A propósito da refundação do estado, da minimização do estado social, da sustentabilidade da segurança social, do corte dos quatro mil milhões às gorduras do estado, do significado das parcerias público-privadas, de tudo e de mais alguma coisa que sirva para lixar o Zé-povinho, alguns inteligentes do governo ou próximo dele levantaram a hipótese de estar em curso uma luta de gerações ou até uma guerra entre gerações, mais conhecida por "conflito de gerações".
A coisa é simples: como os velhos beneficiam de chorudas reformas, alguns dos quais pouco fizeram para as merecer, e os novos não têm emprego nem subsídio de desemprego sendo obrigados e forçados à emigração, desata-se a falar da luta geracional para tentar justificar o corte nas pensões e na revisão das contribuições sociais, como forma de atenuar e até eliminar a tal guerra que está iminente, carecendo de tratamento a condizer para ser evitada a todo o custo e a bem da nação.
Esta gente anda um tanto ou quanto desatinada e parece que ostenta um buraco na cabeça por ter saltado um parafuso que faz, de certeza, alguma falta para que o equilíbrio da emoção e do raciocínio se mantenha na sua plenitude.
À falta de melhor atira-se para a rua a ideia de que em Portugal é manifesta a existência de uma luta entre todos aqueles que já pouco devem à vida e esses outros que estão na plenitude das suas capacidades físicas e mentais, dotados de uma formação escolar, cultural e até profissional, que é o orgulho dos seus progenitores.
Não sei se houve, mas estou quase certo que não, uma geração tal altamente qualificada como a geração nascida em finais da década de sessenta e década de setenta e até oitenta, a que tem agora a bonita idade dos Trinta/quarenta e que domina tudo o que é posto de alguma importância na cultura, na economia, na engenharia, no ensino, nos serviços e em quase todas as atividades onde a necessidade de técnicos altamente especializados é colmatada por essa tal geração que querem que se oponha àquela que pouco ou nada já tem por onde se lhe pegar, a não ser a sua pensão, ganha com o esforço das suas vidas.
Destes, os que chegaram às universidades, deslocavam-se em transportes públicos, quando não a pé, para tudo quanto era sítio, desde a sua casa para o trabalha, para a escola, para o liceu, para a universidade, muitos deles também em horário pós-laboral, com a qualidade de estudante trabalhador, figura que atualmente já nem se houve falar, mas havia empregos para quase todos os que queriam trabalhar.
Agora, o emprego e o trabalho são bens inestimáveis e a sua falta justifica a politiquice de meia tigela ostentando o conflito de gerações como pano de fundo, como se a solidariedade fosse devida aos jovens sem emprego por parte dos velhos com pensões…
Vai continuar a fala-se de conflito de gerações, mas espero que apareça alguém com dois dedos na testa e bradar bem alto que o conflito de gerações é uma treta para entreter o pessoal, porque o que na realidade existe é um conflito pelo exercício do poder, independentemente dos oito ou dos oitenta anos…
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