15.8.21

Um mimo

 Durante as transmissões televisivas de qualquer desporto e quando os comentários nada adiantam sobre o desenrolar da competição e se reduzem a lugares comuns ou quando a conversa não tem motivos de interesse e nada adianta ao meu conhecimento, utilizo a prerrogativa da posse do comando que se limita a cortar-lhes o pio e ouvir o silêncio das imagens.
Isto sucede com frequência pelo que, de vez em quando ou de quando em vez, tenho a oportunidade de ser presenteado com mimos que me deixam de boca aberta enquanto não decifro o respectivo código.
Foi o caso de ontem que me proporcionou o comentador jornalista da rtp ao referir que a etapa estava a ser corrida baixo um "calor sobrenatural"...
Fiquei a matutar sobre o eventual significado da dita expressão "calor sobrenatural" não conseguindo imaginar o que se queria dizer com tal coisa...
Será que as chamas do inferno podem ser consideradas "calor sobrenatural", mesmo desculpando o que vulgarmente se entende como "sobrenatural"?
Será que lá no assento etéreo onde se sentam os nossos antepassados e onde todos nós nos sentaremos em devido tempo o calor é "sobrenatural" e não natural adequado à situação de paz eterna com a protecção dos anjos e dos arcanjos...?
Mas não tudo..
Ontem, quando os ciclistas estavam prestes a iniciar a subida do monte farinha no auge da emoção desportiva propiciada pelo envolvimento na corrida o tal comentador jornalista da rtp atira aos quatro ventos uma outra expressão com a qual eu fiquei literalmente "banzado?": uma "subida vertiginosa"...
Santa Maria Nossas Senhora da Graça: se fosse ao contrário, isto é, se fosse a descer eu teria entendido perfeitamente o significado subjacente à expressão "descida vertiginosa" porque a velocidade sereia mais que muita, próxima da velocidade da luz.. mas considerar "vertiginosa" uma velocidade a rondar os vinte quilómetros por hora nem com muito boa vontade...
São os mimos do directo...
Bendita a língua que tais desditas permite... e ainda por cima na "nossa rtp" e no "serviço público" de televisão...

13.8.21

Também

 Para quem não tem tempo, ou melhor, para quem tem o tempo todo ocupado nada restando para qualquer outra coisa, arranjar uns minutos para escrever umas quantas linhas a propósito do que quer que seja, é uma aventura dos diabos. 
É o que sucede comigo: o meu tempo é totalmente ocupado em nada fazer a não o que tenho de fazer para responder à vida que me deram e perante a qual tenho que responder convenientemente. Isto é, conservá-la pelo tempo que me for dado.
Contudo, de vez em quando, um amigo meu dizia sempre " de quando em vez ", e quando assumo o comando do comando deparo-me com coisas que me chamam a atenção e pedem-me umas palavras.
Não daquelas palavras pedidas pelos jornalistas de microfone tipo "como se sente" depois uma vitória do benfica, mas umas palavras escritas a condizer com o tema e que venham a propósito.
Estava eu ocupando o meu tempo vendo e ouvindo a transmissão da volta ciclista a Portugal e a volta à Dinamarca na mesma modalidade.
Ouvindo o comentador ex-ciclista da rtp e o seu ajudante interlocutor jornalista a atirarem-me para os ouvidos a palavra "também" a propósito e a despropósito com uma frequência tal que feria os meus ouvidos, lembrei-me de escutar o comentador do "eurosport" para comparar a frequência do "também".
Conclusão: durante aqueles longos minutos da minha observação a tal palavra nunca  foi ouvida lá para as bandas da Dinamarca enquanto que lá no alto da serra do larouco as vezes eram mais que muitas.
Será que aquele pessoal não se dá conta que a coisa ofende as mais elementares regras gramaticais para além de darem uma estranha sonorização à frase que lhes deveria chamar a atenção.
Porque uma coisa é dizer "eu também gosto da coisa" e outra é "eu gosto também da coisa"!!!
Dito "eu também gosto da coisa" significa pura e simplesmente que eu gosto da coisa e dito " eu gosto também da coisa" dá-me a entender que eu gosto de mais qualquer coisa... sendo que num caso o importante é o verbo e no outro a coisa...
Ao fim e ao cabo, não deixa de ser verdade...
Mas há verbos, advérbios, adjectivos, substantivos, pronomes e etc. com a sua função específica e objectiva
Também... para os comentadores e jornalistas...