28.7.08

A corrupção

Um excelentíssimo senhor, antes deputado pelo partido socialista, antes ministro pelo partido socialista, depois deputado pelo partido socialista e agora administrador do Banco Europeu de Investimentos (?) sediado em Londres, veio dar uma entrevista em Portugal a lançar, mais uma vez, a discussão sobre a corrupção.

No seu entendimento, porque as suas propostas, enquanto deputado, não foram aceites, a actual lei não só não combate devidamente a corrupção como ainda potencia o seu desenvolvimento…

Nem sequer será difícil concordar com o homem, mas falar agora e neste momento sobre tal matéria, quando o senhor é administrador de um banco europeu, indigitado pelo próprio partido socialista e que ele aceitou quando ainda era deputado, dará também que pensar…

Se esse tal administrador queria defender até à última gota de suor do seu rosto as tais propostas quando desempenhava as funções de deputado, então que recusasse a ida para Londres ocupar o lugar de administrador do tal banco e aqui permanecesse para o que desse e viesse.

Mas não.

Lá foi para Londres, certamente que a ganhar uma pipa de massa muito para além do seu ordenadinho de deputado, reservando-se o direito de e de vez em quando e quando começasse a ser esquecido cá no burgo dar uma entrevista aos jornalistas parolos a terra sobre a tal história da corrupção.

Certamente que nunca lhe terá passado pela cabeça que o facto de ter sido nomeado ou indigitado pelo partido socialista (Governo?) para tal lugar não podia ser conotado ou ter o significado de uma "compra" perfeitamente aceitável para um homem que encetara uma luta contra a corrupção, mesmo que essa luta não tivesse passado de uns quantos artigos de uns tantos projectos de lei…

Que fez este homem contra a corrupção e contra os corruptos enquanto exerceu as funções de ministro das obras públicas, precisamente o sector onde se presume haver maior corrupção tanto em qualidade como em quantidade?

Que fez este homem contra a corrupção e contra os corruptos, quando dezenas e dezenas de colegas seus, do parlamento, do governo, de partido, e de outras coisas mais, foram nomeados administradores de empresas onde o Estado é parte interessada?

Será que este senhor, arauto da luta contra a corrupção, está mesmo convencido que essa só existe na casa dos outros e por responsabilidade dos outros…?

Será que este senhor, juiz em causa própria, está convencido que durante o seu tempo de ministro não foi cometido qualquer acto de corrupção no seu ministério, e que começaram a acontecer logo que reocupou a sua cadeira no parlamento?

Cada vez estou mais convencido que praticar a demagogia é bem mais fácil e populista que viver a democracia…


 

26.7.08

Os nómadas

Por vezes, os títulos dos jornais são deveras curiosos.

Não querem lá ver que um dia destes num desses títulos são referidos "os nómadas e os mendigos" para referir qualquer coisa relacionada com não sei já o quê.

Não levem a mal de eu já não me recordar do que tratava a notícia, pois fiquei com aquela coisa de "nómadas e mendigos" na cabeça que não liguei nada ao que deveria ser coisa importante.

Claro que "deduzi" que os tais "nómadas" não seriam propriamente aqueles famosos residentes do deserto mais os seus camelos e as suas cabras, que não param muito tempo na mesma duna e andam em movimento permanente e, por isso, são denominados de "nómadas".

Mas estes mendigos do título do jornal seriam mesmo mendigos, eventualmente uns seriam "sem-abrigo" e outros passeantes do metropolitano, enquanto os tais nómadas não seriam os tais nómadas mas aquelas tais pessoas que todos sabem quem são e que agora não ousam dizer quem são, com receio de serem cognominados de "racistas" e até de "chauvinistas"…

Cá por mim também não os cito pela sua verdadeira denominação, mas sempre vou dizendo que se trata de pessoal que vive do rendimento social de inserção, o tal famigerado rendimento mínimo criado pelo então Primeiro AG, de má memória para muita gente, mas de boa para cerca de trezentos e trinta mil, trinta e cinco mil dos quais são precisamente os tais "nómadas" de unm total de quarenta e cinco mil, citados no título de um jornal…

Diga-se, desde já, que me recuso a aceitar que esse tal rendimento social de inserção não chegue para viver uma vida mais ou menos decente e que seja uma autêntica miséria pois é impossível um almoço que se veja com essa guita que se põe ao dispor dos nómadas…

Pelos vistos pode não chegar para um bom almoço, mas já dá para ter em casa um plasma, uma Xbox, uma PlayStation, um DVD para não citar outras coisas bem mais comuns e de lana-caprina, tais como frigoríficos, arcas congeladoras, microondas, sofás de pele…

E já agora o director do tal jornal que se cuide: ao chamar-lhe de "nómadas", está a justificar inteiramente a posição dos tais nómadas: não os podem obrigar a viver indefinidamente num determinado lugar mesmo que não paguem rendas e tenham casa gratuita, pois que a sobrevivência dos tais "nómadas" passa precisamente pela deambulação constante sob pena de perderem a sua identidade cultural…

O que seria desastre para a sociedade portuguesa…


 


 

16.7.08

A energia nuclear

O Governador do Banco de Portugal não estava satisfeito como a sua presença nos meios de informação e comunicação social e, vai daí, “amanda” umas bocas sobre qualquer coisa relacionada com a energia nuclear.

Não sei se o homem estava à espera que a retroacção das suas palavras fosse de agradecimento de todo o Povo Português, especialmente do Governo, para a extraordinária ideia que tivera numa daquelas raras ocasiões em que o Senhor Governador está a descansar do enorme cansaço provocado pela actividade inerente ao seu papel.

Também não sei se o Senhor Governador já tem em seu poder o estudo total e integral de todas as variáveis intervenientes do processo de produção e distribuição da energia nuclear para que possa fundamentar de uma maneira rigorosa e exaustiva, como deve ser próprio deste processo, as suas opiniões.

E muito menos sei se o Senhor Governador está disponível para oferecer ao Povo Português e ao Governo esse tal estudo, uma vez que foi elaborado, certamente, fora das horas de “serviço” afectas à função de Governador do Banco de Portugal, e roubadas seguramente ao tempo que estaria dedicado ao descanso e ao lazer e também ao sono…

Provinda que foi do Senhor Governador do Banco de Portugal, que não é um qualquer ministro e muito menos um desconhecido secretário de Estado, a ideia foi, certamente, produto de uma análise mais que profunda de tudo o que se passa à volta da construção de uma central nuclear, ao seu funcionamento e à sua exploração, sem descurar todas as questões relacionadas com custo, segurança, ambiente, proveito, combustível e muitas mais coisas que a um leigo podem passar despercebidas, mas que ao Senhor Governador do Banco de Portugal não devem suscitar qualquer problema de entendimento e atenção…

Vamos pensar no assunto durante todo o tempo deste mundo, prestando uma especial atenção ao comportamento do Senhor Governador do Banco de Portugal quando deixar de ser Governador do Banco de Portugal e for encarregado pelo Governo para produzir o projecto para a construção de uma central nuclear em Portugal, sem qualquer compensação financeira, uma vez que o senhor estará a ganhar uma choruda reforma, aliás bem merecida, pelo incessante trabalho de Governador do Banco de Portugal, agravado pela necessidade de pensar por toda esta cambada de parolos que só se preocupa com subida do preço do petróleo e não na produção de energia barata aqui mesmo à mão de semear…

O que é que se há-de fazer!? Somos mesmo uns ingratos…e não entendemos os nossos génios…

 

 

 

 

 

15.7.08

O Ex

Um ex-ministro das Finanças, do tempo de Mário Soares como PM, agora ligado a uma grande empresa de consultoria, atira cá para fora um relatório dando conta de que o Alentejo é o futuro de Portugal…

Agora sim, aquela terra, que no seu tempo de ministro era uma autêntica porcaria e uma grandessíssima javardice, terra de comunistas usurpadores de terras alheias e de agrários exploradores e absentistas, tem todas as condições para ser o futuro de Portugal…

Nem mais!

Foi preciso o senhor ex estar ligado a uma grande consultora para produzir um relatório dizendo o que toda a gente vem dizendo há uma boa porrada de anos sem necessidade de ser consultor e de perceber muito dessas coisas ditas da economia e do desenvolvimento…

Só bastava estar atento ao que se passava para lá do Tejo, lá para os lados do Alentejo profundo onde só há cabeços e uns quantos alentejanos já velhos para se perceber que alguma coisa estava a mudar.

Nem sequer era preciso ser muito inteligente como esta gente que vive na crista da onda a olhar o mal do mundo com um sorriso nos lábios proferindo discursos da desgraça para saber que bastava haver água no Alentejo para que aquela terra toda virasse objecto da cobiça nacional e internacional…

Bastou que se construísse a tal barragem para que os olhares desta gente importante se virasse para o Alentejo e começasse a augurar um futuro risonho para a região que sempre foi a mais abandonada de Portugal, porque ali nunca houve um Camilo Mendonça…

Agora que aquela coisa tem água para dar e vender, para regar e tomar banho, para beber e lavar tudo e mais alguma coisa é que se lembraram que o Alentejo tem potencialidades suficientes para garantir um desenvolvimento ao serviço de Portugal…

Cá por mim, que tenho veneração por todas as barragens construídas em todo o lado, com especial realce para as do Alentejo, já sabia que mais dia, menos dia algum intelectual, inteligente e sábio iria dizer qualquer coisa parecida com isso…

Foi um ex-ministro, que no seu tempo de ministro, não ligou peva ao Alentejo.

Registámos as suas observações e aqueles que já lá estão só podem dizer que o ex aparece atrasado duas décadas para reconhecer que aquela terra ainda há-de ser " a terra onde corre o leite e o mel"…