15.12.12

Tinha que ser

Tinha que ser: o presidente vai promulgar o orçamento de estado, mas remete para o tribunal constitucional o documento para uma fiscalização sucessiva da constitucionalidade de algumas normas.

Não se esperava outra coisa de um presidente que é especialista em mandar recados e a dizer que já disse, mas a tomar posições firmes e concretas sobre alguns desmandos do governo não é coisa para o seu feitio.

Mas isto não é coisa que estivesse fora dos planos e das nossas perspetivas, principalmente quando sabemos que o presidente tem medo de enfrentar o poderio do ministro das finanças, sabendo ele que tomar uma posição desta natureza era o mesmo que tomar uma posição contra os mandachuvas da europa, do banco central europeu e do fundo monetário internacional, porque para ele a comissão europeia não joga neste tabuleiro, tanto mais que lá está um seu apaniguado que nada faz a não ser receber uns bons milhares todos os meses e mandar umas bocas de vez em quando.

Mais vale estar calado e ter contenção em algumas afirmações sobre a inconstitucionalidade de algumas normas do orçamento de estado, nomeadamente no que se refere aos pensionistas e à progressão dos escalões do irs, quando nada se pode fazer ou, melhor, nada se quer fazer porque falta o poder dar uns murros na mesa com intenção de fazer barulho e de mandar à outra banda um técnico qualquer que não percebe nada do que é a vida de um reformado, de um desempregado e até de um trabalhador que viva do seu salário.

Vamos começando a perceber que temos presidente para tudo o que não precisamos dele, mas para tudo o que importa ter um presidente à maneira estamos longe de ficar minimamente satisfeitos e contentes pela sorte que nos tocou na última ida às urnas.

Diz-se por aí que os povos têm os governos que merecem, mas eu estou convencido que a nossa tristeza, a nossa amargura, o nosso desânimo não se fundamentam no governo que nos tenta governar, mas na impotência do presidente em fazer ouvir a voz do povo e responder com coragem às nossas preocupações mais profundas, assumindo com dignidade as funções de presidente de todos os portugueses.

Eu imagino a fúria do presidente por se sentir atado de pés e mãos para não fazer aquilo que devia fazer principalmente porque na sua frente está alguém

Insignificante do mais puro recorte tecnocrático a mando dos seus patrões que lhe ditam todos os dias ou todas as semanas o que deve fazer no dia seguinte.

De outro modo, quando for posto na alheta, o que já não deve demorar muito, o seu lugar pode ser posto em causa pela sombra negra, que controla as nossas vidas…

Um dia isto muda.

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