25.2.13

A feira agrícola

Está a decorrer no parque das nações uma feira de produtos alimentares de origem portuguesa, destinada exclusivamente a profissionais, anunciando-se que estão presentes mil e seiscentos compradores de cerca de cem países.

Dado que o grande público não tem oportunidade para ver e olhar o que de melhor se produz em Portugal no que se refere a produtos agrícolas resta-nos apenas a informação veiculada por órgãos de comunicação social, pois alguns não têm grande interesse em elogiar qualquer coisa "made in Portugal".

Mas nós sabemos que os produtos agrícolas que temos à nossa disposição em todos os locais de venda, desde o mais pequeno minimercado até ao mais sofisticado hipermercado, são de qualidade superior e de uma gama totalmente satisfatória para todos os gostos e bolsas.

Certamente que ali estarão presentes as mais variadas frutas, os diversíssimos tipos de leite e queijo, as hortícolas e os legumes, as carnes e derivados, os vinhos de altíssima qualidade e toda uma panóplia de produtos transformados que deverão arregalar os olhos de todos os que tiverem oportunidade de entrar na Feira Internacional de Lisboa, ao Parque das Nações.

Nestas alturas, muita gente estará orgulhosa de tudo o que têm a oportunidade de mostrar aos especialistas, aos interessados e aos importadores e exportadores grande parte do que se pode fazer em Portugal, desde que haja boa vontade e trabalho e investimento nesta terra que se pode considerar de eleição para a prática de alguns tipos de agricultura.

Nestas alturas, deve haver alguém por aí que se atreva a lembrar aqueles fatídicos anos da abundância de "leite e de mel" que propiciou e justificou o abandono da agricultura por parte de muita gente que trabalhava o campo e que já produzia o que agora se admira.

Nestas alturas, alguns políticos deveriam apresentar as devidas desculpa a Portugal pelo mau serviço que prestaram aos consumidores, quando encaminharam milhões de contos e de euros para o encerramento de muitas explorações agrícolas, para o derrube de milhares e milhares de árvores entre olivais e vinhas, transformando uma terra rica e próspera em pousios e matos que para pouco ou nada serviram, nem sequer para alimentar manadas, rebanhos e varas de tudo e mais alguma coisa de interesse para os consumidores.

Nestas alturas, alguém poderá dizer que se compraram muitos "montes" e jipes todo terreno para circularem nas ruas e avenidas de Lisboa e arredores com o dinheiro que chovia lá dos lados da Europa.

Nestas alturas, alguém poderia citar parte daqueles que foram responsáveis pelo desmantelamento da agricultura e das pescas em Portugal para que ninguém esqueça os prejuízos causados à economia portuguesa pelo dinheiro fácil que circulava pelo poder político que o distribuía a seu belo prazer, facilitando a importação de produtos estrangeiros e sacrificando a população portuguesa que se viu obrigada a abandonar os campos e a refugiar-se nas cidades à procura de uma vida melhor.

Nestas alturas, ouvimos de novo o chamamento da terra e alguns, ainda poucos, estão a dar a devida lição a quem correu com eles a troco de umas míseras moedas…


 

22.2.13

Não é pirueta

Nem sei como se arranja tema para escrever qualquer coisa todos os dias, se o que está a acontecer com a situação política, económica, social e financeira do burgo, se dermos crédito ao que se começa a dizer por aí: que não há pirueta coisa nenhuma, pois estava tudo previsto desde o início.

Uma afirmação de espantar os mais distraídos proveniente de um jovem político das bandas dos partidos do governo, feito jovem deputado e aspirante a presidente de câmara, deixando o seu lugar a outro jovem que está na berra para mamar da teta do orçamento.

Eu até posso admitir que estava tudo previsto pelo que não se trata de dar o dito pelo não dito, mas sim de demonstrar que as previsões erradas de todas as previsões erradas já estavam previstas desde o início.

É assim mesmo; eu gosto disto.

Se as derrapagens no défice, se as derrapagens na receita fiscal, se as derrapagens no ajustamento, se as derrapagens da economia, se as derrapagens do emprego já estavam previstas como estão a acontecer, então estamos perante não de uns governantes sérios e honestos e trabalhadores, mas na presença de uns simples aldrabões e mentirosos que não merecem qualquer respeito e qualquer credibilidade.

Se tudo isto está a acontecer como previsto desde o início, já nos poderiam dizer o que está previsto para o ano de dois mil e treze e ainda não disseram e o que está previsto para os anos seguintes que não sejam mentiras descaradas, provenientes de batoteiros que nos estão a ocultar as coisas boas que nos esperam logo que sejam postos no olho da rua a pontapé no traseiro para não magoar demasiado a cabeça de cada um, pois alguém ainda espera muito deles…

Só nos faltava mais esta: para além de vampiros sociais que desempenhavam às mil maravilhas as suas funções no processo de entrar nos bolsos dos contribuintes, ainda temos que conviver com estes mentirosos e aldrabões por nos andarem a pregar patranhas com estas previsões idiotas que já estavam previstas desde o início.

Amanhã, quando vier aí outra previsão a corrigir a anterior previsão, ficaremos a saber que esta revisão da previsão já estava prevista desde o início, sendo que tudo o que se vinha dizendo sobre a recuperação da economia e fim do ajustamento, não passava de um palavreado oco e maltrapilho com o objetivo de ocultar a verdadeira previsão que já está prevista desde o início.

Por enquanto vamos ter que nos contentar com estas previsões de periodicidade muito curta, porque não temos o direito de saber o que verdadeiramente está previsto desde o início.

A não ser que o jovem político e candidato a autarca, na qualidade de presidente de câmara e não de uma junta de freguesia qualquer mesmo que seja união de freguesias, conforme denominação relvada, se digne informar os seus súbditos o que está previsto desde o início, não dos tempos, mas deste governo…

21.2.13

Uma côdea de pão

Não sei qual seja a influência no crescimento da economia portuguesa resultante da venda da ana, mas o tal importante estava tão contente que, de certeza, não lhe cabia um feijão no olho do cu.

Por mim, salvaguardando a relevo para este governo e para este ministro das finanças do encaixe destes milhões no orçamento, estou convencido que os benefícios para o crescimento da economia são totalmente nulos e com efeitos nefastos na receita fiscal e no rendimento dos capitais públicos que se vêm privados do contributo das poucas empresas portuguesas de boa saúde e realmente invejadas pelos capitais estrangeiros.

Mas esta gente deita os foguetes e faz a festa, quando deveriam estar a lamentar a necessidade da venda da empresa gestora dos aeroportos portugueses totalmente portuguesa e que agora o vai deixar de ser por uns milhões que vão servir para pouco mais que não seja para tapar uns buracos do défice e para pagar uns quantos milhões de juros devidos pela dívida pública, uma vez que estaremos longe de uma pequena contribuição para a diminuição das nossas dívidas.

Era a joia da república, mas deixou de o ser por obra e graça destes serviçais do capital em cumprimento do seu plano estratégico de recolocar este país ao nível do que se passava há mais de dez anos no que respeita ao nível de desenvolvimento económico, do estado social, dos salários e das pensões, porque se trata pura e simplesmente de iniciar uma nova etapa onde os portugueses estejam mais pobres cerca de quarenta por cento do que se verificava em dois mil e oito.

Demos graças aos deuses por nos oferecerem esta gente que tem objetivos bem definidos para colocar o pessoal a rastejar como cães à procura de uma côdea de pão que caia da mesa opulenta da senhora europa, a quem servem abnegadamente com a esperança e a convicção de que serão, em tempo oportuno, devidamente recompensados.

O capital não esquece os seus e dará sempre uma oportunidade de recompensa pelos bons serviços que lhe prestarem independentemente das condições e circunstâncias, porque nem todos se prestam a estes serviços de dependentes e de escravos, embora com as carteiras recheadas.

Um dia virá em que alguém terá a ousadia de falar de homenagens e de condecorações a estes senhores que agora nos estão levar para o fundo do precipício, como se tivessem prestado um grande serviço à nação, quando nos roubaram as melhores empresas, vendidas ao desbarato, nos liquidaram a economia colocando-a abaixo do nível de zero, nos espoliaram os salários e as pensões e reduziram a menos que nada a capacidade de intervenção do estado na definição das nossas políticas e dos nossos objetivos para servir os interesses do Povo e da Nação mais antiga da Europa.

Espero bem que nessa altura também alguém se lembre que a malfeitores não se dão medalhas nem se lhes reconhece qualquer mérito…

Lembremo-nos apenas e tão só do mal que nos fizeram.

20.2.13

O quintal e o adubo

O merdas, mascarado de sacristão beato e falante qual opusdei, falhou mais uma previsão, o que se fica a dever às dificuldades na Europa, como se ele não fosse o seu mandatário cá no burgo e pudesse lavar as suas mãos e ilibar-se de toda e qualquer responsabilidade da porcaria que está a fazer.

Depois, qual mal-agradecido, atira as culpas para os outros países com quem ele anda de mão dada para estoirar a economia dos tugas.

É bem feito. Quem nomeia para este cargo de alto gabarito uma pessoa destas e dela espera que contribua afirmativamente para a recuperação da economia, do equilíbrio das contas públicas e do défice, devia estar com a cabeça muito pouco equilibrada tal era o peso que assentava entre os ombros, que fazia torcer toda a espinhela…

Está para vir o dia em que este homem acerte com alguma precisão numa previsão que faça a qualquer distância temporal. Na altura da aprovação do orçamento de estado para dois mil e treze a previsão do índice do desemprego era um, passados pouco mais dois meses, já é outro bem diferente. Na mesma data atira com um número sobre a recessão, que agora já foi por água abaixo subindo para o dobro, mas a coisa não está mal, porque quase no mesmo dia foi aos mercados endividar-se um pouco mais e a procura foi muito superior que a oferta, embora a taxa de juros pouco tenha mudado.

Claro que os nossos credores esperam que o seu lacaio continue a colocar dívida pública nos mercados, tão só porque os mercados têm muito dinheiro e não sabem o que fazer dele a não ser explorar governos como o instalado em Lisboa, tendo, ainda por cima, a quase certeza que daqui a algum tempo, pouco, sejam convidados a investir mais uns milhões na dívida pública portuguesa.

Entretanto, vamos sendo alertados para a austeridade que se aproxima, como se a que está em vigor ainda não bastasse para encher de fúria muitos dos que se atrevem a chatear governantes e a coartar a sua liberdade de expressão, configurando o nascimento de uma ditadura e a privação de direitos e liberdades dos que mandam e governam por parte da escumalha de governados que se vão lembrando de apupar quem os anda a aldrabar todos os dias por diversas vezes sem que se perspetive qualquer proveito.

O pessoal anda a acordar da letargia em que se tinha deixado levar pelo cântico da esperança numa vida melhor depois de sanadas as maleitas e doenças e desgraças do setor público, principalmente os funcionários públicos, os pensionistas e os aposentados, isto é, todos os que vivem por conta do orçamento, como se não tivessem passado uma vida de trabalho a entregar ao estado parte dos seus rendimentos para garantir a dignidade dos últimos anos de vida.

Agora, aparecem do nevoeiro uns tipos todos janotas e bem falantes que não sabem governar nem têm jeito para tal e desatam a fazer merda por todo o lado que está a atolar o Zé Povinho, como se isto mais não fosse que um quintal destinado à produção de adubo para fertilizar os campos da Europa…

19.2.13

Língua de palmo

Já estava convencido que o gasparzito tinha dado a todos os contribuintes portugueses, principalmente aos funcionários públicos e aos aposentados e reformados, uma valente traulitada com moca de rio maior para todo o ano de dois mil e treze, mas nunca pensei que fosse tão violenta.

Não esperava que de uma coisa daquelas pudesse sair medida de atirar para as urtigas uma boa quantidade de direitos que muitos demoraram uma vida inteira a conquistar para depois um funcionarizeco europeu se estivesse a marimbar para todos e se colocasse ao serviço de agiotas.

Ninguém notou nada nas pensões e nos salários processados no mês de janeiro, mas agora veio tudo de enxurrada qual vendaval fazendo com que muitos de nós ficássemos a olhar incrédulos para o depósito na conta bancária ou para o recibo de vencimentos.

É obra!

A primeira coisa que me veio à cabeça foi que se tratava de outra conta bancária que não a minha quando me entrou pelos olhos dentro o montante do depósito efetuado pela caixa geral de aposentações e referente ao mês de fevereiro.

Nem queria acreditar no que os meus olhos viam e tive o cuidado de verificar se era mesmo a minha conta bancária ou se uma outra qualquer que não me dizia respeito. Não estava enganado. Era mesma a minha.

Lembrei-me daquela famosa expressão do gasparzito quando deu a conhecer o que nos ia acontecer durante o ano de dois mil e treze: "um enorme aumento de impostos".

Comecei a imaginar coisas que deveriam acontece a este sacripantas de meia tigela, mas logo tomei consciência que a coisa deveria ser estendida a todos os que colaboraram nesta trama e neste roubo à mão desarmada e com todas as leis a protegê-los, a não ser que os juízes do tribunal constitucional recebam também a mesma prenda e constatem e decretem que em Portugal a constituição não permite nem aceita o roubo descarado do que se demorou uma vida a ganhar e a conquistar, não podendo ser considerado uma dádiva ou um benefício do estado social, reformado ou não reformado por estes pulhas e por estes aldrabões sem categoria e incompetentes.

Fiquei revoltado, pois só agora me dei conta da gravidade das medidas fiscais constantes do orçamento de dois mil e treze, esperando agora que o tribunal constitucional diga a estes rapazes que isto ainda não é uma república das bananas, onde os problemas se resolvem com o aumento descarado dos impostos com o assalto e saque do bolso do povo desgraçado e sem defesa.

Eu nada posso fazer a não ser deixar aqui o meu mais violento protesto e a minha indiganação contra esta cambada que nos governa desejando a todos a utilização de um bom detergente ou sabão macaco para lavar a podridão da sua consciência política.

Não sei quando… mas eles vão pagar com língua de palmo…

16.2.13

Um pequeno desvio

Estou muito contente pela satisfação do governo demonstrada nos comentários aos desvios das previsões da recessão e do desemprego: para nós, cidadãos ignorantes, o falhanço das previsões do governo é mais um erro de avaliação e de análise do estado do estado, tornando-se evidente que a economia vai de mal a pior e nem as exportações tapam a desgraça.

Para eles, os governantes e os inteligentes dos partidos do governo, trata-se de uma pequeno desvio relativamente aos valores previstos e até, bem vistas as coisas, as diferenças verificadas nem sequer são assim muito significativas.

Estas duas visões, as do povo e as do governo, demonstram claramente que o pessoal que faz parte do povo continua com as suas capacidades de aguentar tudo isto suficientemente intactas para que o governo esteja certo e seguro que as quedas da receita, os erros de previsão, o aumento dos impostos, o corte dos benefícios sociais, o roubo dos salários, a apropriação indevida das pensões ainda são perfeitamente suportadas pelos tontos que vivem o dia-a-dia com a corda na garganta e com o estômago a dar horas ou confiantes que esta cambada vá à sua vida muito rapidamente, mesmo que os outros não nos garantam qualquer certeza de dias melhores.

Mas pelo menos não temos que ver quase todos os dias esta gente com cara de pau e falinhas mansas a fazer de todos nós os bombos da festa como se a nossa cabeça contivesse apenas serradura molhada, quando eles, os governantes e quejandos, beneficiam da inteligência superior dada e conferida aos eleitos dos deuses.

É preciso ter lata e muito pouca vergonha para aparecer continuamente a mandar postas de pescada acompanhadas daquelas tiradas de pregador a anunciar a aproximação do juízo final, como se as conversas balofas, qual balão de ar aquecido, servissem para nos convencer que a crise está a sofrer uma tal derrota imposta pela atual política económica que já não vai resistir por mais seis meses.

Aguardemos, pois, que o inverno do nosso descontentamento está para terminar, dando lugar a um período de crescimento e aumento do número de ricos e do número de pobres, ficando a classe média a ver as ondas do mar e a caravana passar e os burros a urrar e os governantes a fingir que governam, muito satisfeitos com os seus atos ao serviço da nação.

Muitos de nós, que pagamos e não temos possibilidade de gozar com estes espoliadores, gatunos e aldrabões, vamos continuar a pagar todos estes desvarios sem qualquer convicção de que o nosso sofrimento e o nosso dinheiro, roubado desta maneira, sirvam para alguma coisa com utilidade para a salvação do país.

Alguma coisa se há de "safar".

Que não sejam eles.

Porque não merecem.

15.2.13

A fatura e o juízo

Não concordo totalmente com aquela do escritor e ex-secretário de estado da cultura de mandar um outro secretário de estado a "tomar no cu" a propósito da obrigação dos consumidores andarem com faturas pelas pastilhas elásticas que comprem em qualquer lugar onde essas ditas estejam à venda.

Para além de não ser habitual juntar o verbo "tomar" a essa ação, parece-me também que peca por ser um pouco ordinária, quando em português vernáculo estaria muito mais apropriada por muito mais elegante e cultural a utilização da expressão "levar na peida" por se tratar de uma região muito mais alargada, permitindo muito mais criatividade e se quiserem muito mais empreendedorismo.

Mas como o homem é escritor e foi secretário de estado da cultura, levando-me a acreditar que se trata de um apoiante do novo acordo ortográfico, ninguém leva a mal que utilize de vez em quando uma expressão muito mais brasileira que portuguesa.

Para reforçar a minha ideia, já não exijo que os inteligentes da emissão das faturas para combater a economia paralela sejam mandados "levar na peida", mas acrescentaria o que lá na minha terra se faz acompanhar a dita "… que é um descanso e com rabo de porco com o pelo cortado de dois dias…" não haveria inteligente que se lembrasse de tamanha idiotice e muito menos que se lembrasse de colocá-la em prática, à maneira da pide de outros tempos.

Eu bem sei que os tempos são outros, que a carga fiscal pesa muito mais, que a fuga aos impostos é dever de todo o cidadão contribuinte, que o capital tem os paraísos fiscais, que os empresários só utilizam o dinheiro que não é deles para fazerem os seus negócios, que a receita do estado diminui na proporção da subida dos impostos, que o "mister bean" é o manda chuva da troika, que… muitas coisas mais… como os gastos dos gabinetes dos membros do governo e dos restaurantes e bares do parlamento…

Mas tudo isso não chega para justificar a ordinarice do escritor e ex-secretário de estado da cultura, uma vez que deixa de fora muito boa gente bem mais responsável     que o desgraçado que se lembrou da "foleirice" das faturas.

Contudo, não vou deixar de cumprir e levar à risca esta história de pedir e "levar" comigo todas as faturas referentes a todo e qualquer produto que seja por mim adquirido em qualquer local, independentemente do produto e da atividade a que diga respeito.

Isto é para levar a sério, porque não estou para ser multado por um qualquer fiscal por causa da compra de uma pastilha elástica, tanto mais que não custa nada e não pagamos impostos por transportar um grama ou um quilo de faturas, para descanso do nosso glorioso governo.

Fiquei pasmado e de boca aberta quando pedi a fatura da bica e o empregado que me atendeu coloca-me na frente uma quantidade delas e diz-me com toda a calma do mundo: "amigo, escolha a que quiser, são todas do dia de hoje…mas não me foda o juízo".

 

5.2.13

A regulação da idoneidade

Gostava muito de perceber por que carga de água alguém se lembra de questionar a idoneidade de um banqueiro para ser o manda chuva de um banco, sendo tanto mais estranho quando se trata de ser o manda chuva do seu próprio banco, isto é, do banco onde sempre esteve e onde fez fortuna, aqui no burgo e em outros burgos semelhantes, mas muito mais refinados.

Houve enganos na declaração de rendimentos, de que resultaram várias emendas, mas emendas para pagar mais uns quantos milhões devidos ao fisco?

Então um contribuinte que emenda a sua declaração de rendimentos para pagar mais impostos em montantes que se podem considerar astronómicos para a grande maioria dos contribuintes portugueses levanta suspeitas de não ser idóneo para governar um banco?

Esta gente deve andar com uns copitos a mais e dá a entender que as preocupações dos seus cargos são de tão pouca importância e sem qualquer relevo para os interesses dos País que se dá ao luxo de minar a confiança que milhares de depositantes e milhares (?) de acionistas depositam num homem com uma carreira a todos os títulos inquestionável e duvidar se reúne as condições éticas e morais para dirigir um banco.     

Esta gente não deve sofrer nem sentir minimamente a crise que vai destroçando as pessoas e as instituições para orientarem as suas preocupações no sentido da substituição de interesses nacionais por questiúnculas particulares, como se a salvação da economia e a saída da crise e a ida aos mercados dependesse da idoneidade de um banqueiro que ganha milhões e dá também milhões a ganhar a alguma boa gente.

Quantos contribuintes haverá por aí que alteram a sua declaração de rendimentos porque se esqueceram de incluir umas guitas esquecidas no fundo da gaveta, à semelhança dos milhões circulantes na economia paralela?

Estes é que deveriam ver questionada a sua idoneidade para serem contribuintes, continuando o fisco a aceitar as suas declarações de rendimentos, sabendo, à partida e com uma razoável certeza, que não correspondem à realidade.

Seria de esperar que o regulador da economia paralela ou todos os que se pronunciam sobre a mesma de tempos a tempos afirmando-se que não anda muito de cerca dos trinta por cento do pib tivessem a ousadia, a força e o poder para declarar que esta malta não pode ser considerada, com a estima devida, um verdadeiro "contribuinte", pelo que deveria ser colocado fora do sistema, por indecente e má figura.

Agora que a idoneidade já não está questionada e já não há dúvidas que a declaração de rendimentos já não vai ter mais alterações, pode perguntar-se com alguma razoabilidade se o problema terá sido bem ou mal colocado.

Afinal de contas, ficou provado que a regulação funciona…


 


 

3.2.13

Vamos aguentar

É um porco; é um javardo; é um cretino; é um imbecil; é um sem vergonha, mas não é um sem-abrigo.

Vive lá no alto do seu trono de papel, senta-se lá na sua cadeira do poder, lida com o património dos outros, vive à custa da usura praticada, protege-se à sombra da bananeira da dívida pública, explora quem pouco tem, abusa de quem nele confia, mas este vive na rua sem se preocupar sequer com o que se passa mesmo à sua volta, tão-somente porque já nada espera da vida que tudo lhe roubou, talvez até a dignidade e o desejo de viver.

Mas aguenta, porque já nada tem a perder e nada lhe resta para sentir-lhe a falta no dado momento, como o dia seguinte ou o mês seguinte quando a empresa ou o seu posto de trabalho desaparece como por encanto.

Mas aguenta porque já não tem preocupações sobre a perda do salário, sobre a quebra dos seus rendimentos e o aumento das suas responsabilidades.

Mas aguenta porque não está à espera meses e meses de uma consulta médica, de uma intervenção cirúrgica, de ir à farmácia buscar medicamentos sem dinheiro.

Mas aguenta porque já não se preocupa pelas dívidas das empresas públicas, pelas dívidas das empresas privadas, pelas dívidas do estado e até pelas dívidas de quem quer que seja.

Mas aguenta porque nada disso lhe diz respeito e muito menos respeito lhe diz se os lucros aumentaram, se os lucros diminuíram, se houve fugas aos impostos, se os bancos vivem à custa do estado e da dívida pública e são alimentados pelas influências dos poderosos e pelos depósitos mal remunerados de quem ainda tem um posto de trabalho e uma pensão.

Mas aguenta porque se está nas tintas se um idiota qualquer por mais dinheiro e poder que tenha se lembra de mandar umas bocas foleiras à margem de qualquer bom senso e do respeito pelas pessoas, como se tivesse o direito de fazer comparações completamente absurdas.

Mas aguenta porque já não tem preocupações pelas tendências dos mercados financeiros, pelos ganhos e pelas perdas dos jogos de capitais.

Mas aguenta porque o seu modo de vida e a sua atitude social já nada tem a ver com a existência ricos e de podres, de exploradores e de explorados, de empregados ou de desempregados, de ativos ou de reformados, de recatados e de sem vergonhas.

Mas aguenta porque já não se ofende com este tipo de desvarios saídos de bocas saciadas de tudo e de mais alguma coisa e de carteiras bem recheadas, de depósitos aqui e além-mar em qualquer offshore sem controlo e no maior dos segredos.

Mas aguenta porque gente deste tipo, que não vale um tostão furado, não merece uma bufa seca e nem é digno de um peido falhado, não tem personalidade suficiente para ofender um sem-abrigo.