Parece que o senhor leite vai abandonar o lugar de vice-presidente da caixa geral de depósitos e regressar ao ensino universitário, onde é professor catedrático.
Espero bem que a caixa não perca nada de especial e que a faculdade de economia ganhe um grande economista e que todos nós ganhemos um adversário da política fiscal do governo.
Disto teremos a certeza porque o homem andou a entregar ao estado os seus sete primeiros salários, uma vez que se libertou dos impostos no dia um de agosto.
Bem podia lembrar-se que há milhares, talvez até milhões, de portugueses que gostariam de entregar ao estado tudo o que ganharam durante os primeiros sete meses do ano, na certeza que nos outros cinco meses mais os dois subsídios mais todas as alcavalas pecuniárias e seguros e mais não sei o quê receberiam uns quantos milhares perfeitamente suficientes para fazerem uma boa vidinha descansados e satisfeitos e de papo cheio.
Talvez até que existem por aí milhares de portugueses que não se importariam de pagar um pouco mais se lhes fosse garantido o salário mensal deste senhor que agora regressa à vida universitária para contar aos seus alunos a trabalheira de ser vice-presidente da caixa geral de depósitos, lugar de altíssima responsabilidade em nada comparada com a de ser professor catedrático, função que lhe deverá dar muito tempo para os tais pareceres encomendados pelas instituições estatais que andavam à deriva pela sua ausência ou, melhor, pela sua ocupação, que não lhe deixava nem um minuto de tempo livre para aconselhar quem precisava de conselhos em tempo útil.
Fico com muita pena deste homem, porque ao menos sai em beleza de um belo lugar, não só quanto ao seu prestígio, mas principalmente pelo seu nível remuneração, muito inferior ao de professor catedrático…
E sai em conflito ou em desacordo com quem lá o colocou na sequência dos altos serviços prestados ao partido naqueles dois anos de pré-campanha eleitoral.
Por tal circunstância não podemos deixar de salientar a sua nobreza de caráter pois e apesar de tão prestigiado e bem remunerado lugar não foi suficiente para sublimar a sua consciência de cidadão e fazê-lo regressar à sua nobre função de formar mais uns quantos economistas salvadores das economias dos países de programa ou de países em vias de terem programa.
De qualquer maneira devemos reconhecer que esta demissão é muito bem capaz de dar origem a umas quantas mais demissões do mesmo tipo, pois não falta por aí economista ou engenheiro ou advogado ou doutor que não ocupem lugares da mesma natureza e que trabalham metade do ano para pagar os seus impostos como qualquer outro contribuinte, que não se importariam de estar nas mesma condições e como a mesma produtividade e profissionalismo e que, muito provavelmente, nunca pensariam na emigração como forma de ganhar mais dinheiro…
Parece que a caixa geral de depósitos se prepara para apresentar uns largos milhões de prejuízos no exercício de dois mil e doze…
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