31.12.12

Até quando

O mundo, todo aquele mundo que paga impostos em Portugal, acordou com todos os canais de televisão e todos os rádios locais, nacionais e internacionais a divulgarem a notícia da promulgação pelo presidente da república do orçamento de estado para dois mil e treze.

A notícia foi hoje divulgada mas o presidente já tinha promulgado o orçamento no dia vinte e oito de dezembro, precisamente o dia em os católicos celebram o dia dos SANTOS INOCENTES, isto é, o dia em que os católicos do mundo inteiro celebram o martírio de todos os inocentes recém-nascidos na mesma altura de Jesus Cristo.

O presidente quis associar-se a essa comemoração e vai daí promulga o orçamento de estado, sabendo perfeitamente que aquela coisa tem lá umas normas que ofendem os princípios constitucionais, mas os superiores interesses do país assim o obrigou, com pesar da sua consciência, pois a sua pensão também vai levar um rombo relativamente significativo que pode pôr em causa o seu modo de vida que antes já não lá muito católico, porque a sua pensão não chegava para as NECESSIDADES…

Já podemos ficar descansados porque esta decisão do presidente vai acalmar os mercados que ficaram tranquilos quanto baste porque Portugal fica dotado do instrumento imprescindível para que o capital continue a singrar com êxito com os negócios do pagamento dos juros cá do burgo.

Como se tornava evidente, ninguém continuaria contente se Portugal tivesse apenas umas dezenas de capitalistas, pelo que este governo não podia ficar indiferente a esta realidade e a única maneira de a alterar era considerar "capitalista" todo aquele que "beneficiasse", alguns injustamente, de salários e pensões superiores a mil e quinhentos euros, tornando-se, asasim, Portugal um dos países do mundo e do universo com mais capitalistas e milionários…

Hoje, dia trinta e um de dezembro e último dia deste memorável ano de dois e doze, vamos ficar todos contentes por três razões fundamentais: a primeira está relacionada com a promulgação do orçamento ficando Portugal ao abrigo do anarquismo e da bancarrota; a segunda relacionada com o facto de os mercados ficarem aliviados com a dúvida que se tinha instalado nos últimos dias deste ano não se sabendo se havia ou não havia promulgação e terceira relacionada a consideração de que o ano de dois mil e treze vai ser o ano do regresso de Portugal aos mercados, mesmo que os portugueses fiquem mais pobres cerca de quinze por cento, desde que os banqueiros e o capital fiquem a ganhar com o negócio.

Estamos no bom caminho para num dia não muito longe dos nossos horizontes não haja por aí uma bernarda que mande o primeiro para os arredores, o segundo/terceiro de volta à Europa e o terceiro/segundo sem bilhetes semanais de avião para viagens aos quatro cantos do mundo…

Até quando é que vamos continuar impávidos e serenos a aguentar toda esta pouca vergonha…?

29.12.12

Será que…

Porque hoje é véspera do dia trinta de dezembro, reservado para me preparar para o dia trinta e um como final do ano e pensar em eventuais defesas para o um de janeiro como o primeiro dia do ano de dois mil e treze que será ótimo para uma meia dúzia de portugueses, vou fazer o balanço do ano de dois mil e doze.

Foi um ano maravilhoso: assisti impávido e sereno mas incapaz de reação ao maior e descarado rombo nos meus rendimentos por parte de um segundo e de um primeiro como nunca tinha pensado que poderia suceder. Mas sucedeu e o que se passou comigo foi que, pura e simplesmente, fiquei menos rico cerca de vinte por cento, tudo porque o segundo e o primeiro entendem que os pensionistas não têm razão de existir a ganharem mais que mil e quinhentos euros por mês, o que significa para estas duas muito inteligentes cabeças (?), vagueia por aí uma boa quantidade de ociosos a viverem à custa dos poucos portugueses que ainda trabalham, como são os reformados e os pensionistas.

Foi um ano mais ou menos: saí ileso, isto é, saí bastante bem de uma intervenção cirúrgica às cataratas, não fora as lágrimas abundantes que verto pela triste sina de ser governado desta maneira; parti um ossinho do pé esquerdo quando deixava que um miserável peixe me roubasse e me levasse pela barragem fora a cana de pesca; fiz uma rotura muscular na coxa direita quando dava uns toques na brincadeira com o meu neto. Mas tudo passei bastante conformado, porque continuo convencido que não há nada pior que viver num país que tem como primeiro este primeiro e como segundo um terceiro, que não é terceiro, porque manda mais que o primeiro e que o segundo e não vive neste país, mas num outro qualquer bem diferente…

Foi um ano desgraçado: não querem lá ver que foi descoberta uma adenda ao memorandum da troika assinada pela atual segundo e mandão da troika cá no burgo, determinando que a barragem do maranhão não deveria encher, pois que isso faria com que aquele pessoal provinciano tivesse mais capacidade de consumo, o que não era conveniente, visto ser proibido pela troika. Desta maneira, a única maneira de evitar que a barragem enchesse totalmente era proibir que a chuva se tornasse demasiado abundante naquela bacia hidrográfica. Seria preferível que o douro tivesse mais água para proveito dos chineses e mais uns quantos, que o tejo mostrasse menos areia para gáudio das lampreias e que o guadiana continuasse com o Alqueva mesmo naquele nível pois os espanhóis também continuam a explorar melhor o que nós não aproveitamos devidamente.

Se prestarmos um pouco mais de atenção ao que se vai passando por aí fora rapidamente poderemos chegar á conclusão que o problema não está na existência deste primeiro e deste segundo, mas na capacidade incrível que os portugueses têm de sofrer e de penar por mais que sejam aldrabados, estuprados, roubados, espezinhados, ofendidos e f… mostrando sempre ou quase sempre uma satisfação que raia a insanidade coletiva.

Será que dois mil e treze…?

25.12.12

O lixo da notícia

Num dia muito semelhante ao do estado da nossa economia, resolvi fazer referência e salientar devidamente a notícia que mais atenção me chamou neste dia de NATAL do ano do SENHOR de dois mil e doze, como se fora a notícia do fim da crise.

Então não querem lá saber que um jornalista, isto é, um indivíduo com um microfone na mão e um trabalhador com uma câmara de filmar às costas, desatou a mandar palpites sobre o volume de compras efetuadas pelos portugueses nesta época natalícia, adiantando que a coisa estava muto fraca, pois que o lixo encontrado nos locais habituais era bastante reduzido e não tinha significado de maior.

Não sei lá muito bem as horas das filmagens, mas deduzi que estaria a decorrer a manhã de hoje, uma vez que foi ouvida uma senhora que passeava o seu cão na rua, não se notando movimento de pessoas e bens de qualquer significado.

Nunca me teria passado pela cabeça que fosse adequado calcular o volume das compras efetuadas pelos portugueses na época destes festejos pela quantidade de lixo constatado nalguns, muito poucos, locais de Lisboa logo na manhã do dia vinte e cinco, quando a grande maioria das pessoas que efetuaram compras de prendas e brinquedos ainda estava recolhida em casa, tanto mais que nem cafés havia abertos para que o pessoal pudesse tomar a sua bica matinal, depois de uma noite mal descansada e com muita probabilidade mal dormida, devido à "fartura" da ceia e do que se seguiu.

Mas ainda bem que os nossos meios de comunicação social têm jornalistas desta craveira e diretores de informação que mandam para as ondas estas notícias deslumbrantes que nos fazem sentir orgulho do pessoal que está ao nosso serviço em matéria de prestar informação verdadeira e em tempo oportuno, fazendo lembrar, pela oportunidade, o anúncio em direto do início da guerra do golfo…

Ao fim e ao cabo, só devemos lamentar que continuemos a ser um povo de mal-agradecidos pelas benesses que os deuses nos deram em termos meios de comunicação social para os quais a falta de lixo nos locais habituais é sinal de que a crise está verdadeiramente instalada nas famílias portugueses, de tal modo que já nem guita há para comprar umas prendinhas para os familiares e amigos mais chegados…

Que calamidade se debateu sobre a grande maioria dos portugueses!

Para o ano que aí está chegar será tudo muito melhor e abundante e só esperamos que chegue o NATAL e o pessoal ainda tenha capacidade e possibilidade de andar nas compras até ao último minuto da hora dezoito do dia vinte e quatro de Dezembro…como se a economia estivesse a crescer a nível dos dois dígitos positivos…

Mas o meu maior desejo é que toda a gente que compre, nem que seja um bolo-rei, não se esqueça de colocar no lixo a embalagem respetiva logo ao raiar da aurora, não vá aparecer um outro jornalista a mandar palpites sobre o estado da crise…


 

24.12.12

Lá se foi

À semelhança de muitos portugueses, segui com alguma atenção o processo de privatização da TAP, tendo à partida uma posição de indiferença relativamente ao assunto, pouco me importando se a transportadora era vendida ao desbarato, se era bem vendida, se deveria ficar, se era bom para todos ficar como está, ir-se para onde fosse, etc. e tal.

Mas nunca pensei que o processo terminasse desta maneira, não tanto pelo facto de não ser vendida, mas fundamental e principalmente pelas dúvidas com que fiquei sobre todo o processo.

Numa privatização desta complexidade, onde estava em causa a venda a um indivíduo de uma companhia aérea de bandeira, seria natural que fossem acauteladas todas e mais unas quantas variáveis do processo no caderno de encargos, principalmente todas aquelas que se relacionavam com os valores e custos da operação e, consequentemente, com todas as garantias que seriam exigidas a qualquer candidato a comprador, não devendo faltar a apresentação do calendário de todas as obrigações das partes intervenientes.

Não me passava pela cabeça que o caderno de encargos tivesse qualquer omissão sobre todas estas matérias de modo a que pudesse haver qualquer dúvida por mais ténue que fosse sobre tudo o que pudesse estar em causa neste processo de privatização de uma empresa nacional.

No meu tempo, qualquer concorrente a uma mísera obra que se esquecesse de apresentar qualquer documento indicado no caderno de encargos era pura e simplesmente excluído ou dado o tempo legal para suprir a deficiência do processo.

Mas no processo de privatização da TAP parece que faltava tudo o que se relacionava com garantias que o comprador deveria apresentar sobre tudo o que envolvesse capital, nomeadamente: o pagamento em espécie, o investimento na própria empresa e a negociação completa e terminada da transferência da dívida titulada pela empresa (estado) para o novo proprietário por parte dos bancos credores.

A fazer fé na justificação da decisão ficámos com a impressão que o capitalista queria a empresa, mas ter-se-á esquecido das datas para saldar os compromissos.

E assim o processo foi à vida e fica-se agora a esperar outros dias para que aconteça mais alguma coisa sobre o futuro da TAP.

Pelos vistos alguém meteu a pata na poça ou andaram a brincar connosco, que vamos continuar a pagar a propriedade da nossa companhia aérea que leva aos quatro cantos do mundo a bandeira nacional.

Bem vistas as coisas, manter a TAP como empresa pública vai custar bem menos que o processo do bpn…

19.12.12

A demissão

Parece que o senhor leite vai abandonar o lugar de vice-presidente da caixa geral de depósitos e regressar ao ensino universitário, onde é professor catedrático.

Espero bem que a caixa não perca nada de especial e que a faculdade de economia ganhe um grande economista e que todos nós ganhemos um adversário da política fiscal do governo.

Disto teremos a certeza porque o homem andou a entregar ao estado os seus sete primeiros salários, uma vez que se libertou dos impostos no dia um de agosto.

Bem podia lembrar-se que há milhares, talvez até milhões, de portugueses que gostariam de entregar ao estado tudo o que ganharam durante os primeiros sete meses do ano, na certeza que nos outros cinco meses mais os dois subsídios mais todas as alcavalas pecuniárias e seguros e mais não sei o quê receberiam uns quantos milhares perfeitamente suficientes para fazerem uma boa vidinha descansados e satisfeitos e de papo cheio.

Talvez até que existem por aí milhares de portugueses que não se importariam de pagar um pouco mais se lhes fosse garantido o salário mensal deste senhor que agora regressa à vida universitária para contar aos seus alunos a trabalheira de ser vice-presidente da caixa geral de depósitos, lugar de altíssima responsabilidade em nada comparada com a de ser professor catedrático, função que lhe deverá dar muito tempo para os tais pareceres encomendados pelas instituições estatais que andavam à deriva pela sua ausência ou, melhor, pela sua ocupação, que não lhe deixava nem um minuto de tempo livre para aconselhar quem precisava de conselhos em tempo útil.

Fico com muita pena deste homem, porque ao menos sai em beleza de um belo lugar, não só quanto ao seu prestígio, mas principalmente pelo seu nível remuneração, muito inferior ao de professor catedrático…

E sai em conflito ou em desacordo com quem lá o colocou na sequência dos altos serviços prestados ao partido naqueles dois anos de pré-campanha eleitoral.

Por tal circunstância não podemos deixar de salientar a sua nobreza de caráter pois e apesar de tão prestigiado e bem remunerado lugar não foi suficiente para sublimar a sua consciência de cidadão e fazê-lo regressar à sua nobre função de formar mais uns quantos economistas salvadores das economias dos países de programa ou de países em vias de terem programa.

De qualquer maneira devemos reconhecer que esta demissão é muito bem capaz de dar origem a umas quantas mais demissões do mesmo tipo, pois não falta por aí economista ou engenheiro ou advogado ou doutor que não ocupem lugares da mesma natureza e que trabalham metade do ano para pagar os seus impostos como qualquer outro contribuinte, que não se importariam de estar nas mesma condições e como a mesma produtividade e profissionalismo e que, muito provavelmente, nunca pensariam na emigração como forma de ganhar mais dinheiro…

Parece que a caixa geral de depósitos se prepara para apresentar uns largos milhões de prejuízos no exercício de dois mil e doze…

17.12.12

A pés juntos

Com cara de poucos amigos lá foi dizendo que a ele ninguém o pressiona.

Eu diria que com aquela cara de poucos amigos ninguém vai tentar pressioná-lo, quando já se sabe o que ele vai fazer com o documento muito complexo com cerca de duzentos e cinquenta artigos.

Por mais especialista que apareça a afirmar que o documento ofende a constituição da república, nada poderá demover o presidente de promulgar o orçamento de estado e para ficar bem com a sua consciência vir dizer ao pessoal que neste momento uma república integrada na união europeia sem orçamento seria uma república sem rei nem roque.

Sem rei já nós sabemos, tão só porque estamos num regime republicano, mas sem roque já é outra coisa, pois anda por aí muita gente que não se cansa de gritar bem alto contra uns quantos sem qualquer outro objetivo que não seja delapidar os parcos haveres de cada um.

Ainda havia muita gente convencida que o presidente ia vetar o orçamento por causa de umas quantas coisas que não cheiram lá muito bem e relacionadas com as pensões de muitos portugueses que passaram uma vida a descontar para a sua reforma contratada logo no início e que agora está a ser mandada para as urtigas por uns inteligentes de meia tigela, cujo motivo do seu governo e das suas ações mais não é que fazer baixar os rendimentos da malta em cerca de quarenta por cento do que se verificava no ano de dois mil e oito.

Por isso ainda os vamos aturar mais dois anos, mas lá para o meio de dois mil e treze virão com palavrinhas mansas e palmadinhas nas costas dizer-nos que a crise está quase a acabar, que o crescimento está mesmo aí, que a recessão acabou, que o emprego está em franca recuperação e que muito brevemente o país poderá ir aos mercados financiar-se para continuar a pagar a dívida aos senhores do mundo.

Já começamos a estar preparados para aturar estes dislates todos levando aos quatro cantos do mundo a imagem de um povo que apesar do cabresto, da "arreata" e do chicote continuamos a primar pelo bom comportamento e fazer manifestações pacíficas como se vivêssemos no melhor dos mundos e gritar aos sete ventos que aqui continua a viver um povo com dignidade, apesar da qualidade ética e moral dos nossos políticos.

Nada nos demoverá de caminhar com a cabeça erguida, pois estamos convictos de que ninguém está a meter as mãos nos nossos bolsos, isto é, que as nossas pensões e os nossos salários estão a coberto de qualquer tentação de mau uso por parte de quem tem o poder para o fazer através do esbulho declarado que é feito através dos impostos diretos e indiretos.

É com um orgulho do tamanho do mundo que sabemos ter um presidente que é imune a qualquer tipo de pressão venha donde vier e um primeiro que afirma a pés juntos que não há qualquer inconstitucionalidade no orçamento de estado. Mesmo que o universo diga o contrário

Temos dúvidas, mas acreditamos nos nossos governantes.


 

15.12.12

Tinha que ser

Tinha que ser: o presidente vai promulgar o orçamento de estado, mas remete para o tribunal constitucional o documento para uma fiscalização sucessiva da constitucionalidade de algumas normas.

Não se esperava outra coisa de um presidente que é especialista em mandar recados e a dizer que já disse, mas a tomar posições firmes e concretas sobre alguns desmandos do governo não é coisa para o seu feitio.

Mas isto não é coisa que estivesse fora dos planos e das nossas perspetivas, principalmente quando sabemos que o presidente tem medo de enfrentar o poderio do ministro das finanças, sabendo ele que tomar uma posição desta natureza era o mesmo que tomar uma posição contra os mandachuvas da europa, do banco central europeu e do fundo monetário internacional, porque para ele a comissão europeia não joga neste tabuleiro, tanto mais que lá está um seu apaniguado que nada faz a não ser receber uns bons milhares todos os meses e mandar umas bocas de vez em quando.

Mais vale estar calado e ter contenção em algumas afirmações sobre a inconstitucionalidade de algumas normas do orçamento de estado, nomeadamente no que se refere aos pensionistas e à progressão dos escalões do irs, quando nada se pode fazer ou, melhor, nada se quer fazer porque falta o poder dar uns murros na mesa com intenção de fazer barulho e de mandar à outra banda um técnico qualquer que não percebe nada do que é a vida de um reformado, de um desempregado e até de um trabalhador que viva do seu salário.

Vamos começando a perceber que temos presidente para tudo o que não precisamos dele, mas para tudo o que importa ter um presidente à maneira estamos longe de ficar minimamente satisfeitos e contentes pela sorte que nos tocou na última ida às urnas.

Diz-se por aí que os povos têm os governos que merecem, mas eu estou convencido que a nossa tristeza, a nossa amargura, o nosso desânimo não se fundamentam no governo que nos tenta governar, mas na impotência do presidente em fazer ouvir a voz do povo e responder com coragem às nossas preocupações mais profundas, assumindo com dignidade as funções de presidente de todos os portugueses.

Eu imagino a fúria do presidente por se sentir atado de pés e mãos para não fazer aquilo que devia fazer principalmente porque na sua frente está alguém

Insignificante do mais puro recorte tecnocrático a mando dos seus patrões que lhe ditam todos os dias ou todas as semanas o que deve fazer no dia seguinte.

De outro modo, quando for posto na alheta, o que já não deve demorar muito, o seu lugar pode ser posto em causa pela sombra negra, que controla as nossas vidas…

Um dia isto muda.

14.12.12

A caridade e a solidariedade

Eu gosto de ver o pacheco pereira irritado e quanto mais irritado ele está mais gosto de o ouvir principalmente quando o motivo da sua irritação se relaciona com coisas sobre as quais não vale muito a pena discutir.

O pacheco a atirar-se como cão a bofe e o seu companheiro a fazer das tripas coração para justificar aquilo que não tem ou tem pouca justificação a não ser através de um raciocínio e de uma interpretação bem digna dos mais devotos escolásticos.

Não se trata de uma escolha ou de uma opção relativamente fácil a de se tomar partido pela caridade ou pela solidariedade. Aquela nunca deixará de estar profundamente ligada à esmola da mão direita com o conhecimento e conivência da esquerda e esta justifica-se plenamente na dignidade da pessoa humana por mais maltrapilha que se sinta e se veja.

Não haverá muito para discutir sobre esta duas perspetivas da dádiva e da entrega e da dedicação à resolução ou à contribuição de cada um para o bem-estar das pessoas independentemente da sua escala de valores e dos fundamentos em que eles se baseiam.

O que importa, no meio de tudo isto, é a profunda convicção de cada um em assumir o compromisso social de participar e contribuir ativamente para a dignidade de vida de qualquer pessoa, tendo sempre presente que será mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus, não sendo necessário trazer à citação as epístolas do apóstolo para dar mais força à justificação da caridade.

Nos tempos que correm, assumir-se que a caridade tem e desempenha o seu papel na solução dos problemas sociais não ofende ninguém, mas será também preciso ter em conta que não se tratará da mesma coisa quando se fala e se compara com o "amor ao próximo", como valor ético baseado nas epístolas do apóstolo.

De qualquer forma, nos tempos presentes será, talvez, bem mais curial falar e apregoar bem alto para que toda a gente possa ouvir claramente os valores universais da "solidariedade" devida aos cidadãos de todas as latitudes e todas as longitudes, porque, neste caso, se trata de um direito e de um dever e de uma obrigação e não apenas de uma boa vontade em colaborar naquilo e naquelas coisas que podem passar muito bem sem mim e sem o meu envolvimento.

Eu posso ter o direito de não praticar essa tal "caridade", abstendo-me de depositar o meu contributo no carrinho de compras com destino aos armazéns do banco alimentar contra a fome, mas nunca terei o direito e a obrigação e o dever de ser solidário nem que seja com um profundo lamento pelas guerras inúteis, travadas sobre valores baseados na posição ética e moral de cada um dos intervenientes.

 

8.12.12

Quem não berra

A Grécia berrou e mamou, a Irlanda berrou e vai mamar e dos "países de programa" o único que não mama é aquele que não berra, mesmo que não seja puta.

O mais anedótico da situação é que Portugal continua a dizer que não berra, não tem necessidade de berrar e quem diz o contrário não é bom português e deseja que Portugal seja um país de terceiro mundo e não do mundo dos primeiros que é a união europeia.

Na verdade, se Portugal não tem necessidade de mais dinheiro, se não tem necessidade de mais tempo, se não lhe parece confortável ver diminuídas as taxas de juro, se se sente bem com a situação, se não se quer parecer com a Grécia, se tem ódio e rancor a quem diz o contrário, por que causa de água haverá de dizer que precisa de mais tempo, que precisa de mais dinheiro, que quer ver mais baixas as taxas de juros, que quer ser menos roubado, se continua airosamente a afirmar o contrário?

Está bem de ver, como diz o presidente da CE, o tal que abandonou o governo e "fugiu" de Portugal, que quem não berra não mama e para mamar é preciso berrar mesmo que seja educadamente e com bons modos, como os bons alunos costumam fazer.

Não tenho por hábito papar todos os telejornais e jornais da manhã, da tarde, da noite e da madrugada nem sentar-me devotamente perante o televisor para ver e ouvir todos os programas de opinião de comentadores políticos e todos os demais politólogos que abundam nas nossas antenas, mas invisto o tempo suficiente para ter uma ideia do que se passa e de algumas opiniões daquela gente cujo "metier", se não o principal, será certamente o mais rentável, ficando altamente estupefacto por alguns "amandarem" arrotos e postas de pescada quando, antes no governo, só fizeram porcaria ou nem sequer porcaria se lhe pode atribuir dada a nulidade e desconhecimento da sua passagem pelo dito.

Mas fiquei surpreendido por ter ouvido um destes dias um comentador político avançar com a ideia que quem manda na troika não é mais nem menos que o segundo, isto é, o ministro das finanças, isto é, o gaspar, porque o Baltasar anda a ver navios e o outro não se interessa por estas coisas. A missão da troika não passa de uns quantos técnicos quem devem ganhar um balúrdio e que vêm a Portugal umas quantas vezes para umas conversas amenas com o tal e assinar o recibo do salário, porque estas coisas ainda se fazem obedecendo à lei fiscal, não vá o pessoal ter que se lembrar que também devem pagar os respetivos impostos.

Na verdade, a coisa até tem o seu sentido de ser verdade, pois que o segundo, será certamente o primeiro, nestas coisas de países de programa, uma vez o homem provém de lá e, por isso, terá que prestar contas do que lhe mandaram fazer, para poder ser recebido com dignidade quando for corrido a pontapé por indecente e má figura feitas e praticadas neste paraíso à beira mar plantado, embora isto não impeça que seja sugado até ao tutano por estes executores a mando do capitalismo ordinário.

Um dia virá o ajuste de contas…


 


 

6.12.12

Em que ficamos

Agora também o presidente da república vem a terreiro reclamando para Portugal as mesmas condições concedidas á Grécia no que se refere aos empréstimos do fundo europeu de estabilização.

Por outro lado autoridades europeias vêm afirmar que os juros pagos por Portugal são de três por cento, o que está muito bem, não havendo necessidade de reduzir ainda mais os ganhos dos capitalistas sugadores do sangue português…

Vá-se lá entender esta brincadeira de diz e desdiz, de informa e desinforma, de sim e de não, parecendo que se está perante uma brincadeira de mau gosto para o pessoal que se limita e ficar impávido e sereno à espera que os inteligentes, espertos e manda chuvas se entendam e digam de uma vez por todos o que querem fazer connosco.

Ao fim e ao cabo precisamos de ter conhecimento do que nos espera e exigimos saber quais as verdadeiras posições do primeiro e segundo e o que pensa realmente o presidente da república.

Andar nas meias tintas para enganar ou tapar os olhos do pagode nunca será desculpa, pois vamos começando a entender que não se pode andar a enganar o pessoal durante muito mais tempo.

Já é chegada a altura para seguir os conselhos do conselheiro do governo para entrega ao capital do património nacional não lhe faltando descaramento e pouca vergonha para poder afirmar levianamente que o ajustamento da economia está terminado, faltando agora resolver o problema do respetivo financiamento.

Claro que nós entendemos o que o conselheiro quis dizer: o custo do trabalho já chegou ao pretendido pelo capital, pelo que estamos em condições de recomeçar como se de um novo ciclo se tratasse.

Estamos bem servidos quanto a conselheiros e aconselhados, mas ainda nos esperam dois anos para o financiamento da economia se torne uma realidade generalizada, principalmente a nível das pequenas e médias empresas, que o capital ainda não domina através da detenção da propriedade mas impõe as suas condições de sobrevivência: ou fazes o que eles querem ou estás feito num oito…

Tomem nota do seguinte: bastaram três ou quatro dias para que a imprensa deixasse de falar das constitucionalidades ou inconstitucionalidades do orçamento de estado para dois mil e treze bastando para tal que o presidente mandasse uns palpites sobre a igualdade de tratamento por parte das instituições financeiras europeias, parecendo que outros valores mais altos surgiram no horizonte da crise portuguesa.

Venham de lá as manifestações das massas para não permitir o esquecimento das desgraças do povo e fazer lembrar o nosso trigésimo terceiro lugar dos países "menos" (?) corruptos a nível mundial…!!!

Será que já esquecemos que os funcionários públicos e os reformados vão continuar a ser espoliados de um salário e o outro vai ser pago em duodécimos para pensarem que foram aumentados e não roubados?

Chegará o dia do ranger de dentes… e nessa altura não haverá contemplações.


 

4.12.12

Os troca-tintas

Não já não podem restar quaisquer dúvidas: estes senhores são uns troca-tintas e já ninguém os leva a sério.

Até agora, os ditos e os não ditos encarreiravam-se às minhas maravilhas, não havendo qualquer problema numa afirmação às segundas-feiras e a sua negação ou, pelo menos, a sua correção logo na terça-feira.

Mas era estranho que assim fosse, pois o pessoal não estava habituado a assistir a este espetáculo do dito e do não dito a esta velocidade. Parece que estamos a presenciar uma desgarrada para ver quem diz e quem se desdiz em primeiro lugar e vem logo a dar uma segunda leitura e uma terceira interpretação das palavras e das afirmações, que todos entenderam claramente o seu sentido e o seu significado.

Alguma vez haveria de ser a primeira para termos um primeiro e um segundo a asneirarem alternadamente, sempre que botam faladura, quer seja no interior quer seja no exterior.

A semana passada tivemos a oportunidade de tomar nota de umas quantas afirmações muito acertadas e muito doutas e muito razoáveis, parecendo haver a convicção plena de que estes senhores estavam convencidos que na UE não havia tratamento desigual entre os membros, assumindo-se como natural que os membros deveriam ser tratados da mesma maneira, sendo que a situação e a realidade de cada um seriam iguais, ou, pelo menos, muito semelhantes.

Mas logo vieram afirmar o seu contrário, pois não se pretendia o mesmo tratamento porque as realidades não eram iguais ou, pelo menos, não eram semelhantes e muito menos comparáveis.

Claro que nós entendemos: como à criançada na escola primária quase que basta um olhar mais fixo para que se coloque a bolinha um pouco mais baixa e se acabe com a asneira.

Toda a gente já sabe que a realidade grega não é a realidade portuguesa e quem quiser o mesmo tratamento está longe de entender o que realmente se passa, a não ser que se queira atirar poeira para os olhos dos internos, porque os externos já estão batidos e não vão em cantigas de gente que não acerta uma.

Os gregos sabem muito bem que os acontecimentos dos meados do século passado ainda não estão, infelizmente, esquecidos e são suficientes para que a situação dos gregos não seja comparável com a dos portugueses, mesmo que isto fizesse um jeitão ao primeiro e ao segundo.

Cá nos vamos habituando a este corrupio de ditos e desditos por mal dos nossos pecados, pelos quais não queremos responsabilizar qualquer troca-tintas que nos toque na rifa…

PS.: Gostaria muito de saber onde para o terceiro…

3.12.12

As previsões furadas

Não faltava mais nada para completar o ramalhete: agora são os trabalhadores dos impostos a ameaçar fazer ou mesmo fazer greve para que o governo tenha cuidado com eles, uma vez estes trabalhadores consideram-se fundamentais para cobrar impostos.

Não tenho a certeza se estes trabalhadores estão com toda a razão para fazerem greve, mas certamente estão seguros de que o governo não os vai maltratar como tem feito aos outros trabalhadores da função pública.

Toda a gente sabe que existem uns quantas classes na administração pública que têm capacidade e competência para enfrentar o poder político e estão totalmente à vontade com estes e até com outros governantes, uma vez que as funções exercidas permitem-lhes elevar a voz se for necessário.

Para agravar ainda mais a situação, uns técnicos, ditos independentes, de uma unidade da assembleia da república vem a público afirmar que a meta do défice para o ano de dois e doze está cada vez mais distante de ser alcançada, o que vem lançar mais achas para a fogueira dos falhanços das previsões do segundo, que continua a não acertar uma, o que, para ele, não é nada de importante e não passam de previsões, às quais só a oposição e alguns jornalistas e comentadores atribuem alguma utilidade.

Bem vistas coisas, se as previsões sobre metas e objetivos das contas públicas e da sua execução não têm qualquer interesse para os responsáveis de as fazer, então não ficamos a saber da utilidade e da necessidade de haver previsões sobre as metas do défice e das diversas variáveis, sobre as quais todas as organizações nacionais e internacionais dão alguma importância.

Mas estes governantes estão completamente à vontade para fazer as ditas previsões e estabelecer as diversas metas, sabendo que tudo isto não passa de retórica e de exercício de estilo para suavizar os erros e as asneiras do desempenho das suas funções.

Não faltava mais nada para vermos o primeiro e o segundo a ficarem preocupados por a sua política não atingir as metas que em devido tempo anunciaram, às vezes, com pompa e circunstância.

A verdade é que já não é a oposição e tampouco o são uns quantos comentadores maldizentes e outros jornalistas esquerdistas ou revolucionários (?) a dizerem bem alto e com todas as letras e acentos que o défice fixado pelo governo perante a troika não será atingido, ficando-se, mais uma vez bem longe do previsto mesmo que se conte com o ovo no cu da galinha, que é como quem diz, com as receitas milionárias de algumas privatizações a serem feitas nos últimos dias do ano de dois e doze…

Todos aqueles, que continuamos no rebanho ainda que a protestar suavemente pelo que nos vai acontecendo, já sabíamos que as previsões do governo não têm qualquer credibilidade, mas o que estávamos longe de admitir era que o primeiro e o segundo lançam as suas previsões porque é obrigatório fazer previsões, embora não estejam minimamente preocupados se se confirmam ou se não se confirmam, sendo que o mais certo é que saiam furadas completamente.

Mas fizeram previsões…


 

1.12.12

Por conta e risco

Podem dormir descansados e não pensar no assunto: o orçamento foi aprovado e vai ser mandado ao senhor presidente da república para a devida promulgação.

É evidente que o presidente vai fazer uma análise profunda até às entranhas das contas públicas previstas e não vai encontrar matéria suficiente para as enviar ao tribunal constitucional.

Por isso, todos aqueles que se têm manifestado contra a constitucionalidade do orçamento brandindo as suas armas até à exaustão podem tirar o cavalinho da chuva que o trabalho solicitado não vai ser feito pelo presidente que em boa verdade não é pau mandado de uns quantos políticos e comentadores e sábios e de todas as bandas, para além dos muitos politólogos, agora em voga.

Se alguém quiser que o tribunal constitucional olhe para o orçamento terão que ser os interessados a requerê-lo, porque o presidente não está disponível para sacrificar a sua reputação somente para agradar a alguns, independentemente de serem juízes, políticos e sindicalistas, técnicos especialistas, independentemente de serem decimo segundo anistas ou mestrados e doutoramentos..

Se o presidente nunca foi capaz de se assumir frontalmente durante toda a sua carreira política, se nunca foi capaz de afrontar a indignidade, se nunca deu a mão nem pôs o rabo ao lume por quem quer que seja, por que carga de água o ia fazer agora?

Se o ano passado não o fez com muitas mais razões para o fazer, porque o faria agora quando as coisas estão assim tão complicadas para toda a gente?

Que os impostos são muito elevados para muitos portugueses? O presidente dirá que isso também se aplica a ele, tanto mais que as suas pensões mal chegam para pagar as suas despesas e as da respetiva família, pelo que não se pode dizer que os impostos não são progressivos, pois quem ganha mais paga mais e daí não vem mal ao mundo.

Mas se houver alguém ou alguma classe social um tanto ou quanto privilegiada e totalmente insuspeita que queira ver decretada a inconstitucionalidade de algumas normas do orçamento, que faça as indispensáveis diligências e não queira que seja o presidente a assumir responsabilidades que, embora sejam da sua competência, podem não ser da sua conta e risco.

O mais que nós agora podemos esperar é uma comunicação no facebook muito técnica sobre as necessidades da existência de um orçamento, sob pena de a democracia portuguesa perder a confiança e a credibilidade dos mercados e pôr em causa a saída iminente da crise…