10.1.13

A traulitada

Experimentem um pontapé nos tintins, um murro no estômago, um soco no maxilar inferior, uma traulitada na nuca e um choque elétrico de duzentos e vinte vóltios e depois digam-me que tal foi o KO.

Foi o que me aconteceu a uma qualquer hora da tarde de ontem e só durante a tarde hoje comecei a lembrar-me do sucedido: recordei-me daquele sorriso sacana, malicioso, imbecil e cretino de moedinhas quando se anunciava com pompa e circunstância o conteúdo do relatório do fmi, encomendado pelo governo e com a participação exclusiva (?) de ministros e secretários de estado sobre as ações para a refundação do estado, que quer dizer; em linguagem popular, a submissão e a escravatura de noventa e cinco por cento de portugueses e o corte de quatro mil milhões de euros na despesa do estado social.

Claro que os outros cinco por cento estão-se verdadeiramente nas tintas para moedinhas e quadrilha porque estão muito acima destas mentes brilhantes, que dispensam com todo o desprezo, apesar de serem os seus testas de ferro e os executores dos seus desígnios mais sacrossantos em defesa e do bom nome do dinheiro.

Para não passar em revista os mais de oitocentos anos de história desta terra, basta lembrar os anos trinta, os anos da guerra de espanha, os anos da segunda guerra mundial, os anos da guerra de áfrica, o vinte e cinco de abril, o verão quente e os anos da democracia plena ou quase plena para estar convicto que também vamos ultrapassar mais esta aventura.

Mas todos vamos pensando que nunca como agora fomos estamos totalmente subjugados e violados por um quadrilha de malfeitores, cujo objetivo se esconde por detrás de palavras e de conceitos como a refundação do estado, subentendo-se pura e simplesmente que se trata de roubar e subtrair tudo o que se veio a construindo de há umas dezenas de anos a esta parte.

O que mais choca no meio destas javardices todas é que já não se trata de subverter o estado de direito aniquilando a classe média que sempre pagou e mais uma vez vai pagar todos os desvarios dos governantes, mas também fazer entrar na liça todos aqueles desgraçados que vivem na pobreza e na miséria social e económica do mais aviltante para a condição humana, como se se tratasse de lixo numa imensa lixeira.

Falta saber, porque não sabemos, não imaginamos e nem fazemos a mínima ideia, o que se pretende atingir com este processo de degradação da coesão social e dos princípios éticos da vida humana.

Tratar-se-á do exercício puro e duro do poder ao serviço de um mecanismo social desconhecido, tipo, "senhores do mundo", "despertar dos mágicos" e do "capitalismo selvagem" no seu esplendor?

Virá o dia em que aquele sorriso sacana dará lugar ao queixo caído, à baba e ao ranho de moedinhas a tilintar na calçada.

 

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