7.3.13

Até aos anos setenta

Já começam a surgir mais opiniões sobre a tal desvalorização de Portugal face à impossibilidade de desvalorização da moeda corrente.

Parece que um tal senhor importante lá dos lados da germânia manifesta a sua opinião não apenas quanto à desvalorização do País mas ainda a saída da moeda única como forma de resolver os problemas da economia portuguesa.

Cá por mim, que já tinha adiantado por diversas vezes que se perspetivava a desvalorização do País nas políticas fiscais, económicas e sociais, no que se refere aos custos do trabalho e das pensões e do estado social, não vejo que não se possa equacionar as diversas hipóteses que se podem colocar.

Também reconheço que nós não temos os trunfos que estão aos dispor dos gregos nas respetivas relações com os alemães, uma vez que aqueles são claramente credores e estes claramente devedores e essas coisas não se esquecem em uma ou duas gerações, tanto mais que o que aconteceu entre gregos e alemães no durante no pós-guerra mundial ainda está vivo e bem patente na consciência dos gregos.

Contudo, naquele mesmo período andámos a dar uma no cravo e outra na ferradura e nunca tivemos uma posição política suficientemente clara para que hoje alguma das partes tenha qualquer tipo de consideração por via desta matéria.

Estivemos neutrais, mas apoiámos as duas partes, servindo Portugal de plataforma giratória para tudo o que era necessidade de descanso e de espionagem e de refúgio e de asilo para ambos os contendores e suas respetivas vítimas.

Mas nesta coisa, a moral e a boa vontade de pouco ou nada servem e hoje encontramo-nos à mercê de todos os que nos utilizaram e na primeira deitaram fora como se de lixo se tratasse.

O pior de tudo é que, a par do desprezo com que grande parte dos nossos amigos nos trata, temos uma elite de governantes que prometeram tudo e mais alguma coisa para ganhar eleições e logo que se apanharam a mandar, tomaram conta dos nossos destinos para nos entregar de alma e coração àqueles que, à pala da dívida e dos empréstimos, só pretendem uma colónia de consumidores escravizados e dominados.

Já não chega para esta gente ter Portugal amordaçado por mais quarenta ou cinquenta anos; querem mais e esse mais é pura e simplesmente desvalorizar Portugal em cerca de quarenta por cento, para que fiquemos reduzidos à dimensão de um país terceiro-mundista a começar agora a sua iniciação no processo de desenvolvimento económico.

Vamos ter que nos habituar a pensar que os objetivos desta quadrilha estão bem claros no que se refere a custos do trabalho e do dito "estado social", incluindo a segurança social, a saúde e a educação, mas mantendo-se os custos do capital como estão atualmente, bastando olhar com uma ligeira atenção para os lucros das atividades financeiras e seguradoras e para os resultados das empresas produtoras de bens e de serviços de consumo obrigatório.

Contudo, ainda não capitulámos…e ainda não regredimos até aos anos setenta…

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