Eu gosto de ver o pacheco pereira irritado e quanto mais irritado ele está mais gosto de o ouvir principalmente quando o motivo da sua irritação se relaciona com coisas sobre as quais não vale muito a pena discutir.
O pacheco a atirar-se como cão a bofe e o seu companheiro a fazer das tripas coração para justificar aquilo que não tem ou tem pouca justificação a não ser através de um raciocínio e de uma interpretação bem digna dos mais devotos escolásticos.
Não se trata de uma escolha ou de uma opção relativamente fácil a de se tomar partido pela caridade ou pela solidariedade. Aquela nunca deixará de estar profundamente ligada à esmola da mão direita com o conhecimento e conivência da esquerda e esta justifica-se plenamente na dignidade da pessoa humana por mais maltrapilha que se sinta e se veja.
Não haverá muito para discutir sobre esta duas perspetivas da dádiva e da entrega e da dedicação à resolução ou à contribuição de cada um para o bem-estar das pessoas independentemente da sua escala de valores e dos fundamentos em que eles se baseiam.
O que importa, no meio de tudo isto, é a profunda convicção de cada um em assumir o compromisso social de participar e contribuir ativamente para a dignidade de vida de qualquer pessoa, tendo sempre presente que será mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus, não sendo necessário trazer à citação as epístolas do apóstolo para dar mais força à justificação da caridade.
Nos tempos que correm, assumir-se que a caridade tem e desempenha o seu papel na solução dos problemas sociais não ofende ninguém, mas será também preciso ter em conta que não se tratará da mesma coisa quando se fala e se compara com o "amor ao próximo", como valor ético baseado nas epístolas do apóstolo.
De qualquer forma, nos tempos presentes será, talvez, bem mais curial falar e apregoar bem alto para que toda a gente possa ouvir claramente os valores universais da "solidariedade" devida aos cidadãos de todas as latitudes e todas as longitudes, porque, neste caso, se trata de um direito e de um dever e de uma obrigação e não apenas de uma boa vontade em colaborar naquilo e naquelas coisas que podem passar muito bem sem mim e sem o meu envolvimento.
Eu posso ter o direito de não praticar essa tal "caridade", abstendo-me de depositar o meu contributo no carrinho de compras com destino aos armazéns do banco alimentar contra a fome, mas nunca terei o direito e a obrigação e o dever de ser solidário nem que seja com um profundo lamento pelas guerras inúteis, travadas sobre valores baseados na posição ética e moral de cada um dos intervenientes.
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