31.7.13

O novo ciclo

Tenho deixado passar em branco montanhas de oportunidades para realçar o que houve de melhor na nossa tristinha vida de lusos maltratados pela grande maioria dos nossos políticos.

Mas a vida tem destas coisas: quando se tem pela frente muita coisa para fazer e para ver e para sentir somos tentados a esquecer que devemos à nossa consciência a obrigação de referir o que houve ou há de importante e que merece a nossa atenção no dia-a-dia da vida social e política da nossa terra.

Esquecer isto, mesmo que voluntariamente, é esquecer o dever de estarmos atentos ao que se passa à nossa volta e que é digno e merecedor de umas linhas, mesmo que sejam desta natureza.

O dever de cidadania não se fica só pela necessidade de exigirmos o cumprimento dos nossos direitos de cidadãos, mas também e principalmente a obrigação de prestarmos a devida atenção aos acontecimentos que podem influenciar a vida de cada um bem como a nossa vida coletiva de país e de nação que ainda continuamos a ser.

O dever de cidadania também passa pela referência a tudo o que represente um desvio do que deveria ser o caminho percorrido e a percorrer por todos nós, principalmente por aqueles que que se arvoram a condição e estatuto de representantes e governantes do POVO.

Sinto-me no dever e na obrigação de confessar aqui que a ausência de quaisquer comentários à grande parte dos acontecimentos relevantes que ocorreram nesta terra no decorrer dos últimos trinta dias se fica pela profunda tristeza sentida perante o espetáculo que nos foi dado observar e que teve como protagonistas os nossos governantes mais importantes.

Foi um erro tentar esquecer-me de tudo o que aconteceu?

Terá sido, mas ao mesmo tempo foi uma oportunidade de aliviar a cabeça e deixar que o tempo resolvesse e limpasse toda a porcaria que aconteceu.

Dizem agora que entrámos num novo ciclo, esperando eu que esse novo ciclo tenha alguma duração e que dele não conste toda a javardice que ocorreu no anterior e principalmente que não haja tanta pouca vergonha como se viu nos últimos tempos.

Nós, os cidadãos que vivemos na dependência dos salários ou das pensões, temos o direito de esperar desta gente um pouco mais de dignidade, de ética, de honradez e de consciência ao serviço dos superiores interesses do POVO.

Dado que somos nós, os que temos salários e pensões, os pagadores da crise temos o direito de exigir um pouco mais de respeito de todos os que dispõem das nossas vidas como se de vidas de escravos e de servos gleba se tratasse, porque somos vilipendiados e ofendidos todos os dias que passam pela safadeza desta gente colocada no poleiro do poder.

Mas um dia isto vai mudar…

14.7.13

As imposições

Dizem por aí que o mediador para a negociação do acordo de salvação nacional já caiu.

Esperamos que isto não possa ser prenúncio da queda do acordo mesmo antes de se iniciarem as devidas negociações para o efeito.

Já agora, que muita gente se interessou e achou brilhante a tal ideia de acordo de compromisso, que não sendo coisa nova, foi a primeira vez que surgiu daquelas bandas, tenha o êxito que dele se espera e que não demore muito tempo, sob pena e risco de se esfumar nas brumas da memória.

A coisa não começou lá muito bem uma vez que foram enunciados uns princípios extremamente vagos e confusos e pouco tempo depois já o "primeiro?" queria impor o conteúdo para as negociações.

Esta coisa para resultar não pode começar desta maneira e as coisas não podem acontecer com a prevalência de uns sobre outros e todos deverão estar nas mesmas condições para discutir e assinar seja o que for.

Mesmo que todos os partidos estejam de rastos e a sua credibilidade bem como a dos seus líderes esteja abaixo de zero, não nos esqueçamos que os outros, os que pensam que dominam e mandam, estão da mesma maneira, dado que se tem constatado a sua incapacidade para resolver os problemas que vão surgindo.

Podem pensar tudo o que quiserem sobre a democracia, sobre o seu significado, mas todos sabemos e temos consciência que ela não existe sem os partidos políticos, muito embora haja por aí gente que arvora a necessidade de acabar com eles, talvez com a ideia de virem a criar outros, mais de acordo com os seus pensamentos e as suas ideias do que é ou deve ser um governo.

Mesmo que seja altamente desejável que o acordo torne uma realidade, é também uma realidade que não haverá acordo sem a participação dos partidos políticos atualmente existentes, mesmo que não mereçam a confiança dos portugueses que só têm uma maneira de o demonstrar, como sejam as eleições.

De qualquer modo nunca poderá haver acordo se à partida não se verificarem algumas condições e exigências de base para que se possa desenvolver um conjunto de ideias a concretizar em ações que mereçam a concordância de uma ampla maioria do POVO, manifestada através dos seus representantes, mesmo que não prestem para nada a não ser para receber o seu salário pelo compromisso assumido.

Por mim, só tem validade o acordo que acorde o que possa acontecer depois das próximas eleições e para vigorar pelo menos para uma legislatura inteira, condição indispensável para valer a pena o trabalho de alcançar um acordo.

Por outro lado, pensemos que o catual governo não pode ser parte com qualquer prevalência sobre as outras, pelo que a negociação deveria ser iniciada com um governo que não seja parte interessada no seu bom termo ou que seja suportado por um ou mais partidos concorrentes às próximas eleições, sejam elas antecipadas ou não.

Que não se comece com imposições…


 


 

12.7.13

As favas

Foi preciso uma explosão naquela "cabecinha pensadora" para que o grande salto em frente tivesse algum significado: faz-se de conta que o problema existente não se reveste de qualquer significado e importância para merecer uma resolução imediata e atira-se para a ribalta a proposta do compromisso de salvação nacional.

Para alguns, para aqueles que têm a possibilidade de se fazerem ouvir nos meios de informação, trata-se de uma ideia genial tão só porque desfere uma valente espadeirada no ventre de uma boa quantidade de líderes partidários, fazendo deles os bodes culpados do tudo o que de mau existe na sociedade portuguesa, havendo, claro está, a exclusão de alguns outros que se colocam a coberto do seu grande amor pelos destinos da Pátria.

Parece que ninguém se recorda que por diversas vezes e em diversas circunstâncias se falou da conveniência, da necessidade, da imprescindibilidade de um entendimento entre os partidos políticos para a realização de alguns projetos de interesse nacional.

Parece que ninguém se lembra das vezes em que se falou que importava haver discussões e reuniões e decisões com vista a um acordo de regime para dotar o País dos meios suficientes e necessários para levar a cabo algumas reformas de interesse nacional.

Parece que ninguém se lembra que todas as revisões constitucionais já verificadas careceram de discussões e acordos entre partidos políticos com assento na assembleia da república.

Parece que ninguém se lembra que por diversas vezes os partidos políticos foram chamados a discutir, a apreciar, a aprovar e a implementar algumas medidas que mereceram o respetivo acordo.

A explosão agora verificada que deu origem a esta proposta de compromisso para a salvação nacional mereceu o aplauso de alguma boa gente por razões que ainda não nos foram explicadas para além daquela de "entalar" os socialistas…, mas nunca foram ouvidas nas circunstâncias anteriores, porque não tiveram origem numa cabecinha pensadora.

Para mim, as únicas coisas novas que aparecem nesta proposta podem ser resumidas numas quantas palavras: por um lado é de médio prazo, não se sabendo a duração do prazo; por outro tem implícita a marcação de eleições antecipadas, mas não se sabe o que vem depois…

Entretanto, a bagunça continua e os juros da dívida pública não param de aumentar.

Parece haver uma coisa boa e de verdade no meio disto tudo: a importância dada às palavras de cada um depende do estatuto de cada qual.

Parece haver também uma certeza: toda a minha gente está de acordo com a necessidade do diálogo e toda a minha gente está disponível para o diálogo, mesmo que esse diálogo seja de surdos sem qualquer efeito sério que contribua para a solução não da crise do défice e do orçamento mas apenas para acabar com a crise política existente lá para os lados do governo, o que se torna imprescindível para iniciar os passos indispensáveis para enfrentar com dignidade e eficácia os problemas nacionais.

Entretanto, ainda não ouvi ninguém a culpar alguém pelas perdas na bolsa portuguesa e pela subida das taxas de juro da dívida.

Ainda o engenheiro acaba por pagar as favas…

10.7.13

O big bang

Todos aqueles que andaram a dizer alto e bom som que aquelas audiências, reuniões, encontros e audições eram uma perda de tempo e o que havia a fazer deveria ser feito de imediato, porque o não fazer significava uma perda de tempo que não seria recuperável, terão ficado de boca aberta com os resultados finais, conhecidos no princípio da noite numa longa e profunda comunicação aos portugueses.

Agora resta a esta gente calar o bico e reconhecer que os portugueses só ganharam com estes dez dias de loucuras políticas que a todos preocupou, principalmente todos aqueles que não acreditavam na capacidade de manobra dos decisores e muito menos a possibilidade de apresentação de uma solução para a crise política iniciada com a saída de um ministro e as ameaças de outro.

Andaram enganados!!!

Depois de muito pensar, depois de muito esforço intelectual para entender muito claramente a profundidade dos problemas e das soluções adequadas, ocorreu o inevitável: deu-se o "big bang" naquela cabeça pensadora, de que resultou a monumental proposta de salvação nacional, coisa que nunca poderia ter ocorrido a mais ninguém nem antes de depois, mas agora que deixou de haver crise pois o governo encontra-se na plenitude das suas capacidades.

Saiu um ministro? Foi substituído, como é natural.

Um ministro apresentou a sua demissão? Não é aceite e continua em funções, como se nada tivesse acontecido.

Ficámos a saber que a melhor maneira de resolver uma crise política é não admitir a sua existência e evitar dizer uma única palavra sobre a sua natureza e sobre as suas consequências.

Determina-se que não há crise; determina-se que não há eleições antecipadas; determina-se que os partidos políticos subscritores do memorandum têm que se entender num compromisso de médio e longo prazo no prazo de um ano; determina-se que as divergências não têm lugar neste Portugal dos portugueses; determina-se… ou melhor, aquela cabeça pensadora determinou e tudo o mais fica determinado.

Porquê agora e não antes e não depois?

Determina-se que as perguntas fazem mal à saúde…


 

PS. Na minha última nota sugeria que o Júlio de Matos e o Miguel Bombarda deveriam entrar de prevenção.

Estou agora convencido que não há necessidade: as grandes ideias andam por aí e precisam de espaço para frutificarem…

2.7.13

E vai outro

Os meios de informação áudio e audiovisuais estão a cometer um monumental erro de análise da política portuguesa dos últimos dias: foram chamados todos os comentadores, todos os analistas, todos os especialistas, todos os políticos e mais uns quantos indivíduos mal identificados para dizerem da sua justiça sobre o que nos está a acontecer.

Não houve gato-pingado que não fosse chamado a explicar o que aconteceu, por que é que aconteceu, o que vai acontecer, quais foram as causas, quais são os efeitos, quais serão as consequências, se isto, se aquilo, se o presidente, se o primeiro, se o segundo, se o terceiro e se o último já disseram a sua última palavra.

Toda a minha gente teve oportunidade de mandar as suas bocas mais ou menos esperadas e segundo a lógica da situação, poucos se atrevendo a afirmar que esta coisa vai continuar na mesma como se a crise já estivesse a passar.

De muitos ouvi palavras sensatas e cordatas e o que é de mais interessante é que apenas dois, isto é, dois importantes políticos altamente responsáveis por tudo o que nos está a acontecer, continuam a sacudir a água do capote, convencidos que o importante não está nas suas mãos: um a afirmar que não é nada com ele e que não lhe podem pedir que faça o que é obrigação fazer dos outros e o outro a afirmar que não abandona o seu PAÍS, recordando-nos aqueles outros que assim o fizeram.

Não haverá muitos portugueses que estejam plenamente conscientes e cientes do que nos aconteceu e do que nos vai acontecer nos próximos tempos: por mim reconheço que não entendo o comportamento desta cambada toda, independentemente de pensar que já deveriam ter sido corridos à porrada por feias e más ações praticadas contra os portugueses.

O que é que passou pela cabeça desta gente para deixar que estas coisas pudessem ocorrer mesmo que se trate de um País com uma população que ainda tem capacidade para aguentar tantos desvarios?

O que passou pela cabeça desta gente a quem faltou o mais elementar bom senso para se deixar enredar numa teia de tamanha envergadura que torna impossível reverter a situação?

Que é feito do sentido de responsabilidade para que estes homens a quem foi dado o poder de governar um POVO nobre digno se estejam a comportar como miúdos do pré-escolar para os quais o seu berlinde é mais redondo que o dos outros?

Que dizer daquela tomada de posse de uma ministra e de cinco (quatro?) secretários de estado, devidamente empossados pelo presidente da república quando já se sabia que outro ministro apresentara a sua demissão?

Na verdade, só pode ser entendida como uma palhaçada…

Para tentar evitar tal monumental erro de análise, os meios de informação áudio e audiovisuais deveriam ter convidado os psicólogos e os psiquiatras e colocar de prevenção o Miguel Bombarda e o Júlio de Matos…


 


 

1.7.13

A demissão

Andava o pessoal plenamente convencido que o pontapé no rabo do gasparzito só iria ocorrer lá para o meio do próximo ano e depois de a troika despachar as malas nos respetivos aviões, mas eis que senão quando os meios de comunicação eram inundados com a notícia da demissão do homem mais poderoso de Portugal e que mandava em tudo e em todos sem dar cavaco ao próprio cavaco.

Todos os meus queridíssimos e estimadíssimos comentadores devem ter ficado de boca aberta sem capacidade de resposta para notícia tão inusitada e tão repentina que nenhum deles foi capaz de prever tal ocorrência em todos os comentadores dos últimos três dias, que não foram poucos.

Nem sequer o marcelo, nem o pacheco, nem o tavares, nem o anterior, nem o posterior, nem o pequeno, nem o grande, nem o da esquerda, nem o da direita, nem o do centro nem sequer o marques mendes tiveram a chispa ardente de prever a demissão do gasparzito para segunda-feira, dia um de julho do ano da graça de dois mil e treze.

Toda esta gente terá ficado com as orelhas a arder, porque foram incapazes de pensar numa coisa destas, à semelhança das previsões do gasparzito que nunca deram certas, nem sequer a data da sua demissão.

Terá havida muita gente que suspirou de alívio por se ver livre de tão triste figura e mais aliviados ficaram quando se chegou a anunciar que o substituto seria o homem que ultimamente nos tem tratado da saúde a contento de muita gente, mas foi sol de pouca dura porque rapidamente esta informação foi dada como falsa, tanto mais que se anunciava a verdadeira: as nossas finanças vão continuar nas mãos de quem nos tem tratado tão bem, uma vez que se trata da pessoa que negociou os únicos contratos "swaps" que deram ganhos às respetivas empresas.

Espero agora que o homem vá em paz, mas que não se esqueça tão depressa da porcaria que fez durante estes dois anos, do roubo à descarada às carteiras dos contribuintes, tendo eu agora a devida oportunidade para o lembrar que não se esqueça também de se ir inscrever no desemprego no centro mais próximo, tendo a dignidade de experimentar, por uma única vez, a realidade deste Portugal, por ele transformado numa imensa coutada dos seus patrões.

Não sei se alguém vai ter saudades ou até se se lembrará desta figura austera e ridícula que se transformou muito rapidamente no ministro mais odiado pela oposição e pela grande maioria dos apoiantes do governo de que fez parte como ministro das finanças, ou ministro de "arrebenta bilhas".

Daqui a alguns anos, alguns de nós lembraremos este ministro como o ministro de nos fez reviver o almirante tomás, com aquela tirada que continua famosa: " esta é a primeira vez que aqui estou desde a última vez que aqui estive".

Alguém poderá calcular a diferença existente entre a frase atribuída ao almirante caquético e esta outra proferida pelo respeitadíssimo gasparzito "…o ano de dois mil e quinze é o ano imediatamente subsequente ao ano de dois mil e catorze…" ?