5.1.13

A entrevista e os recados

O presidente encheu com uma longa entrevista umas páginas do Expresso, edição do quadragésimo aniversário, o qual, para um jornal, é deveras interessante. Quis associar-me a esta efeméride comprando a tal edição e logo passei em revista quase todas as suas páginas, deixando de lado umas outras cheiinhas de publicidade.

Daí que me deparei com essa tal entrevista do presidente, que não tive paciência para ler, atirando os olhos apenas para as caixas e por umas quantas perguntas, pouco me interessando o conteúdo das respostas.

Estou convencido que não perdi grande coisa e se os factos me ditarem o contrário, terei a oportunidade de prestar a atenção que é devida a um catedrático, a um secretário de estado, a um primeiro-ministro, a um presidente da república, a um político com o mais longo percurso na política, que a história recordará, certamente, como um logro e um embuste.

Digo isto plenamente convicto do que digo, porque a vistoria que faça da vida política deste homem não me permite enfatizar e realçar o que quer que seja que não pudesse ter sido feito por qualquer um outro.

Quando tocou, quando toca e quando tocará a tomar decisões que impliquem colocar as mãos no fogo ou navegar na crista da onda ou colocar-se no fio da navalha, o homem escreve qualquer coisa a dizer que disse e que avisou ao apropriar-se do pensamento coletivo e atirar cá para fora umas tiradas de se lhe tirar o chapéu, deixando todos de boca aberta pela sua clareza de pensamento.

Eu diria que o presidente tem obrigação de mandar recados ao governo assim como os manda aos portugueses sobre o que deve fazer e sobre o que não deve fazer, sobre o que se suporta e sobre o que já não se suporta etc e tal.

Mas eu preferia, em vez de ouvir e ler estes tais recados ao governo, saber que o presidente tomara uma posição clara e firme sobre tudo o que pensa e defende em termos presidenciais e constitucionais perante o primeiro em pessoa e perante o segundo em pessoa e perante o terceiro em pessoa e se fosse preciso perante todos os outros, cujos papéis e responsabilidades afetam a vida dos cidadãos.

É sabido que o primeiro e o segundo se estão nas tintas para os recados do presidente. Se assim não fosse, teria sido possível a apresentação pela segunda vez consecutiva com alíneas que suscitam ao presidente "fundadas dúvidas" sobre a sua constitucionalidade, com o maior dos descaramentos e pouca vergonha, pondo em causa a dignidade institucional do presidente e dos juízes do tribunal constitucional?

Se o presidente está plenamente convencido que o caminho seguido e as perspetivas que se colocam no curto e no médio prazo são suficientes para pôr em causa a coesão social deste país, então não pode deixar de assumir as suas responsabilidades e usar e utilizar as suas competências constitucionais para pôr ordem neste caos político, económico e financeiro em que nos encontramos e cuja saída não se vislumbra mesmo olhando para lá das montanhas…

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