Quem quiser esquecer-se dos silvas, dos coelhos, dos gaspares, dos portas, e ainda de mais uns quantos que nos entram pela casa dentro a qualquer hora do dia e da noite sem se fazerem anunciar, retirem os carros das garagens e dos estacionamentos nas ruas ou nos parques e tomem a direção do leste ou do sul e limitem-se a olhar em todas as direções para se deliciarem com o espetáculo sublime do Alentejo em flor.
Não o façam pelas autoestradas, mas pelas estradas, de preferência pelas estradas secundárias e até pelas muitas camarárias, para terem a oportunidade de contemplar um dos maiores monumentos naturais que alguma vez e durante o ano inteiro se pode presenciar, fazendo com que as amendoeiras em flor pareçam um festival de segunda categoria.
Não demorem muito tempo a fazê-lo, porque lá para o fim do mês de maio a palete muda radicalmente, pelo que não devemos perder estas oportunidades para viver alguns momentos de pura felicidade ao contemplar uma natureza vibrante que nos obriga a pensar que ainda há muita coisa a viver para além das preocupações com a crise, muito mais acentuada no bulício da cidade.
Esqueçam o portátil, o ipod ou o telemóvel e quando muito façam-se acompanhar por uma máquina fotográfica, manifestamente suficiente para acalmar o espírito e recarregar as baterias quando se tiver que volver ao inferno da vida citadina e dos canais de televisão com todos os seus atores de segunda classe.
Há já uns anos que não me sentia tão maravilhado com os campos desse Alentejo profundo, mesmo o do pulo do lobo com as suas cores das estevas e dos tojos e do piorno e da giesta; aquele Alentejo dos campos verdes das ervas e das searas e dos campos pintados com as cores da natureza, ao alcance de um olhar sereno e tranquilo.
Será o suficiente para se esquecer o frio do inverno e o calor do verão, fazendo destes amenos dias da primavera a estação do verdadeiro e deslumbrante Alentejo, que muitos desconhecem e que não terão oportunidade de sentir se não se derem ao prazer de passar por lá nestas alturas do ano.
Admito que possa haver gente que prefira uma tarde de passeio à beira-mar ou a olhar as montras de um centro comercial ou até as ondas do mar numa praia meio deserta.
Mas perder a oportunidade de contemplar o hino à natureza que nesta época é o Alentejo, é perder a oportunidade de lavar a mente e o espírito da porcaria e da javardice da política dos nossos políticos politiqueiros, que não merecem a perda de um dia a contemplar a natureza em flor que agora está à nossa disponibilidade e que espera pela boa vontade de todos quantos ainda acreditam num futuro melhor.
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