, poucos, novos rostos, mas os suficientes para ficarem justificadas as eleições e os seus custos e outros vão viver por conta do orçamento após uma meia dúzia de anos de serviço público, o que não deixa de ser uma alegria.

O que de mais interessante vai acontecer nos próximos tempos irá estar relacionado com a pressão das autarquias junto do poder central para que as bolsas se abram e corram os euros na direção de todas as promessas eleitorais, para que a lei se cumpra.

Quem pensar que o salário mínimo vai aumentar, que o corte das pensões é para esquecer, que as quarenta horas foi um sonho mau, que os salários dos trabalhadores vão acompanhar a inflação, que as mordomias dos políticos e de mais uns quantos vão ser revistas em baixa, que os mais ricos vão pagar mais impostos, que a riqueza vão ser distribuída com mais equidade, que os ganhos de produtividade não se vão destinar exclusivamente ao capital, que os pobres vão merecer a devida atenção, que os paraísos fiscais vão ser postos em causa, que o capital vai regressar às suas origens, que todos vão pagar impostos, que a economia paralela vai ser posta na ordem, que as fugitivos ao fisco vão ser apanhados e colocados na prisão, que…

Mas, em que raio de País pensa que vive…?