18.2.20

A estátua

Nunca o senhor jogador pensou que bastavam uma monumental assobiadela, uns gestos ofensivos, uns apupos ensurdecedores, uns gestos duvidosos, uma cadeira pelo ar, uns protestos veementes e um abandono forçado para que uns quantos milhões de portugueses, através dos seus lídimos e eméritos representantes, se colocassem de joelhos, de cócoras e prostrados perante um novo deus que surgira numa noite frio lá para os lados do berço da nacionalidade.
Quando se disse que "...isto é uma caso de polícia..." e que "... ele também se portou mal..." a tragédia chegou ao plenário da assembleia da república, onde todos se auto chicotearam, lamentando profundamente as ofensas gravíssimas e ofensivas da dignidade de uma pessoa e nela de toda a humanidade.
Por se tratar de caso único nos anais do desporto universal estava à espera que alguém já tivesse apresentado uma recomendação ou uma petição pública para que fosse erigida uma estátua a colocar na torre de menagem do castelo do berço da nacionalidade e uma outra mesmo frente às escadarias do palácio de são bento para se dizer ao mundo inteiro que os portugueses se sentiam culpados e se penitenciavam para o resto dos tempos do "crime" cometido num campo de futebol...
As réplicas vão certamente continuar até que se verifique uma nova derrota do glorioso... ou até que as lágrimas consigam afogar a hipocrisia...

17.2.20

O olimpo

Um terramoto, um maremoto, um tsunami, um ciclone, um vendaval, uma tempestade, um furação, uma bomba atómica guindou ao ponto mais alto do olimpo um jogador de futebol por ofensas à sua dignidade pessoal e aos valores etéreos da humanidade e lançaram no mais profundo lugar do hades uma claque de futebol...
É bem feito para que na próxima oportunidade pensem bem se uma reacção irracional é apropriada como resposta a uma ou outro provocação...
De qualquer modo e não estando em causa a condenação de qualquer tipo de manifestações de ódio, mesmo as denominadas de "racistas", julgo claramente injustificadas as manifestações conhecidas por parte de presidentes, desde o da república até ao presidente do grupo de bêbados peninsulares, do primeiro, do segundo e do terceiro membros do governo, de leitores de telejornais, de coordenadores de programas desportivos, de comentadores desportivos, de políticos de todos os lados, de independentes e de dependentes, etc. e tal de tal modo que mais parecia que se estava perante o sacrifício e o apocalipse do universo e arredores...
Passei pela baixa de lisboa e tive a oportunidade de verificar que as ruínas do carmo continuavam de pé e não tive informação sobre o desmoronamento da trindade...
O estranho de tudo isto é que ninguém ou melhor apenas duas pessoas se referiram às supostas provocações que terão sido o primeiro motivo para o comportamento irracional da massas que se verificou num estádio de futebol.
Contudo, hipocrisia, mentira, manipulação, imoralidade...ponha cada um dos agentes desportivos a mão na consciência... e confesse os seus pecados para que todos venhamos a saber do que se compõe o nosso futebol...

16.2.20

A citação

"Com efeito, ao ouvir os gritos de alegria que subiam da cidade, Rieux lembrava-se de que esta alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa..."...

"... espera pacientemente nos quartos, nas caves, nas malas, nos lenços e na papelada. E sabia também que viria talvez o dia em que,  para desgraça e ensinamento dos homens, a peste talvez acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."

Com a devida vénia, transcrevi o último parágrafo do livro " A Peste" de Albert Camus.

Já tinha acabado de escrever um "post" iniciado com esta transcrição de A Peste, quando um erro meu ou do equipamento me apagou grande parte do que já estava escrito.
Passados uns dias ouvi um comentário num dos programas de comentários nas televisões onde se fazia referência à inexistência de citações e transcrições deste livro que ando a ler, quando as circunstâncias deveriam levarnos a recordar Albert Camus e a sua Peste.

Não só citei como li o livro em pleno desenvolvimento do coronavirus... 

5.2.20

A peste

Há cerca de quinze dias estava a procurar um livro para continuar as minhas leituras, após terminado o último livro de Mário Vargas Llosa, quando pus a vista encima da Peste de Albert Camus.
Retirei o livro da estante e resolvi dar início à sua leitura.
Tinha uma vaga ideia do conteúdo da obra, mas não me lembrava da situação em concreto.
Apesar de se entender que se trata de uma alegoria sobre uma  cidade dominada pelo nazismo, transportei-me quase de imediato à cidade chinesa de quarentena devido ao  vírus denominado "coronavirus". e sobre o qual pouco ou nada se sabia.
Na sequência da leitura da obra de Camus, a imagem da cidade tomada pelo nazismo era rigorosamente a realidade da cidade chinesa que era noticia quase permanente de todas as televisões, rádios e demais imprensa escrita de todo o mundo, levando a intranquilidade e o medo a milhões de pessoas para além dos milhões já circunscritas às suas respetivas zonas de residência.
Um cerco a nível mundial do qual ainda ninguém sabe como dele se vai sair e em que condições se poderá sair.
O número de infetados continua a subir, o número de mortes continua a aumentar e não se vislumbra um tratamento eficaz para o drama humanitário mundial que está presente em permanência nos nossos ouvidos e nos nossos olhos.
No meio disto tudo, isto é, no meio do pânico geral já instalado, lembrei-me de fazer a mim mesmo uma pergunta sobre a qual ainda não ouvi uma única informação nem qualquer comentário ou sequer a mínima justificação: há algum caso conhecido no continente africano e americano do sul?
A natureza ajudada pela ciência dará uma resposta...
Vamos aguardar...