28.5.08

A desigualdade

Durante o serão de ontem passei cerca de vinte minutos na SICN a ouvir o JMJ e o AB a falarem sobre aquele tal relatório da EU sobre desigualdades e do lugar ocupado por Portugal.

Questionados sobre o fenómeno e principalmente sobre as suas causas foi para mim doloroso ouvir a intervenção do JMJ metendo os pés pelas mãos e misturando alhos com bugalhos como se aquilo fosse do seu total desconhecimento.

Ouvi este senhor a confundir pobreza com desigualdade e lançar a ideia de que a coisa poderia ter algum remédio se houvesse um pouco mais de mecenato social, sendo que em Portugal parece que não existe esse hábito frequente lá pelas estranjas.

Nunca me passou pela cabeça que este homem, altamente conceituado na sociedade portuguesa, fosse tão vazio e tão estéril de ideias e de conceitos sobre esta matéria.

Foi preciso que o AB tomasse a palavra para dizer que o seu interlocutor estava a baralhar os conceitos, pois que a pobreza pouco ou nada tinha a ver com o fenómeno da desigualdade de distribuição de rendimentos existente em Portugal, a que o relatório dizia respeito.

Sobre as causas o JMJ nem uma ideiazinha colocou na mesa e também foi preciso o AB para dizer qualquer coisinha sobre a matéria, mas, mesmo assim, encolhendo os ombros como se ele não tivesse conhecimento das causas e das razões do fenómeno.

Porque tem, de certeza que tem, mas não se deu ao trabalho de atirar para a discussão o que lhe está na alma, como algumas vezes tem feito, porque teria de dar muita pancada a muita gente e a chamar os bois pelos nomes…

Pois é!

É nisto que dá ser-se advogado ou jurista, muito bem pago, para não perceber absolutamente nada de fenómenos de natureza social com raízes na economia e no desenvolvimento.

Talvez que bastasse um pouco mais de cultura matemática na vertente estatística para entender um pouco melhor do que o relatório realmente trata.

Se ele tivesse algumas noções de estatística básica, como são as noções de média, mediana e desvio-padrão e até ordens percentílicas para já não falar das percentagens, talvez que encontrasse alguma ideia para explicar a desigualdade da distribuição dos rendimentos.

Será que alguma vez o JMJ terá pensado que uma "classe média" forte poderia ter alguma influência nos números de tal relatório…?

A única afirmação de valor, por ser verdeadeira, que ouvi ao JMJ durante estes vinte minutos foi que "… ganho bem… e hoje vivo melhor que há dez anos…"

Mas os "portugueses" vivem hoje pior que há dez anos, apressou-se a afirmar o AB…

27.5.08

O peditório

Se o presidente da associação das empresas petrolíferas (parece que apenas oito) começar a aparecer todos os dias nas televisões e nas rádios a "c…." postas de pescada será certo e sabido que um dia destes ainda vamos fazer um peditório para ajudar nas despesas das tais empresas.

E se não for um peditório será, pelo menos, o reconhecimento do importantíssimo papel social desenvolvido ao serviço da economia nacional, pois que sem elas voltaríamos à idade da pedra, mas sem pedra alguma para lascar…

Continuamos a ouvir o discurso da total transparência dos preços praticados pelas petrolíferas, mas também continuamos sem uma cabal explicação por parte de quem de direito ou de obrigação sobre o diferencial de subida entre o preço do petróleo e o preço da gasolina e do gasóleo, imputando tudo à especulação dos fundos de pensões para lavar a selvajaria praticada pelo capital…

Torna-se engraçado pensar que são os fundos de pensões os grandes responsáveis pelo aumento dos produtos petrolíferos, relegando para lugares secundários os fabulosos lucros das empresas petrolíferas, que começam, elas próprias a advogar a baixa dos impostos praticados na actividade.

Claro que os homens do Governo não serão assim tanto loucos ou até mesmo parvos e tontos para ir na conversa da baixa dos impostos, porque sabem muito bem que o resultado dessas baixas não seria reflectida no preço final dos produtos…

"Tá-se" mesmo a ver que o resultado dessas baixas iria direitinho para os cofres das empresas petrolíferas, pois encontrariam maneira de manter os preços e nunca cair na esparrela de os baixar, quando tinham à sua disposição mais uma boa maquia para o banquete servido de bandeja de platina e mesmo à mão de colher…

Se assim fora, porquê dar se podia ficar?

Nunca ninguém deu um porco em troca de um chouriço…

Apenas JC distribuiu vinho bom e apenas depois de o pessoal já estar meio passado com o vinho a martelo anteriormente servido… e foi o que se viu.


 

26.5.08

O burro do espanhol

Há umas horas atrás descobri os fundamentos mais profundos para a minha preguiça escritural: há tanta porcaria a merecer umas linhas que não tenho tido a capacidade suficiente para uma boa decisão, parecendo que estou a seguir os mesmos passos que toda essa gente que não se cansa de falar sapientemente da "escalada" do preço dos combustíveis.

Pois é! Decididamente torna-se impossível não dizer qualquer coisa, muito menos importante e até muito menos inteligente, mas qualquer coisa que toda a gente saiba dizer e que não tenha grandes dificuldades em dar uma resposta razoável, que é coisa que não se pode pedir nem a primeiros, nem a segundos e muito menos a terceiros ou todos aqueles que vivem à grande e à portuguesa a ganhar uns bons milhares de euros a ler textos, tantas vezes mal escritos, a fazer perguntas muitas delas idiotas por não terem resposta ou a responder sem resposta a essas tais perguntas e ainda a comentar com muita elegância e educação e até seriedade, por não se estarem a rir, as grandes questões do nosso tempo do momento.

Lá vem a frase bombástica para rematar todas as veleidades de esperança por uma resposta razoável: vocês, atenção!, vocês têm que habituar-se a viver com o petróleo muito caro, porque os tempos do petróleo barato já não voltam!!!...!!!...

E tenham muita atenção nestas tiradas de morte porque elas são pagas a peso de ouro, pelo que pouco interessa que o gasóleo ou a gasolina, ou o gás, ou seja o que for tenha um preço elevadíssimo, porque para esta gente pouco ou nada interessa essa coisa do preço dos combustíveis.

Para essa gente o que importa é o impacto dessas tiradas, o seu valor comercial e o cheque que recebem por terem a lata de as dizerem sem que o nariz cresça um palmo e meio…

A nossa ignorância é totalmente incapaz de entender a pouca vergonha desta gente que é capaz de estar a falar durante trinta minutos sem dizer uma única coisa com verdadeiro interesse para aportar uma explicação minimamente razoável do que se está a passar com os preços dos combustíveis…

Mas esta mesma nossa ignorância merecia uma resposta simples a uma pergunta simples: se o petróleo sobe 10 por que razão há-de a gasolina subir 40 e o gasóleo 50?

Mas não me venham com a treta de os noruegueses pagarem a gasolina a 1,70 euros ou que estamos na média europeia para justificarem seja o que for… e muito menos para utilizar os transportes públicos para ir para o emprego…

Nestas coisas ainda alimento a grande esperança: ver o burro do espanhol vivo depois de se habituar a não comer…


 


 


 


 


 

15.5.08

O cigarro

Certamente que terão acontecido muitas coisas interessantes durante as oito horas do voo do Primeiro para Caracas a bordo de um avião fretado à TAP para transportar uma tão importante comitiva oficial.

De tudo o que terá acontecido está devidamente realçado o facto de o Primeiro e o Ministro terem fumado uns quantos (?) cigarros durante o voo, encafuados lá para um canto do avião, não suficientemente escondido para não permitir a sua visão.

E mesmo que não permitisse a visão, com toda a certeza que deixaria o cheiro transitar por todo o avião para que toda a gente ficasse sabendo que alguns passageiros não resistiram ao vício do tabaco, talvez contrariando a lei em vigor, no entender de alguns constitucionalistas e entendidos na matéria.

Vai daí que o Primeiro e todos os outros dão-se ao luxo de infringir a lei na presença e à vista de toda a gente sem medo e sem receio de todas as consequências, sendo que a menos grave seria o pagamento da respectiva coima, independentemente de se considerar que o avião etcetera e tal…

Dado que já não fumo há mais de três anos, pouco me importa que o Primeiro e o Ministro fumem dentro de um avião durante um voo de oito horas; pouco me importa também que tenham aproveitado um voo de uma visita oficial para fazer asneira.

O que me importa é que os noticiários das televisões, dos rádios e dos jornais deram mais realce aos cigarros do Primeiro e do Ministro que aos acordos celebrados com o Presidente da Venezuela, um dos quais se relaciona com a troca de petróleo por comida…

Como se Portugal fosse um país de grandes produções de géneros alimentares…

Enquanto o Primeiro e o Ministro davam umas chupadelas no cigarro num, em Portugal as empresas petrolíferas aumentavam os combustíveis em mais 3 cêntimos…

Estou a ver a cena toda: no avião o Primeiro e o Ministro da Economia a dar uns quantos cêntimos ao Estado por força do imposto do tabaco; em Lisboa o Ministro das Finanças esfregava as mãos de contente porque eram mais uns quantos milhões sacados aos cidadãos; em Portugal inteiro eram os cidadãos que vergavam um pouco mais as costas por força do roubo legal…

O que é que se há-de fazer deste País…???!!!


 


 


 


 


 

1.5.08

Era verde…

Razoavelmente acomodado num sofá do Belmiro, tive a oportunidade de folhear um jornal diário afamado pelas suas tiradas e ler umas quantas linhas assinadas pelo Sr. Saleiro (esse mesmo, o tal, o amigo do coração), a propósito do preço dos combustíveis.

Na mesma página, dedicada aos combustíveis, aparecia uma referência a uma entrevista do actual Presidente dos Revendedores, fazendo uma comparação entre o valor do dólar e o preço do barril de petróleo e o valor do euro entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, podendo concluir-se que o diferencial era pouco mais de 1 (um cêntimo) por barril, esclarecendo que 1 (um) barril de petróleo tem 200 (duzentos) litros…

Nem comentadores, nem analistas, a maior parte dos quais não deve pagar os combustíveis dos "seus" automóveis, já explicaram ao povo o que se está a passar com o aumento dos preços dos combustíveis.

Esta gente limita-se a tentar justificar o preço do barril de petróleo com o nível de reservas dos USA, com uma qualquer grave numa plataforma da Nigéria, com as ondas do Mar do Norte ou ainda com o mau humor dos árabes, sabendo eles perfeitamente que todas estas justificações são para ignorante pensar que eles, os comentadores e os analistas, são poços de ciência nestas matérias…

Cá por mim, tenho por certo que tudo isto se fica a dever à selvajaria do capitalismo actual, que tem pressa de engordar cada vez mais, sem parar um pouco para pensar que a comida pode acabar, isto é, que os consumidores estão pelas ruas da amargura e que não vão aguentar muito mais.

E quando falo em selvajaria não me refiro apenas ao capital privado mas também ao público, que continua a ganhar milhões de euros com esta escandaleira nacional.

O que mais me escandaliza nesta coisa toda não é eu ter de pagar os combustíveis aos preços que uns quantos senhores fixam como querem e como lhes apetece, pois bem podia deixar o automóvel no parque do Belmiro. O que mais me chateia é o Governo, isto é, o Primeiro e seus Ministros continuarem calados que nem uns ratos numa tentativa de baixar o défice à custa das nossas carteiras e não terem a dignidade e a coragem de intervir "rapidamente e em força" para domar estes cavalos à solta…

Depois não se admirem se há mais violência, se há mais assaltos, se há mais qualquer outra coisa que não seja do seu agrado…

Parece-me que a paciência está a acabar e só há pouca-vergonha…

Porque a vergonha era verde… e o burro comeu-a…