29.3.18

O desejo

Afinal o meu desejo formulado antes da famosa e espectacular acção de limpeza das matas pelos nossos importantes não se confirmou: foram umas pinguinhas que não chegaram para formar umas poças de água nas estradas de terra batida de acesso aos locais escolhidas para fazerem a festa.
Foi uma pena.
Não a não satisfação do meu desejo, mas principalmente a pouca chuva que caiu naqueles locais, pois que ainda continua a fazer muita falta às muitas barragens que estão longe de deitar pelas bordas fora, que é como quem diz: ainda não estão cheias.
Mas a vida é assim: foi a festa, alguns deitaram os foguetes e outros foram apanhar as canas para ficarem com uma recordação.
Pode perguntar-se se valeu a pena a despesa que foi feita com os custos dos equipamentos utilizados e combustíveis gastos para transportar e pôr a trabalhar umas dezenas de importantes.
Bem vistas as coisas e se quisermos ser justos, deveríamos estar satisfeitos porque andamos sempre a dizer e a queixar-nos que os de cima nada fazem em prol dos de baixo e quando e aqueles nos dão o exemplo e se põem a trabalhar, nada mais salutar que ficarmos contentes e satisfeitos pelo exemplo dado pelos nossos governantes a fazerem uma coisa que nunca tinha sido feita: roçadora nas mãos e vai daí que o trabalho é para se fazer e não para se ir fazendo.
Por mim gostei de ver o pouco que vi e tive a oportunidade de sentir nas profundezas do meu ser que o INTERIOR, no sentido mais amplo do termo, incluindo território, pessoas, cultura, economia, matas, arvoredo, bichos, e tudo o mais que por ali se pode encontrar, deve acreditar que o ar condicionado jamais o esquecerá.

23.3.18

A roçadora

Estou a imaginar o marcelo, o costa e mais vinte importantes de roçadora na mão, de galochas calçadas, de impermeável contra a chuva vestido, de chapéu ou boina ou carapuço na cabeça a "operar" na limpeza da mata algures no centro do País.
Vai ser bonito e engraçado vê-los, quais combatentes heróicos a dar cabo do lixo das matas que rodeiam as casas e as estradas e que foram a "causa" de tanta desgraça e fundamento de tantos clamores.
Continuo a imaginar o marcelo, o costa e mais vinte importantes a beberem água por um cantil da tropa quando a garganta de cada um ficar seca por causa da poeira e da serradura proveniente da acção das roçadoras e das serras mecânicas, operadas por tão ilustres portugueses.
E atrevo-me a imaginar o marcelo, o costa e mais vinte importantes a sentarem-se na beira da estrada ou encostados a uns eucaliptos para sacarem da marmita e atreverem-se a ingerir o seu almocinho bem rápido, porque ainda falta muito lixo para retirar da mata.
Talvez a coisa não se passará conforme imagino, uma vez que a metereologia está prever chuva para continuar a regar os campos e a dar força aos arbustos cortados e aos eucaliptos queimados nos nos incêndios do verão passado.
E quando os ponteiros dos relógios indicarem que o tempo disponível para a tarefa está quase a esgotar-se, lá se ouvirá uma voz para mandar parar o sol e aguentar mais uns tempinhos para que nada fique por fazer dos propósitos destes portugueses ilustres: demonstrar que é possível fazer o que não foi feito e que deveria ter sido feito há muito tempo e continuar a ser feito todos os dias do ano: limpar Portugal.
Agora o meu desejo: espero bem que os canais de televisão, as estações de rádio locais, regionais e nacionais, jornais e toda a espécie de pasquins, jornalistas de pena, jornalistas de microfone, fotógrafos e portadores de telemóveis estejam ausentes desta brincadeira de mau gosto, que se vai realizar no próximo sábado.
Se isto não for possível, que os céus abram as portas e deixem passar água, granizo e neve quanto baste para obrigar a que este pessoal se meta nos carros e volte a suas casas, porque espectáculos tristes já vamos tendo por aí quase todos os dias.
Ao menos, que descansem ao fim de semana...

21.3.18

O prognóstico

Se não houvesse fósforos,
Se não houvesse isqueiros,
Se não houvesse gasolina,
Se não houvesse petróleo,
Se não houvesse trovoadas,
Se não houvesse relâmpagos,
Se não houvesse incendiários,
Se não houvesse malucos,
Se não houvesse estradas,
Se não houvesse pinheiros,
Se não houvesse eucaliptos,
Se não houvesse mato,
Se não houvesse carros,
Se não houvesse aldeias na mata,
Se não houvesse casas,
Se não houvesse pessoas,
Se eu soubesse de antemão,
Se eu fosse capaz de prever,
Se eu fosse capaz de ver o futuro,
Se eu tivesse tempo para...
Se Portugal se localizasse dentro do círculo polar ártico ou antártico...
Quase de certeza "absoluta"
Que não haveria incêndios...

Pois claro: " prognósticos só no fim do jogo."
 
 

16.3.18

A seca

Nos anos em que as águas da barragem do maranhão passavam além da ponte vinte e cinco de abril entre o Ervedal e Figueira e Barros ouviam-se algumas vozes de alentejanos empreendedores a quererem extrair terra do leito da referida barragem, que era, é e continuará a ser mais que muita.
Serviria essa terra para muitas coisas, pois a sua riqueza em resíduos orgânicos viria mesmo a calhar para adubar e fertilizar outras terras, nomeadamente, jardins, hortas, olivais, vinhas, etcetera e tal...
A chamada "hidráulica" nem cavaco lhes dava, pois era proibido mexer no leito das barragens para tirar fosse o que fosse, chegando ao ponto de, na actualidade, proibir o pastoreio e o acesso dos animais, à água para saciarem a sede.
Agora os inteligentes lembraram-se da necessidade, conveniência e ocasião de "limparem" o leito das barragens para aumentar a sua capacidade de armazenamento de água.
A seca, que já vem de longe, agora denominada de "extrema", vai de encontro ao que alguns alentejanos vêm desejando fazer a alguns anos a esta parte: aceder ao leito descoberto das barragens para dali extrair a terra de aluvião de muita utilidade em muitas situações.
Agora até chegaram a mobilizar a  "tropa" para fazer o serviço...
Mas tal decisão pecou por ser tardia e a más horas, porque pouco tempo decorrido passaram por Portugal duas tempestades que quase acabavam com a seca "extrema" e deixavam as barragens quase na sua capacidade máxima.
E ainda não acabou.
Por este andar não tarda que os inteligentes comecem por aí a bradar aos céus que "nunca mais acaba de chover" e "já estamos fartos de tanta chuva" e muito mais dos ventos que a acompanham.
Somos uns ingratos.
Mas isto é mesmo assim: quando temos os pés molhados queremos sol; quando temos os pés secos queremos chuva.
Mesmo que as barragens do alentejo cheguem à sua capacidade máxima, no fim do verão do ano corrente teremos a oportunidade de ver e ouvir os tais inteligentes a ordenar a limpeza do leito das barragens utilizando todos os equipamentos disponíveis, como agora pretenderam fazer com os "tropas", mas já não foram a tempo...
O tempo o dirá...

7.3.18

Não entendo

Já não faço a mínima ideia do que vai passando nesta santa terrinha.
Parece-me que tudo isto anda ao contrário: anda-se pela esquerda quando se deveria andar pela direita; fala-se verdade quando se deveria falar mentira; discutimos quando deveríamos andar alegres e contentes com a nossa vizinhança; amamos quando deveríamos odiar; somos felizes quando deveríamos andar trombudos e insatisfeitos por tudo e por nada; cantamos quando deveríamos berrar alto e bom som para que todo o mundo nos ouvisse; enfim, já não entendo nada disto.
Bem vistas as coisas não tenho confiança em coisa alguma que acontece no burgo: tudo me faz desconfiar porque nada me parece sair do coração e tudo me parece indicar que a falsidade é o maior lugar comum que me é dado observar.
Já não confio em ninguém porque ninguém me dá garantias de que falar verdade e só a verdade e aos costumes diz nada.
Mas nem tudo anda pelas ruas da amargura.
O que resta, ainda me deixa ver uma luzinha lá no fundo mesmo lá no fundo do túnel, o que me oferece uma ligeira consolação, porque nem tudo está perdido.
Salvam-se umas boas horas diárias dedicadas ao futebol pelos diversos canais de televisão, sendo protagonistas  jornalistas e comentadores, que investem toneladas de conhecimento a demonstrar que o mundo está perdido e próximo da extinção, mas que eles, defensores máximos da dignidade, da ética, da moral e da verdade verdadinha ainda estão ali para as curvas e não vão deixar que um punhado de energúmenos e de malfeitores levem ao descalabro total o nosso glorioso futebol.
Nunca na vida irá acontecer, disso estou convencido, desde que pelo menos se mantenha ou se aumente como seria desejável o número e a duração dos programas dedicados ao futebol dos nossos canais televisivos e, se tal for possível, pois aconselhável é de certeza, com mais jornalistas e mais comentadores, para que a nossa cultura suba um degrauzinho mais...
Às vezes pergunto-me como é possível haver quatro opiniões diferentes em quatro possíveis perante umas imagens passadas mais de vinte vezes...
Consciente de que a ciência não é para todos e que a certeza absoluta só existe na convicção de comentadores e de jornalistas, limito-me a colocar-me no meu devido lugar e agradecer tudo o que esta gente está fazer por todos nós e a bem da nação.  

2.3.18

O engano

Nos últimos dias os diversos canais generalistas de tv têm prestado  a devida atenção aos efeitos da tempestade "emma" que vai passando pela europa, deixando atrás de si um rasto bem visível de desgraças, que fazem a delícia dos jornalistas de microfone.
É um ver se te avias para mostrar as imagens do que vai acontecendo por  esse país fora dando voz aos pobres que sofrem algum prejuízo por perda ou estrago de alguns dos seus haveres.
Contudo, quem se der ao cuidado de prestar a devida atenção às muitas imagens que nos vão mostrando não deixará de verificar e de constatar que as mais das vezes são imagens repetidas e constantemente repetidas sem se darem ao cuidado de introduzir uma qualquer diferença que nos permita pensar que se trata de coisa nova.
De vez em quando lá vem uma coisa diferente para que os mais atentos fiquem a saber que a actualidade actual é apanágio dos canais generalistas de televisão.
Para cúmulo do engano por diversas vezes podemos constatar que as imagens passadas nos diversos canais são as mesmas e ainda por cima fartas vezes com o mesmo texto.
Também, se assim não fora, a lusa não teria qualquer utilidade... e não valia a pena a sua existência a não ser para garantir o pão e o emprego a uma quantas pessoas... independentemente das funções desempenhadas.
A tragédia continua: a tal tempestade "emma" nada mais faz que desgraças e tragédias e vítimas  e poucos ou nenhuns benefícios para o território nacional.
Bem vistas as coisas, que coisas boas nos pode trazer uma tempestade que se limita a derrubar árvores, a atirar ao chão postes de telefone e de electricidade, a trazer para as ruas toneladas de areia das praias, a escavacar estruturas de apoio a diversas actividades, a destruir residências, molhes e guardas e outras coisas mais...?
Poucos jornalistas se lembram de referir que têm caído algumas pingas que não fazem mal a coisa alguma e proporcionam uma boa regadela e contribuiem para que o campo satisfaça a sua enorme e grande sede... eliminando dalgumas regiões a famigerada e desgraçada "seca".
Lembro-me de algumas grandes inundações de outros tempos e até me atrevo a afirmar que tenho saudades...

1.3.18

O tempo

Nos últimos dias temos ouvido falar do "mau tempo" como se o tempo que enfrentamos fosse uma desgraça e até mesmo uma tragédia.
Temos uns pingos de chuva e umas rabanadas de vento acompanhadas de umas ondas um pouco fora do normal para que o pessoal "entendido" nestas matérias, nomeadamente jornalistas de microfone, leitores de teleponto, alguns comentadores e a generalidades dos meteorologistas passem o "tempo" a classificar o tempo como "mau tempo".
Claro que nem todos estão de acordo com estas classificações.
Hoje mesmo e dos poucos momentos que vejo este tipo de programas ouvi um senhor lá dos lados da Covilhã a protestar com este tipo de linguagem classificando o tempo como "mau tempo" precisamente numa altura em que toda a gente estava à espera da chuva, que normalmente vem acompanhada de vento e de outras coisas mais que chateiam o pessoal das secretárias.
Numa altura em que se lamenta profundamente a falta de água por esses campos fora, quando as barragens estão muito abaixo dos níveis aceitáveis, quando se fala de seca severa por todo o país, quando se perspectiva um ano de fome  e de desgraça para o mundo agrícola, temos a lata de designar como "mau tempo" o tempo que nos tem dado umas quantas pingas de água, que mais não são que uma boa regadela e que pouca influência terá no enchimento das barragens quase vazias.
Por mim, sempre tive a convicção que o tempo da chuva merecia o maior respeito por parte de toda a gente, mesmo que essa mesma chuva levasse pela frente umas quantas casas, que alagasse ruas e que virasse uns quantos carros com verdadeiro prejuízos para alguns.
Para resolver esses problemas existem os seguros e diversos fundos e bancos que nadam em dinheiro e não sabem o que fazer dele a não ser distribui-lo pelos accionistas...
Mas para a seca, para a falta de chuva, para as barragens vazias, para a falta de comida para os animais, para a desgraça da agricultura não há coisa que valha a não ser a chuva que nos traz o "mau tempo".
Pois que venham muitos períodos de "mau tempo", desde que nos traga algumas gotas de água minimamente suficientes para as nossas necessidades.
Mas como nem tudo deve ser tempo de desgraças e de lamentações, gostaria muito de perguntar a todos os inteligentes que agora discursam e opinam em todo o lado, que estudos têm produzido para defender ou apoiar a construção de um sistema de "transvases" do rio douro e do rio tejo para responder com eficácia à carência de água de algumas regiões do nordeste, das beiras e do alentejo, como aconteceu com a construção da barragem do alqueva...