29.3.13

O regresso

Apesar de entender que todos os factos e acontecimentos justificam qualquer opinião que se possa ter deles, mesmo que nos causem constrangimentos a aconselhar passagem uma borracha por cima deles e remetê-los para as gavetas arquivadoras das nossas memórias traumatizantes, nem sempre podemos deixar de fazer uma simples referência, para que se entenda que estivemos com alguma atenção, ao que se vai passando por aí.

No que me diz respeito, a importância que dou a algumas coisas da política cá do burgo não tem qualquer semelhança com a atribuída pelos jornais, pelas rádios e pelas televisões, que se masturbam continuamente para atender às contingências das audiências, que não perdoam o esquecimento do que está na berra, principalmente quando se trata de algum escândalo que envolva gente da alta ou da política.

Foi de doidos, completamente de doidos, o comportamento de todas as televisões e rádios e jornais a propósito do regresso do Sócrates, na sua suposta e atribuída qualidade de ex-primeiro ministro e responsável por tudo o que de mal ele e todos os outros fizeram e fazem e farão.

Fiquei altamente admirado pelas vozes surpreendidas pela prestação do engenheiro e agora mestre em ciências políticas, pois estaria longe de pensar que havia comentaristas, jornalistas, politólogos e outros substantivos mais identificadores dos especialistas em política que esperavam que o engenheiro viesse pedir perdão e cumprir as penitências impostos pelos pecados e males praticados contra a nação.

Ninguém no seu perfeito juízo e no seu próprio bom senso deixaria de fazer algum comentário ao regresso do engenheiro, mas não era preciso tanto emoção, tanto barulho, tanto ruído, tantas palavras, tantas posições, tantas verdades e tantas asneiras, como o que se ouviu, se viu e se leu, mais parecendo que se tratava da vitória de Portugal num qualquer campeonato, mesmo de sueca, desde que se tratasse de qualquer coisa que derrotasse o mundo.

Os nossos jornalistas, seja da imprensa escrita, seja dos rádios, seja das televisões vão às núvens por pouca coisa e desatam a exagerar mais parecendo que o facto, a notícia e o acontecimento não têm qualquer valor se não tiverem mais de uma hora de tempo de antena em todos os canais em simultâneo.

Não me lembro de uma saída ou de um regresso merecer tanto tempo de antena com todos os histerismos apropriados para fazer do facto normal uma coisa do outro mundo.

Eu sempre estive convencido que a história recente de Portugal, principalmente a de depois de abril de setenta e quatro está muito mal contada, existindo muita coisa nebulosa na nebulosa política portuguesa, mas tenho como certo que não haverá total esclarecimento enquanto os seus atores não deixarem o palco à disposição de todos aqueles que conseguem o mínimo de independência na apreciação dos acontecimentos.

Os interesses privados de muitos dos nossos homens públicos não permitem

que se faça um julgamento sério e honesto da maior parte dos factos que influenciaram e influenciam e vão influenciar a situação social, económica e financeira de Portugal.

O engenheiro regressou.

Muitos vão ter que aturá-lo…

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