10.4.13

As ramelas

Sai uma pessoa de Lisboa por dois ou três dias e meio e acontece uma revolução: o primeiro encheu o País de lágrimas de crocodilo com o seu discurso balofo e tragicómico capaz de partir os corações dos contribuintes, dos pensionistas e funcionários públicos; o presidente continua no seu melhor, isto é, sem saber o que fazer e pouco se importando com tudo o que está a acontecer desde que diga umas palavras de ocasião para português pensar que está num grande esforço para manter Portugal à tona, apesar da existência do ministro das finanças; não se sabe o que aconteceu ao relvas, sendo lícito pensar que anda a negociar as maturidades e as soluções para os buracos relacionados com a inconstitucionalidade de quatro normas da lei do orçamento, bem como o estudo das opções possíveis para sacar mais guita aos funcionários públicos, aos reformados e aos pensionistas; muitos políticos, politólogos e comentadores, salvaguardando o estoiro do novíssimo comentador político da televisão pública, não se lembraram que os juízes do tribunal constitucional fizeram um enorme favor ao governo ao não chumbar a contribuição extraordinária de solidariedade imposta aos reformados e pensionistas, colocando presidente da república na miséria semelhante à dos pobres portugueses que vivem com uma pensão ou um salário de mil euros por mês, mas sem direito a cama e roupa lavada por conta.

Nunca pensei que em três dias se pudesse dramatizar tanto a situação de Portugal parecendo que se está agora e neste momento na total bancarrota e na total penúria porque treze pessoas deliberaram dizer ao governo e ao ministro das finanças que a república das bananas ainda tem algumas semelhanças com uma democracia e existem regras e procedimentos que a diferenciam claramente de uma ditadura, mesmo que se trate de uma ditadura tendo por cabeça pensante um funcionário europeu que, por acaso, é português, agora a trabalhar em Portugal em representação de um membro da troika e a tentar cumprir os seus desígnios: dar a machadada final a um regime minimamente amigo dos pobres e dos desgraçados, que devem continuar a servir os seus senhores.

Parece que existe por aí muito boa gente a achar estranho que muito outra boa gente pense que existem razões e motivos ocultos para estas posições políticas, económicas e financeiras deste governo.

Por mim, tudo está claro e não tenho dúvidas sobre essas razões e esses motivos: trata-se de implementar as políticas mais liberais que já se viram em democracias ocidentais, levadas a cabo com a conivência dos nossos parceiros, com a finalidade principal de subjugar mais um país ao serviço dos senhores do mundo, comandados pelos misteriosos "mercados", que carecem de continuar a ganhar dinheiro.

Mas nem tudo está perdido: havia por aí uns quantos tipos convencidos que podiam gastar as verbas orçamentadas, sem autorização expressa do executor de falências: puro engano e fraco convencimento.

O ministro das finanças tomou as rédeas da governação e nada vai sair dos cofres do Estado sem a sua assinatura!

Agora é que o homem não vai ter tempo para tirar as ramelas dos olhos…


 


 

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