26.1.13

Ficamos mais pobres

Afinal ainda continuamos na crise como estado permanente de Portugal, apesar do retumbante êxito do regresso aos mercados.

Já todos os comentaristas teciam rasgados elogios à operação alvitrando que a partir de agora as portas estariam completamente escancaradas para que as empresas tenham o crédito indispensável para a produção de qualquer coisa que seja veja.

Mas logo avançavam que se tratou de uma experiência para testar os mercados e a sua receptividade à consolidação da dívida portuguesa, o que pareceu espantosamente fácil se atentarmos que a oferta era de dois mil milhões e a procura superou os doze mil milhões.

Afinal ter-se-á tratado verdadeiramente de um teste para testar a credibilidade do segundo junto dos seus companheiros de luta, pois não havia necessidade de pagar um empréstimo com um juro de quase cinco por cento, quando a troika está a praticar uma bem mais baixa.

Podemos perguntar por que razões se foi agora aos mercados e não se esperou para quando a coisa estivesse orientada para a recuperação e não para a recessão como acontece agora.

São os insondáveis desígnios do nosso segundo que não perde uma oportunidade para justificar a sua política fiscal do recurso aos impostos dos reformados e de quem lá vai tendo um posto de trabalho, não descurando aqueles desgraçados que já sobrevivem e estão ficando cada vez mais longe da tranquilidade e da paz, que merecem pela sua trágica situação.

Estes tipos não param de fazer experiências com a vida dos outros, enquanto a sua está bem salvaguardada e ao abrigo de qualquer surpresa, pelo que lhes é permitido avançar com todos estes desvarios não havendo maneira de lhes fazer lembrar que a brincadeira tem limites e que já não estamos nos tempos dos genocídios ou de movimentos de exclusão social como praticado no século passado.

Naquele tempo, cometeram-se crimes hediondos contra etnias inteiras ao abrigo de ditaduras políticas, sociais e económicas, mas agora tudo nos leva a acreditar que vivemos em democracia, apesar de se estar a chegar à conclusão que os direitos, as liberdades, os deveres e as garantias inerentes a uma democracia são privilégios de uns quantos que exercem o poder para provar os limites da tolerância humana.

Contam-se pelos dedos de uma só mão aqueles comentaristas, jornalistas, economistas e politólogos que se lembraram de perguntar pelos custos directos e imediatos desta operação, apoiada num banco português, num banco inglês, num banco alemão e num banco americano, só estes claramente suficientes para comprar toda a dívida posta no mercado.

Resultados finais?

Ficamos mais pobres, porque aumentou mais ainda a nossa dívida.

Rir faz bem à saúde…

24.1.13

Fomos aos mercados

Estou totalmente recomposto.

Amanhã será um novo dia.

Estou altamente consolado, contente e satisfeito: fomos aos mercados.

Consequências?

A dívida pública aumentou!!!

17.1.13

O conflito de gerações

A propósito da refundação do estado, da minimização do estado social, da sustentabilidade da segurança social, do corte dos quatro mil milhões às gorduras do estado, do significado das parcerias público-privadas, de tudo e de mais alguma coisa que sirva para lixar o Zé-povinho, alguns inteligentes do governo ou próximo dele levantaram a hipótese de estar em curso uma luta de gerações ou até uma guerra entre gerações, mais conhecida por "conflito de gerações".

A coisa é simples: como os velhos beneficiam de chorudas reformas, alguns dos quais pouco fizeram para as merecer, e os novos não têm emprego nem subsídio de desemprego sendo obrigados e forçados à emigração, desata-se a falar da luta geracional para tentar justificar o corte nas pensões e na revisão das contribuições sociais, como forma de atenuar e até eliminar a tal guerra que está iminente, carecendo de tratamento a condizer para ser evitada a todo o custo e a bem da nação.

Esta gente anda um tanto ou quanto desatinada e parece que ostenta um buraco na cabeça por ter saltado um parafuso que faz, de certeza, alguma falta para que o equilíbrio da emoção e do raciocínio se mantenha na sua plenitude.

À falta de melhor atira-se para a rua a ideia de que em Portugal é manifesta a existência de uma luta entre todos aqueles que já pouco devem à vida e esses outros que estão na plenitude das suas capacidades físicas e mentais, dotados de uma formação escolar, cultural e até profissional, que é o orgulho dos seus progenitores.

Não sei se houve, mas estou quase certo que não, uma geração tal altamente qualificada como a geração nascida em finais da década de sessenta e década de setenta e até oitenta, a que tem agora a bonita idade dos Trinta/quarenta e que domina tudo o que é posto de alguma importância na cultura, na economia, na engenharia, no ensino, nos serviços e em quase todas as atividades onde a necessidade de técnicos altamente especializados é colmatada por essa tal geração que querem que se oponha àquela que pouco ou nada já tem por onde se lhe pegar, a não ser a sua pensão, ganha com o esforço das suas vidas.

Destes, os que chegaram às universidades, deslocavam-se em transportes públicos, quando não a pé, para tudo quanto era sítio, desde a sua casa para o trabalha, para a escola, para o liceu, para a universidade, muitos deles também em horário pós-laboral, com a qualidade de estudante trabalhador, figura que atualmente já nem se houve falar, mas havia empregos para quase todos os que queriam trabalhar.

Agora, o emprego e o trabalho são bens inestimáveis e a sua falta justifica a politiquice de meia tigela ostentando o conflito de gerações como pano de fundo, como se a solidariedade fosse devida aos jovens sem emprego por parte dos velhos com pensões…

Vai continuar a fala-se de conflito de gerações, mas espero que apareça alguém com dois dedos na testa e bradar bem alto que o conflito de gerações é uma treta para entreter o pessoal, porque o que na realidade existe é um conflito pelo exercício do poder, independentemente dos oito ou dos oitenta anos…

16.1.13

O acerto de contas

"Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte…"

Não acredito que a grande maioria dos deputados passados e presentes sejam burros, pelo que a conclusão será a de um bom raciocínio aristotélico, havendo poucas esperanças de que sofram de uma esquizofrenia ética e moral e decidam para si o que já decidiram para os outros.

Está bem de ver que as poupanças que se poderiam obter com a moralidade e a ética aplicáveis ao orçamento da assembleia da república seria sempre de pouco significado para influenciarem os tais quatro mil milhões, mas, pelo menos, o povo sentia que os tais também participavam nas devidas proporções no esforço coletivo de mandar a troika para o sítio certo, que não para a outra banda…

Se alguém poderia estar à espera que os políticos se lembrassem de rever os subsídios e os complementos da sua atividade política, bem pode esperar sentado e num bom sofá, porque a coisa não lhes passa pela cabeça.

E no entanto não faziam nada de mais se tivessem a dignidade de admitir que alguns desses subsídios e complementos constituem uma autêntica vergonha e uma triste bandalheira, não se sabendo se lhes é devido as senhas de presença nos plenários, se os transportes para o seu local de trabalho, se os transportes para as suas residências políticas, se os suplementos de renda, se os telemóveis, se os computadores e não sei que coisas mais, o mesmo se aplicando aos membros do governos e dos respetivos gabinetes, desconhecendo-se o verdadeiro vencimento de muitos deles, que nada devem ter a ver com a percentagem relativamente ao salário do presidente da república.

Como estas poupanças não se revertem de qualquer importância para o corte dos tais quatro mil milhões, que devem aumentar muito brevemente à medida do acesso aos mercados, a receita política vai direitinha aos funcionários públicos no ativo e na reforma, fazendo deles, mais uma vez, os bodes expiatórios destes desvarios todos.

Vão para a rua cinquenta mil, cem mil, cento e cinquenta mil? Vão os que forem e se não forem suficientes certamente que não ficarão esquecidas as pensões dos aposentados, incluindo aquelas mais baixas, porque as mais elevados também têm pouco significado para o fim pretendido.

Mas ainda não vi, não li e muito provavelmente não vou ler nem ouvir alguma alteração imediata à tal reforma dos políticos que tanto ofendeu o primeiro, quando mete no mesmo saco um deputado novinho em folha e reformado e o funcionário com idade superior a sessenta anos com uma carreira contributiva de dezenas aposentar-se sem benesses de qualquer espécie a não ser entrar no gozo de um direito para o qual trabalhou uma vida inteira e não apenas doze anos…

Já não se fala da acumulação de reformas e de trabalho, como acontece com alguns políticos, que não são objeto de citação por parte do primeiro, alguns deles ocupando cargos de mais alta relevância pllítica.

Um dia alguém virá para acertar contas.


 


 

10.1.13

A traulitada

Experimentem um pontapé nos tintins, um murro no estômago, um soco no maxilar inferior, uma traulitada na nuca e um choque elétrico de duzentos e vinte vóltios e depois digam-me que tal foi o KO.

Foi o que me aconteceu a uma qualquer hora da tarde de ontem e só durante a tarde hoje comecei a lembrar-me do sucedido: recordei-me daquele sorriso sacana, malicioso, imbecil e cretino de moedinhas quando se anunciava com pompa e circunstância o conteúdo do relatório do fmi, encomendado pelo governo e com a participação exclusiva (?) de ministros e secretários de estado sobre as ações para a refundação do estado, que quer dizer; em linguagem popular, a submissão e a escravatura de noventa e cinco por cento de portugueses e o corte de quatro mil milhões de euros na despesa do estado social.

Claro que os outros cinco por cento estão-se verdadeiramente nas tintas para moedinhas e quadrilha porque estão muito acima destas mentes brilhantes, que dispensam com todo o desprezo, apesar de serem os seus testas de ferro e os executores dos seus desígnios mais sacrossantos em defesa e do bom nome do dinheiro.

Para não passar em revista os mais de oitocentos anos de história desta terra, basta lembrar os anos trinta, os anos da guerra de espanha, os anos da segunda guerra mundial, os anos da guerra de áfrica, o vinte e cinco de abril, o verão quente e os anos da democracia plena ou quase plena para estar convicto que também vamos ultrapassar mais esta aventura.

Mas todos vamos pensando que nunca como agora fomos estamos totalmente subjugados e violados por um quadrilha de malfeitores, cujo objetivo se esconde por detrás de palavras e de conceitos como a refundação do estado, subentendo-se pura e simplesmente que se trata de roubar e subtrair tudo o que se veio a construindo de há umas dezenas de anos a esta parte.

O que mais choca no meio destas javardices todas é que já não se trata de subverter o estado de direito aniquilando a classe média que sempre pagou e mais uma vez vai pagar todos os desvarios dos governantes, mas também fazer entrar na liça todos aqueles desgraçados que vivem na pobreza e na miséria social e económica do mais aviltante para a condição humana, como se se tratasse de lixo numa imensa lixeira.

Falta saber, porque não sabemos, não imaginamos e nem fazemos a mínima ideia, o que se pretende atingir com este processo de degradação da coesão social e dos princípios éticos da vida humana.

Tratar-se-á do exercício puro e duro do poder ao serviço de um mecanismo social desconhecido, tipo, "senhores do mundo", "despertar dos mágicos" e do "capitalismo selvagem" no seu esplendor?

Virá o dia em que aquele sorriso sacana dará lugar ao queixo caído, à baba e ao ranho de moedinhas a tilintar na calçada.

 

8.1.13

As tiradas

Está a surgir uma nova moda com origem em governantes, políticos e gestores: as tiradas.

Algumas destas tiradas proferidas por obrigação e dever de ofício, não sendo importante se têm algum fundamento ou se são para levar a sério, enquanto outras representam uma tomada de posição sobre um determinado tema ou assunto, mas cuja concretização está longe da realidade imediata.

Todas estas tiradas seriam para ter na devida conta, mas conforme a origem e o seu protagonista, damos o devido desconto e resta-nos umas gargalhadas por haver gente que ainda nos faz rir sem recurso ao humor, apanágio, arte e inspiração dos humoristas que vai havendo por aí.

Lembro-me de algumas do primeiro, havendo inclusivamente a circular pela internet uma coletânea bastante interessante de se ler e rir a bandeiras despregadas por hilariantes, deduzindo-se que o seu autor é um verdadeiro artista português, incapaz de se conter quando se trata de aldrabar os portugueses.

Recentemente, um administrador hospitalar espantou o burgo com umas tiradas sobre os médicos-cirurgiões do seu hospital, alguns dos quais ainda não tinham entrado no bloco operatório e outros pouco mais, surpreendendo tudo e todos, provavelmente até os próprios cirurgiões que foram postos na berlinda, não se entendendo se aquilo era verdadeiro ou se o homem estava a chatear os médicos-cirurgiões pela fraca ou nenhuma produtividade.

Contudo, não terá sido levada muito a sério, porque uns dias depois já não se falava do assunto, que caiu no esquecimento dos meios de informação, para os quais o assunto não se integra nos critérios jornalistas para merecer mais atenção.

Depois aparece, de repente, um secretário de estado a desancar em todos os que apelaram ao presidente ou que requereram ao tribunal constitucional que se pronunciasse sobre a constitucionalidade de algumas normas do orçamento, o que punha em perigo o estado por falta de financiamento da troika, tendo como consequência, digo eu, o pagamento dos vencimentos dos políticos no ativo e na reforma, nomeadamente os governantes, os deputados, e mais uns quantos equiparados.

Vai daí que surge um outro governante a afirmar que durante o ano de dois mil e treze não vai haver mais aumentos dos transportes, apesar da herança, que os anteriores lhe deixaram, tendo os utentes ficado altamente satisfeitos e tranquilos, porque promessas de políticos são mesmo para levar a sério.

Eis que ficámos a saber que o último índice de desemprego divulgado e conhecido estava em consonância com as previsões do governo, mesmo que estivessem zero vírgula nove por cento acima, tirada que descansou os desempregados porque não vão ser obrigados a trabalhar por faltas de emprego, embora os empregados não tivessem ficado lá muito satisfeitos por falta de perspetiva de manutenção do seu posto de trabalho.

Por último e a maior bomba destas tiradas teve origem no tal administrador hospital que não teve pejo em afirmar que o seu hospital podia dispensar cerca de vinte por cento do pessoal, se fossem cumpridas as quarenta horas semanais e dedicação exclusiva…

Toma lá…

 

7.1.13

O serviço público

Circula por aí a informação que o presidente terá afirmado que cabe ao Estado garantir o serviço público de televisão.

Bastou para que algumas consciências ficassem mais tranquilas, deduzindo que era sinal mais que evidente que o presidente não concordava com a privatização da rtp, projeto eminentemente político e a menina dos olhos do relvas, como se disto dependesse a salvação da Pátria.

Convenhamos que esta ideia do presidente manifestada desta maneira serve para tudo e para mais alguma coisa e até serve para manter tudo como está sem necessidade de correr com uns quantos tipos que ganham balúrdios para manterem as audiências cada vez mais afastadas da televisão pública.

Por outro lado já estamos habituados a intervenções do presidente que servem todos os paladares e que encontram eco e consolo em todo o leque político conforme se posicione cada um. Deste modo, o verdadeiro pensamento do presidente fica fundamentado e secundado numa frase que pode ter milhentas interpretações, havendo necessidade de mais uns quantos programas de televisão e uns quantos comentadores, jornalistas, politólogos e especialistas para clarificar o que o presidente quer verdadeiramente dizer, sem que haja acordo final.

Ninguém terá justificadas dúvidas sobre a afirmação de que compete ao Estado garantir um serviço público de informação, mas já poderemos questionar de que forma e com que meios pode o Estado utilizar para fazer chegar aos cidadãos esse tal serviço público.

Primeiro que tudo, importaria definir com rigor o que é o "serviço público" para que todos saibamos se o que se passa nos canais audiovisuais da rtp é o tal serviço público que desejamos e que queremos manter com todo o nosso empenho.

Seria conveniente equacionar a hipótese de esse tal serviço ser prestado por canais audiovisuais privados, suportados financeiramente pelo Estado, através dos impostos dos que os pagam e das taxas anacrónicas que continuam a ser impostas a todos os que são "detentores" de um contador de energia elétrica, como agora acontece com a rtp, pois ninguém estará à espera que corra por conta dos mecenas, cada vez mais sedentos das contrapartidas, nem que seja à sombra das fundações.

Convinha definir o modo dessa prestação para que a coisa ficasse a coberto de abusos e de negociatas para facilitar a vida a uns quantos amigos e salvaguardar a viabilidade e a rentabilidade da iniciativa privada, evitando que esta, mais uma vez, só tenha viabilidade à custa da intervenção pública com o dinheiro dos contribuintes.

Já nem me questiono se aqueles programas "culturais" que continuam na antena da rtp, custando milhares de euros aos contribuintes e aos consumidores de eletricidade, poderiam ser considerados de "serviço público" quando nos apresentam questões como "Paris é a capital de: a) de Portugal, b) da França?", bem como aqueles apelos à utilização de números telefónicos iniciados por 760 ou ainda ao consumo sistemático de produtos para o emagrecimento…

Por enquanto, há gente que tem possibilidade de mudar de canal quando nos oferecem o primeiro a informar o povo que estamos no bom caminho e que em dois mil e treze vamos regressar aos mercados…


 

 

6.1.13

Um bom par de sapatos

Parece que o gasparzito também é um osso duro de roer quando dirige os conselhos de ministros, circulando por aí que terá dado uma resposta crua e ríspida ao álvaro "não há dinheiro" e " qual destas três palavras o senhor ministro não entendeu". Assim, sem mais nem menos.

O homem, naquele tom seráfico de jesuíta revestido de opus dei, está convencido que é um deus no meio de gente estúpida maltratando os seus pares desta maneira, fazendo eu a ideia do que se poderá passar quando se tratar de outros ministros     que são cartas fora do baralho e que só existem para gastar dinheiro com contratações de pessoal para os respetivos gabinetes.

Este sujeito ainda não se lembrou de dizer todos os outros ministros, incluindo o primeiro e o terceiro, que só há dinheiro para um assessor e para uma secretária e para dois motoristas, desde que haja disponíveis pelo menos dois automóveis para esta gente toda.

O relacionamento dos escravos e dos dependentes dos seus senhores e dos seus patrões nunca foi nem nunca será uma coisa fácil, mas tratar desta maneira, se é verdade o que se diz, gente do mesmo calibre mesmo sem poder, não é de pessoas civilizadas e de pessoas de bom senso e muito menos de um ministro da república, a quem devemos exigir urbanidade e dignidade, sendo certo que o homem, quando fala, não é de feição a matar uma mosca…

De facto, não seria de esperar um discurso deste teor proveniente de um homem que aparenta ser possuidor de um caráter a toda a prova e incapaz de dizer uma asneira ou de mandar para as urtigas um cidadão qualquer e muito menos um colega ministro do mesmo governo.

As surpresas surgem de onde menos se espera, mas também ninguém estava à espera que este senhor, proveniente das elites da comandita europeia, sem qualquer experiência governativa fosse empossado como ministro das finanças com tal poder que não necessita de mostrar qualquer categoria para exercer o poder que lhe foi delegado pela troika à margem das instituições democráticas portuguesas.

Não será assim tão difícil imaginar a cara do álvaro no momento em que ouviu aquela tirada qual farpa mortífera "amandada" pelo terrível deus dos impostos enormes, de tão arrogante e desmesurada, que este estaria longe de merecer, principalmente quando começava a dar alguma dignidade à sua função ministerial.

Estou convencido que, se na altura pudesse deitar tudo para trás das costas e regressar à universidade canadiana, o teria feito de bom grado para ver-se livre e liberto deste monstrozito que nos caiu em sorte, precisamente numa altura em que precisávamos de um ministro das finanças com categoria, saber e experiência… e que tratasse os cidadãos como pessoas e não como burros e cavalgaduras que nada percebem de previsões, de défices e de orçamentos inconstitucionais…

Quando chegar o dia, vai precisar de um bom par de sapatos…

5.1.13

A entrevista e os recados

O presidente encheu com uma longa entrevista umas páginas do Expresso, edição do quadragésimo aniversário, o qual, para um jornal, é deveras interessante. Quis associar-me a esta efeméride comprando a tal edição e logo passei em revista quase todas as suas páginas, deixando de lado umas outras cheiinhas de publicidade.

Daí que me deparei com essa tal entrevista do presidente, que não tive paciência para ler, atirando os olhos apenas para as caixas e por umas quantas perguntas, pouco me interessando o conteúdo das respostas.

Estou convencido que não perdi grande coisa e se os factos me ditarem o contrário, terei a oportunidade de prestar a atenção que é devida a um catedrático, a um secretário de estado, a um primeiro-ministro, a um presidente da república, a um político com o mais longo percurso na política, que a história recordará, certamente, como um logro e um embuste.

Digo isto plenamente convicto do que digo, porque a vistoria que faça da vida política deste homem não me permite enfatizar e realçar o que quer que seja que não pudesse ter sido feito por qualquer um outro.

Quando tocou, quando toca e quando tocará a tomar decisões que impliquem colocar as mãos no fogo ou navegar na crista da onda ou colocar-se no fio da navalha, o homem escreve qualquer coisa a dizer que disse e que avisou ao apropriar-se do pensamento coletivo e atirar cá para fora umas tiradas de se lhe tirar o chapéu, deixando todos de boca aberta pela sua clareza de pensamento.

Eu diria que o presidente tem obrigação de mandar recados ao governo assim como os manda aos portugueses sobre o que deve fazer e sobre o que não deve fazer, sobre o que se suporta e sobre o que já não se suporta etc e tal.

Mas eu preferia, em vez de ouvir e ler estes tais recados ao governo, saber que o presidente tomara uma posição clara e firme sobre tudo o que pensa e defende em termos presidenciais e constitucionais perante o primeiro em pessoa e perante o segundo em pessoa e perante o terceiro em pessoa e se fosse preciso perante todos os outros, cujos papéis e responsabilidades afetam a vida dos cidadãos.

É sabido que o primeiro e o segundo se estão nas tintas para os recados do presidente. Se assim não fosse, teria sido possível a apresentação pela segunda vez consecutiva com alíneas que suscitam ao presidente "fundadas dúvidas" sobre a sua constitucionalidade, com o maior dos descaramentos e pouca vergonha, pondo em causa a dignidade institucional do presidente e dos juízes do tribunal constitucional?

Se o presidente está plenamente convencido que o caminho seguido e as perspetivas que se colocam no curto e no médio prazo são suficientes para pôr em causa a coesão social deste país, então não pode deixar de assumir as suas responsabilidades e usar e utilizar as suas competências constitucionais para pôr ordem neste caos político, económico e financeiro em que nos encontramos e cuja saída não se vislumbra mesmo olhando para lá das montanhas…

A originalidade

Nos últimos tempos tenho dedicado alguma atenção ao comentário generalizado e especializado quer nas rádios quer nas televisões, quase esquecendo, deliberadamente, o que se passa nos jornais, a não ser leituras de notícias e comentários curtos via internet.

Como consequência, nem sempre tenho facilidade em escolher temas para lhes dedicar algumas linhas e que não tenham sido objetivo desses tais programas pela intervenção de variadíssimos comentadores amadores e profissionais e mostrar alguma originalidade.

Tenho pensado que uma boa maneira de resolver este problema é desatar a mandar fisgadas para todo o lado atingindo toda a gente sem qualquer seleção e logo se vê se alguém se acusa ou se alguém se sente.

Dito isto, parece-me que não vejo qualquer originalidade em todos os comentadores amadores e profissionais, quer sejam economistas, engenheiros, gestores, financeiros, politólogos e tudo o que vai aparecendo, sendo difícil dizer de maneira diferente a mesma coisa e manifestar o mesmo sentido proveniente das ideologias mais díspares.

Na verdade, nem nos tempos mais críticos do primeiro "engenheiro" se via e ouvia tanta unanimidade no comentário e na apreciação dos êxitos e dos fracassos da política caseira como agora está à vista e patente e à disposição de toda a gente, quando o pessoal se refere ao governo e à atividade governativa.

Vai tudo no mesmo sentido e a realidade é que estamos perante um fenómeno de atirar pedradas em direção de dois governantes, um o primeiro e o outro o segundo, ou vice-versa, admitindo-se que o segundo é o terceiro e o terceiro é o primeiro, pela única razão de que é quem manda e não responde perante ninguém, nem sequer dos técnicos de segunda categoria da troika, os quais estão sob as suas ordens.

Eu não ouso afirmar que dentro de relativamente pouco tempo ainda vamos esperar que numa noite de nevoeiro apareça por aí um dom sebastião não identificado com o presidente da república, com os juízes do tribunal constitucional, com o presidente do glorioso, mas que se assuma como o varredor de ruas à moda antiga, equipado com uma vassoura e com uma moca de rio maior para mandar para a outra banda, isto é, para lá dos pirinéus, esta gente que nos governa atualmente, não se afastando a hipótese de um ou outro ir até paris para se matricular na sorbonne ou na escola de altos estudos, desde que não seja em política económica, porque destes já cá temos em abundância.

Para garantir alguma originalidade nas novas apreciações dos governantes, apenas de três, porque os outros não interessam a ninguém, resta-nos esperar com afinco por uma notícia sobre uma previsão acertada proveniente do segundo que é primeiro.

Não vai ser tarefa fácil, se a tradição tem realmente algum valor: lembram-se das previsões de um ministro das finanças do atual presidente da república, criador do tal "oásis"?

Sabemos quem era o autor e o lugar que ocupava…

1.1.13

O ranger de dentes

Uma profunda tristeza e uma raiva incontida privam-me da possibilidade de alimentar qualquer esperança de uma vida melhor durante o ano de dois e treze, porque não vislumbro a mínima hipótese de se verificar uma alteração significativa na economia e nas finanças deste povo desgraçado, que não merecia o que lhe está a acontecer.

Bem pode o presidente vir com falinhas mansas e olhos de carneiro mal morto, mas os pobres vão ficar mais pobres, embora eu admita que uns quantos ricos não vão ficar mais ricos, mas estou totalmente certo e seguro que os sacrifícios impostos não são iguais para todos.

Uns quantos serão menos castigados e menos roubados que outros e isso fará a diferença entre portugueses de primeira e portugueses de segunda, isto é, entre portugueses que pagam os devaneios e as incompetências de governantes e os outros que vão beneficiar deste estado de coisas.

Bem podem dizer que vivíamos muito acima das nossas possibilidades, mas a afirmação só poderia aplicar-se a umas quantas situações, porque há por aí muito boa gente a viver apenas com o seu salário ou com a sua pensão e que não deve nada a ninguém e que cumpre com os seus deveres cívicos de pagar tudo aquilo a que são chamados a pagar mesmo o que outros deveriam pagar e não o fazem, preferindo a fuga, o roubo e a apropriação de valores e de bens alheios, com a certeza de que a justiça também se compra e o medo só tem fundamento pelo crime de roubo de uma carteira contendo apenas documentos que podem ser obtidos com relativa facilidade e não por uma falência fraudulenta ou pelo buraco financeiro de um banco no valor de muitos milhões.

A grande maioria dos portugueses que vive dos rendimentos de pensões ainda não tem consciência do que lhe vai acontecer todos os meses deste ano de dois mil e preze, pelo menos, e só vai tomar disso conhecimento quando verificar o quantitativo do depósito correspondente ao mês de janeiro e comparar o valor do mês de dezembro, passado próximo.

Nessa altura virá o furor e o ranger de destes dizer que está a ser efetuado um assalto à mão desarmada de tal modo violento e violentador da dignidade do pensionista que pode justificar e fundamentar a revolta concretizada em ações específicas e devidamente orientadas para alterar este estado de coisas.

Aquelas justificações de que a dívida, de que a vida acima de, de que vivemos com o dinheiro emprestado, de que temos de pagar, de que os anteriores, de que as parcerias, de que… outras montanhas de coisas, ficando de fora o roubo de bancos, a compra de submarinos, a venda ao desbarato de empresas públicas e outras coisas mais, não podem ser aceites como justificação para o roubo descarado que estão a fazer aos portugueses, principalmente aqueles cujos rendimentos se situam entre os mil e trezentos e cinquenta e os cinco mil e poucos euros… enfim aqueles que sempre pagaram e sempre continuarão a pagar os roubos e os desvarios que abundam em Portugal.

Podemos não ter esperança em dias melhores, mas teremos fé que um dia far-se-á justiça seja de que maneira for…