12.1.17

A Homenagem

Sou dos muitos daqueles que consideram que as homenagens prestadas a Mário Soares por ocasião da sua partida para a última viagem foram justas, merecidas e adequadas.

Voltámos à rotina do dia a dia para ouvir mais uma vez o que já ouvimos centenas de vezes, para que a realidade do estado presente não se confunda com a memória da grandeza dos "nossos egrégios avós".
Foi uma homenagem onde não faltaram os lugares comuns proferidos a torto e a direito por aqueles que, de microfone na mão e sem teleponto, acompanharam minuto a minuto e em todos os canais de televisão as cerimónias fúnebres, parecendo, nalguns momentos, que se tratava de uma festa.
Ficaram de barriga cheia todos aqueles que têm poucas oportunidades no dia a dia de demonstrarem que sabem utilizar as pomposas e tónicas palavras de "também" e "então", mesmo que não venham a propósito.
Mas nunca tinha ouvido um tal repórter de microfone na mão e sem teleponto utilizar os tais advérbios devidamente unidos como se se tratasse de uma única palavra: "também então".
Deu-me vontade rir, mas somente expressei um "hoh..." de admiração porque fora a primeira vez a ouvir tal coisa.
Ainda mais empolgante que a utilização destes advérbios na rotina de jornalistas de microfone na mão sem teleponto foram as grandes e formidáveis e espectaculares entrevistas ao povo anónimo que nos foram brindadas durante quase três dias.
"O que é que sente..."; "donde veio..."; "que lhe parece..."; " o que está aqui a fazer..." "sabes quem é...", etc e tal.
Mimos, mimos e mimos, oferecidos gratuitamente...
Estejamos agradecidos pela qualidade, seja lá o que isto for...

11.1.17

O espírito

Quando disse ao meu neto de sete anos que ia aos Jerónimos despedir-me de um amigo, que tinha morrido, disse-me para dar um beijinho ao espírito dele, porque os espíritos não morrem.

Aqui vai o tal beijinho, do fundo do coração, camarada e amigo...

Vemo-nos por aí, um dia qualquer.

3.1.17

Mais desejos

Como se está numa maré de desejos e de votos, parece-me oportuno esperar que o ano de dois mil e dezassete me dê a oportunidade de ver e ouvir alguns programas de comentário político.
Não é que me encontre privado de ver e ouvir alguns dos especialistas, comentadores e politólogos a pronunciarem-se sobre o que se vai passando por aí.
Mas como ouvir opiniões diferentes ou semelhantes sobre os assuntos, temas e factos relevantes não faz mal a ninguém, não se pode condenar os programas de comentário político e desportivo que abundam nos nossos canais de televisão, pelo que entendo ser sempre bom ouvir aqueles que têm a oportunidade de se fazerem ouvir e  com isso, poder influenciar a opinião dos menos atentos e menos informados.
Estes são os meus desejos, quase sempre contrariados pelos comportamentos insólitos por parte daqueles que teriam a obrigação de tornar possível a audição das suas doutas palavras.
Poderiam fazer algum esforço para evitar as berrarias, as gritarias, as interrupções malcriadas dos seus parceiros, contribuindo para um relacionamento normal que deveria existir entre as pessoas, apesar das opiniões divergentes ou contrárias às suas.
Por vezes, torna-se quase impossível ouvir ou entender o que se diz dado o ruído produzido pela insubordinação dos ilustres comentadores.
Para além do mais, podemos pensar que se trata de rivalidades sérias e que estão mesmo zangados uns com os outros, mas se tivermos presente que são "trabalhadores" do mesmo ofício, facilmente chegamos à conclusão que se trata de um circo cheio de malabaristas, que, no fim do trabalho efectuado, vão jantar calmamente ao mesmo restaurante, todos juntos na mesma mesa.
Isto é bonito de se ver, porque ouvir e entender é difícil, principalmente nos programas de comentário futebolístico, onde os comportamentos de má educação são apanágio de uma boa quantidade de especialistas.
Como se trata de uma actividade onde os entendidos são aos milhões não vem grande mal ao mundo se ficarmos privados de ouvir e entender as opiniões de uns quantos, apesar de serem os melhores.
Há sempre uma possibilidade: tentar ouvir ou entender durante trinta segundos ou, no máximo, sessenta segundos e depois ir lá mais para a frente à procura de coisa menos ofensiva da boa educação.
Como não se trata de ética e de cultura, mas se trata de política e de futebol...
 

2.1.17

Os desejos

Aproveitando a época festiva de início de um novo ano, adequada à formulação de desejos, aqui vão alguns dos meus.
Vou, desde já, desejar que me saia o euromilhões. Contudo e apesar de ter de pagar uma fortuna milionária ao estado por dupla tributação, comprometo-me aqui e agora a não fazer qualquer plástica para parecer mais velho e, o que é mais importante, afirmo solenemente que vou instituir um prémio de montante a determinar  oportunamente mas nunca inferior ao maior prémio mensal dado pelos canais através daquele tal número mágico, suporte e bandeira dos programas da manhã e da tarde, programas que se destinam essencialmente a entreter o pessoal, contribuir para elevar o seu nível cultural e assegurar a paz social, de que tanto necessitamos.
Este prémio mensal destina-se a galardoar o jornalista, o comentador, o reporteiro, o politólogo, o transmissor de notícias não escritas e todos os que falam sem teleponto nas rádios e nas televisões que sejam capazes de passar uma semana inteira sem pronunciar as palavras "também" e "então".
Se tal acontecer, o ganhador ou os ganhadores deverão apresentar prova dos factos e reivindicar o tal prémio que será pago na hora sem dupla tributação.
Comprometo-me ainda a contratar com uma livraria ou editora a aquisição de tantas quantas as gramáticas portuguesas requisitadas por qualquer pessoa ligada de qualquer maneira à imprensa audiovisual para que a língua portuguesa seja tratada com alguma dignidade.
Estaria ainda disponível para financiar um " cursillo" de formação profissional a todos os que tentam ganhar a vida de microfone na mão.

No fim de contas, bem me podem chamar "amigo" por não incluir o " de que" e "amigo egoísta" por saber que o prémio não vai ser atribuído, pelo que estes meus desejos não passam de "boas intenções", das quais...

1.1.17

Ano Novo

Os canais portugueses de televisão deram o melhor de si e dos seus para entreterem o pessoal durante as últimas horas de dois mil e dezasseis e as primeiras de dois mil e dezassete.
Nunca me tinha apercebido do esmero, do esforço e do interesse que merecíamos por parte daquela gente que se dedica a tornar a nossa vida menos infeliz e mais interessante.
A minha alma esteve parva durante as horas que dediquei com unhas e dentes a deambular pelos canais televisivos na esperança de nada perder de tudo o que me punham à disposição para celebrar condignamente os últimos momentos do ano da graça de dois mil e dezasseis e os primeiros de dois mil e dezassete.
Andei totalmente entusiasmado a apreciar a altíssima qualidade dos programas de entretenimento dos diversos canais de televisão, merecendo a minha especial atenção as reportagens provenientes de diversos locais e que "reporteiros" de qualidade inquestionável faziam para merecer a nossa atenção.
Pouco me interessava saber de que locais eram enviadas as imagens do deslumbrante fogo de artifício, pois estava centrado na imensa qualidade dos comentários dos tais "reporteiros".
Foi uma noite deslumbrante e não me arrependo do tempo que lhe dediquei, uma vez que  me esforço por reconhecer o mérito e a dedicação de todos os que prestam um serviço público ao serviço dos cidadãos.
E por isso mesmo devo aqui realçar aquela do canal público, quando interrompe um qualquer fogo de artifício para nos oferecer o primeiro anúncio publicitário do ano entrado de 2017.
Não vi tal anúncio porque entretanto fui invadido por uma onda de revolta por deixar de ouvir os comentários dos extraordinários apresentadores do programa, mas devo reconhecer que os milhões de portugueses que adoram e admiram aqueles que trabalham quando eles se divertem, ficaram altamente agradecidos por verem e ouvirem o primeiro anúncio publicitário.
Contudo, fiquei simplesmente surpreendido por durante estas horas de diversão e de divertimento genuíno oferecidas pelos canais de televisão não me terem dedicado uns momentos a solicitarem-me um telefonema para o tal setecentos e sessenta e não sei quantos.
Não posso perdoar tal ocorrência pois tinha intenção de, pela primeira vez, pegar no telefone e desejar ao

MUNDO e ao UNIVERSO um ano de 2017 a abarrotar de coisas boas.