9.2.21

O bloqueio

 Sempre que me sento na frente do computador para tentar deixar as minhas impressões sobre o desenrolar da pandemia do covid19 sinto um formigueiro nos dedos, que me causa um mal-estar na cabeça dando origem a uma dor difusa quase impossível de localizar e que se torna praticamente incapacitante de um mínimo de produtividade.
Tenho pensado por diversas vezes que estes sintomas devem ter uma causa que ainda não consegui identificar totalmente, mas que não deixam de me orientar nalgumas direcções com alguma probabilidade de estarem certas.
Ando verdadeiramente cansado de receber tanta informação sobre o tema proveniente dos diversos canais de televisão, com prevalência dos programas de informação, de comentários e com especial afinco dos telejornais e quejandos, pois que  estou alheio ao que circula nas ditas "redes sociais", sem qualquer excepção.
Fico abismado com tanta informação, tanta ciência, tanta certeza, tanta desgraça, tanta pobreza, tanta miséria, tanta incompetência, tanta ausência de bom senso, tanta falta de tacto político, tanta devoção à cacetada, tanto interesse pelo pormenor,  tanta apetência pela importante, tanto desejo pela desgraça.
Com tudo isto a toda a hora e a todos os dias em todos os canais de televisão a revelar os grandes cientistas comentadores, os grandes políticos especialistas, os grandes jornalistas comentadores e cientistas a debitarem por todos os poros a sua ciência crítica sobre os mais ínfimos pormenores da pandemia e da actuação do virus, não tenho outra hipótese que não seja estar calado e orientar-me para outro lado, nem que seja para ouvir as lamúrias dos treinadores de futebol antes e depois de  cada um dos jogos não ganhos.
Fico ainda a imaginar que esta sociedade ou este sistema de governo já não tem remédio e só lhe resta apresentar-se ao universo e assumir e confessar que não tem  capacidade de levar para os postos e cargos de gestão e de decisão da coisa pública os bons e os competentes e só ser capaz de contratar ou de escolher todos aqueles que não entendem coisa alguma do que é necessário fazer para tratar e resolver um problema.
Agora que se fala tanto da cooperação entre o sector público e o sector privado parece-me que não seria de todo errado haver uma troca entre os agentes em jogo: os bons e os competentes seriam "emprestados" ao sector público, enquanto os maus e os incompetentes, que inundam o sector público, seriam colocados em teletrabalho com a missão de não incomodar quem ainda não foi tomado pelo virus...
Que fazer de todos aqueles que botam faladura nos diversos canais de televisão com deslocações aos diversos estúdios que não estão localizados num mesmo centro comercial para debitarem as mesmas sentenças?
Ai virus!!! Que és muito injusto...