30.11.12

A boa vontade

Não há dúvida alguma que os portugueses foram, são e serão uns ingratos, mal-agradecidos e radicais a tal ponto que não entendem e nem sequer fazem o mínimo esforço para perceberem que uma meia dúzia de inteligentes são nossos amigos e estão a sacrificar a sua vida particular, familiar e profissional para que, muito em breve, Portugal não deva nada a ninguém e muito menos aos próprios portugueses.

Deveríamos ter um pouco mais de compreensão para quem tanto se sacrifica por todos nós e deveríamos apresentar a suficiente boa vontade para temperar com um pouco de bom senso a algazarra quase diária que se ouve nas escadarias do palácio de são bento e poupar os nossos deputados e verdadeiros representantes da democracia, que não são minimamente responsáveis por qualquer coisa que não seja a devoção plena e a entrega total aos serviço público.

Bem vistas as coisas, estes homens e estas mulheres que foram eleitos em sufrágio eleitoral mais uns quantos e quantas envolvidos e envolvidas na salvação da pátria não são mais responsáveis por tudo o que se está passando que qualquer um de nós que não abdica de um mês de salário ou de pensão para minimizar a crise das dívidas soberanas, tendo presente que os bancos e os banqueiros são de todos os mais inocentes no meio de tudo isto.

Quer se queira quer não se queira esta meia dúzia de inteligentes que legislam e governam a arraia miúda são os que vão demonstrando no dia a dia o verdadeiro interesse e intensa dedicação para resolver, nem que seja à porrada fiscal, a crise de que não são minimamente responsáveis.

Não entendo esta barulheira toda e este ruído de fundo, de frente e de lado e de cima que nos envolve, por causa do pagamento do subsídio de natal ou de férias em duodécimos, isto é, pelo pagamento repartido pelos doze meses do ano!

Ninguém tem o direito de duvidar que estes senhores não têm outro objetivo que não seja facilitar a vida às famílias portuguesas, que passam a beneficiar de mais uns quantos euros todos os meses em vez de os receberem de uma única vez durante o ano.

Ninguém tem o direito de duvidar das boas intenções desta gente quando se predispõe a assumir a gestão mensal do nosso subsídio evitar que cada um de nós faça asneira da grossa e gaste tudo de uma vez, o que seria, como não pode deixar de ser, uma má gestão dos nossos já parcos recursos.

Não vejo, assim, haver qualquer boa razão para não nos sentirmos agradecidos pela disponibilidade demonstrada pelos deputados, pelo primeiro, pelo "segundo" e até pelo inefável da segurança e mais uma meia dúzia de beneméritos nacionais.

Por mim, fico agradecido…

24.11.12

O gasóleo aditivado

A defesa do consumidor está a dar cartas para que os consumidores tenham cada vez mais consciência da qualidade dos produtos de qualquer natureza colocados no mercado.

Nem sempre nos é dada aos consumidores a verdadeira opção por um determinado produto, pois que a sua qualidade e respetivo preço nem sempre estão disponíveis e acessíveis à maioria dos consumidores.

Se quase sempre posso comparar os preços fixados, bastando ter tempo e paciência, em grande parte dos casos, quanto à qualidade já é outra cantiga.

De facto, não é tarefa fácil analisar com clareza a qualidade dos produtos disponíveis no mercado por muitas diferentes razões, sendo que considero ser a principal a pouca informação detida pelos consumidores, apesar de os rótulos mostrarem uma razoável quantidade de informação relativamente aos seus componentes físicos, químicos e energéticos. Veja-se, como exemplo, a indicação de que "contém sulfitos" constante dos rótulos de todas as embalagens de vinho e até de vinagre.

Alguém me sabe dizer o que são os sulfitos e quais os seus efeitos no organismo?

Vem isto a propósito de uma notícia tornada pública no dia de hoje: segundo um estudo da DECO o gasóleo disponível nas bombas dos supermercados e nas bombas da galp são rigorosamente iguais, independentemente de terem ou não terem quaisquer aditivos, não havendo, assim, qualquer justificação para uma diferença de preços tão elevada.

Poder-se-á sempre dizer que a estratégia fundamental dos supermercados não é ganhar dinheiro com a venda de combustíveis e que o seu negócio é de outra natureza. apresentando-se os combustíveis como complemento do negócio das grandes superfícies comerciais.

Contudo, devemos ter presente que os fornecedores de combustíveis aos supermercados são os mesmos fornecedores detentores das bombas de combustíveis e no caso concreto da galp, que é o único refinador existente em Portugal.

Esta situação agora denunciada pelo DECO só vem comprovar o que já há muito tempo se vinha murmurando por todo o lado: aquela história dos aditivos não passava de mero embuste para a manutenção de um elevado preço dos combustíveis praticados pelas gasolineiras.

De resto, já se dizia que à saída das refinadoras os combustíveis não têm qualquer diferença entre as várias marcas disponíveis no mercado, sendo que as diferenças eventualmente existentes entre elas não são produto do processo de fabrico, findo o qual poderá, eventualmente entrar em funcionamento os tais aditivos, conforme continua a afirmar a referida refinadora.

Embora admita que o dever de cada um, mesmo antes da verdade, é defender a sua dama, sendo aqui a dama é o capital e os lucros, tenho por prática normal o abastecimento no fim de semana, aproveitando as promoções existentes e utilizando o cartão do Glorioso, obtendo um preço igual ou mesmo inferior ao dos praticados nos supermercados.

22.11.12

As previsões

Agora já entendi as razões que estão por detrás dos erros permanentes em tudo o que diz respeito à politica económica e financeira do governo: trata-se de "previsões" e como tais são passiveis de erro.

Gosto desta interpretação: as previsões são necessárias e imprescindíveis para acompanhar a evolução e as metas estabelecidas pelo governo em todos os seus planos, mas não passam de palpites pelo que haverá sempre uma possibilidade de arredondamento para baixo ou para cima, para que o palpite se torne uma realidade.

É como no jogo da bola quando os comentaristas desportivos anunciam que vão "projetar" o jogo de amanhã. Trata-se apenas e tão só de um palpite tendo em conta a importância de que se reveste o facto, o acontecimento e o jogo.

Se acertei, fico todo satisfeito porque a minha previsão coincidiu com o objetivo fixado; se não acertei, tanto se me dá, porque daí não vai mal ao mundo e sempre posso afirmar que se trata de uma "previsão" e não uma conta de matemática ou posso denunciar que os acontecimentos não se sucederam como eu queria ou que fatores estranhos e incontroláveis, como sejam as variáveis intervenientes estiveram presentes e influenciaram o resultado final

Claro que se eu avançar o valor do resultado de um jogo de futebol estou, na prática a fazer uma aposta: aposto que os azuis vão perder e que os encarnados vão ganhar, independentemente de pensar que a minha vontade era precisamente o contrário.

Só que quando se trata da política económica e financeira não será bem a mesma coisa: aumento os impostos com a perspetiva de arrecadar um determinado volume de receitas, mas porque fiz mal as contas, apliquei pressupostos errados, falsos ou viciados ou pura e simplesmente me baseei no meu desejo íntimo de governantes responsável e inteligente, saiu-me um resultado final completamente diferente do que eu estava à espera.

Razão tinha e continua a ter aquele famoso jogador de futebol quando afirmou solenemente que "prognóstico só no fim do jogo".

Eu acrescentaria que nestas coisas da política económica e financeira do governo e mais concretamente do ministro das finanças "previsões" só depois das contas encerradas e visionadas pelo Tribunal de Contas.

Bem vistas as coisas, para nós, que andamos a contar todos os dias os cêntimos disponíveis, qual é o problema se a previsão para o crescimento do pib é um meio ponto ou três quartos de ponto?

Se as previsões não servem para nada nem sequer para serem certas não vejo qual o mal em não haver previsões e se as houver e serem erradas também não vejo que seja razão suficiente para nos doer a cabeça.

Creio que não vale a pena sermos "picuinhas"…


 

21.11.12

Muitos milhões

Tenho observado diversas maneiras de olhar a crise que vamos atravessando, sendo que os internautas não deixam a coisa por mãos alheias.

Vai daí desatam a fazer as contas mais mirabolantes que se passa imaginar, mas que não deixam de merecer a nossa atenção e justificar uma reflexão do significado de tudo isto.

Tudo nos leva a acreditar piamente que se torna inevitável toda a austeridade que abunda em quase todos os países do planeta, mas nunca se vislumbrou que os senhores do mundo poderiam disponibilizar outras opções que não fosse sacar o mais possível sem cuidar da dignidade da pessoa.

Vão fazendo todos os possíveis para nos fazer crer que a culpa é dos governantes que não sabem governar ou que não querem governar, pretendendo tão somente     que o importante é o capital ou, se quiserem, os mercados que comem sem deixar nada para ninguém.

Um maluco qualquer agarrou nuns quantos exemplos das crises mundiais e desata a fazer contas demonstrando que as hipóteses de salvar o pessoal de toda esta trapalhada estão mesmo nas mãos de quem quer que as quisesse colocar ao serviço do povo…

O governo dos USA já terá colocado nas instituições financeiras norte-americanas qualquer coisa como setecentos mil milhões de dólares com a justificação de ser necessário salvar o sistema financeiro lá do burgo e, em consequência, o capitalismo mundial. Admitindo que o planeta terra terá uma população próxima dos seis e setecentos milhões de habitantes teríamos que dividindo aquela guita toda por esta gente toda caberia a cada um cerca 104 milhões de dólares, o que não seria uma coisa assim tão má.

O governo aqui dos nossos vizinhos prepara-se para injetar no sistema financeiro qualquer coisa como trinta mil milhões de euros com a mesma justificação, isto é, evitar a falência do sistema.

Segundo dados de dois mil e oito a Espanha teria cerca de quarenta e seis milhões de habitantes, sendo que cada um poderia receber cerca de seiscentos e cinquenta e dois milhões de euros, se a guita fosse distribuída por todos os espanhóis…

Para não fazer crescer, muito indevidamente, água na boca e fazer disparar a expectativa do fim da crise, nem sequer me atrevo a fazer as contas para Portugal, sendo que o nosso sistema financeiro viu disponibilizados doze mil milhões de euros para evitar a respetiva falência…

Bastava dividir doze mil milhões por dez milhões e mandar depositar na respetiva conta bancária…

E digam lá que os mercados não são nossos amigos…

20.11.12

O corte de milhões

Há relativamente pouco tempo mandaram-me por correio eletrónico mais de vinte páginas do Diário da República com uma relação exaustiva de entidades individuais e coletivas ligadas e relacionadas com a agricultura e respetivos montantes de subsídios concedidos e referentes ao primeiro semestre de dois mil e doze.

Não faço a mínima ideia se aqueles subsídios são justos e merecidos, mas não deixa de ser estranho que numa altura destas se proceda à distribuição de milhões de euros sem que se apresente qualquer tipo de justificação e sem o mínimo de referência aos projetos subsidiados e financiados.

Sem dúvida que encontraríamos muitos deles relacionados com a tal coisa de "histórico", o que para muita gente continua a ser uma boa fórmula de viver à custa da política agrícola comum da dita "união europeia".

Por causa disto e talvez por isto mesmo, lembrei-me que o governo bem poderia fazer publicar ou mandar publicar uma lista semelhante referente às fundações e aos institutos públicos para quem o estado reserva no orçamento uns quantos euros provenientes dos impostos dos portugueses que pagam impostos, ou melhor, dos portugueses que não podem deixar de pagar impostos.

Isto faz-me aquela famosa (!) sentença de que "o dever de todos os prisioneiros é o de pelo menos tentar evadir-se da cadeia", o que nos levaria num bom raciocínio lógico a "o dever de todo o pessoal que ganha algum é pelo menos tentar não deixar roubar algum..."

Como que a mão de semear, poderia o governo fazer publicar a lista de subsídios de transporte, de renda de casa, ajudas de custo e umas quantas coisas mais atribuídas a membros do governo, a membros de gabinetes, a deputados, a juízes, etc. coisa e tal?

Será que poderíamos ter conhecimento do custo das comunicações, dos transportes e combustíveis e automóveis de muita gente relacionada com o Estado?

Será que poderíamos ter conhecimento de quanto custa ao Estado uma refeição servida nas "tascas" da Assembleia da República?

Será que estes montantes fazem parte do dito "Estado Social", que deveriam ser substancialmente reduzidos ou poderemos optar por fazendo parte do "custo da democracia", imprescindíveis para a sua manutenção?

Em quanto ficariam os tais quatro mil milhões de euros que se têm que abater ao Estado Social, diga-se aos salários e às pensões, e à saúde e à educação do pessoal?

Será que poderíamos classificar de "tontos" e de "idiotas" os parlamentares dos países do norte da Europa onde o exercício e prática da democracia fica bem mais barata que neste país à beira mar plantado e vivido e sempre ou quase sempre sacaneado e aldrabado?

19.11.12

Concluída com sucesso

A cada dia que passa aumenta a minha admiração no ministro das finanças.

Fico verdadeiramente surpreendido quando constato que o nível da minha confiança no ministro das finanças só tem paralelo com a minha antipatia pelo primeiro ministro.

Aquele sempre seguro nas suas afirmações, sempre lógico no seu raciocínio sempre vazio mas polido nas suas respostas, às vezes, com algumas tiradas de humor finíssimo, este sempre balofo nos seus dizeres e sempre pobre na sua postura, fazendo crer que estamos perante um primeiro ministro que Portugal não merece.

Durante uma longa conferência de imprensa, talvez a mais longa dos tempos democráticos, o ministro das finanças veio dizer-nos que a vistoria da troika foi "concluída com sucesso" e que o memorandum estava executado a noventa e cinco por cento e ainda que estava aprovada mais uma tranche de cacau de dois mil e quinhentos milhões de euros.

Claro que os mais atentos dos que andam neste mundo dedicando algum do seu tempo a ver, a ler e a ouvir alguns meios de comunicação social, políticos e comentadores já se tinham dado conta que uma semana antes já a senhora europa afirmara que com Portugal ia tudo bem e que o cacau ia ser disponibilizado.

O senhor ministro das finanças mais não fez que confirmar hoje o que tinha sido dito a semana passada pela voz de quem sabe e de quem manda no processo.

A minha confiança e a minha admiração por este homem radica fundamentalmente na certeza e na firmeza demonstradas no processo em curso da eliminação das maluqueiras de todos os governantes desde a implantação da república, porque durante a monarquia era outra cantiga.

A minha fé de que prosseguimos o processo certo e seguro é que começo a ter a convicção que o objetivo fundamental é colocar o preço do trabalho mais baixo em cerca de trinta e cinco a quarenta por cento do que estava no início da execução do memorandum e só depois é que haverá crescimento da economia e a diminuição do desemprego.

Até lá vai-se cumprindo aquela velha ciência popular de que "não há regra sem exceção", isto é, que ainda vamos conhecer uma previsão verdadeira do senhor ministro das finanças.

Eu espero que não seja durante a próxima legislatura…


 

PS: Achei imensa piada àquela história da sobretaxa sobre o irs que estava acordado ser de três e meio por cento, que o governo propôs os quatro cento e que o pp e o psd conseguiram que voltasse a ser de três e meio por cento e o primeiro, para confirmar a regra, afirmar que a margem de manobra era curta e os parceiros europeus podiam não concordar…

16.11.12

Meio ponto

Fiquei altamente surpreendido para não dizer que fiquei supinamente admirado pelo facto de o governo, isto é, o ministro das finanças ter admitido baixar meio ponto percentual a sobretaxa do irs contemplada no orçamento de estado para o ano de 2013.

Não era para menos, porque isto significa uma estrondosa vitória dos partidos que apoiam o governo e uma saborosa derrota para o ministro das finanças, que tudo sabe e tudo pode e tudo justifica com a absoluta necessidade e inevitabilidade da austeridade imposta ao pessoal que paga impostos.

Eu já andava convencido de que o ano de 2013 iria significar uma "enorme" perda e inevitável quebra dos meus rendimentos, mas agora com esta dádiva de 0,5 por cento já vou andar descansado porque vou ter alguma coisa perfeitamente suficiente para satisfazer as minhas necessidades e de outros que esperam de mim o devido apoio.

Mas não sou só eu que fico satisfeito e contente por esta baixa da carga fiscal mas outros milhões de portugueses deveriam manifestar o seu contentamento por esta "cedência" do ministro das finanças que mais não significa que o elevado sentido de responsabilidade deste governante sempre atento aos superiores interesses do País pouco se importando com a real situação da vida dos portugueses.

Nós sempre tivemos e vamos continuar a ter um elevado sentido de crítica e demonstração de um total descontentamento por tudo o que se faça pela salvaguarda do País como um todo e sacrifique os interesses individuais e particulares relativamente aos interesses do coletivo que o mesmo é dizer, aos reais interesses de todos os portugueses quer paguem ou não paguem impostos ou se ganhem cem ou cem mil.

Bem vistas as coisas a ingratidão manifestada por muitos dos que protestam no interior e no exterior deveria ter em conta que estes homens e estas mulheres que suportam as elevadas responsabilidades de governar esta cambada que só quer o bom e rejeita tudo o que possa cheirar a esturro, não tem qualquer justificação.

Que apareça quem faça melhor e não quem diga que faz melhor quando não tem ninguém a pisar-lhe os calcanhares…

A propósito: ainda estou esperando pelo momento de aparecer algum inteligente que defenda com unhas e dentes o orçamento que vai ser aprovado pelos senhores deputados ou antes ou depois de utilizarem os serviços sociais, nomeadamente os restaurantes da assembleia da república, que todos nós e eles também, pagamos com nossos impostos que vão baixar 0,5 por cento… não querendo isto significar um camarão a menos no prato dos senhores deputados.

10.11.12

O trabalho dedicado

Até há relativamente pouco tempo andei convencido que a crise seria ultrapassada com uma boa dose da dita austeridade, mas principalmente fazendo recurso ao mais elementar bom senso na linha do que acontece a muito boa gente nos últimos dias do mês, quando o cacau já não abunda.

Estava ou, melhor, andava convencido que fazendo um esforço bem conduzido e bem orientado seria possível ultrapassar as piores dificuldades e entrar num período de dificuldades perfeitamente controladas.

Pensava que bastaria uma vontade férrea para não desperdiçar nem sequer uma casca de banana ou uma folha de couve para que se pudesse evitar a tragédia e a calamidade que se abateu sobre toda a gente.

Sobre toda a gente ponto e vírgula, porque ainda há por aí muita boa gente para a qual a crise não passa de uma boa maneira de recolher ainda mais dinheiro do que se fazia nos tempos de acalmia.

Há por aí uma boa meia dúzia de rapazes para os quais a boa vida ainda não terminou ou, se quiserem, a boa vida começou agora verdadeiramente tal é a desenvoltura com que se apresentam perante os seus pares.

Parece que as casas, vivendas e apartamentos topo de gama para lá do milhão se disputam no mercado e que os automóveis de luxo e de alta cilindrada daqueles modelos adequados ao dinheiro só de encomenda e o tempo de espera faz jus ao que se passa nas urgências dos hospitais mesmo pagando a taxa moderadora…

Donde vem esse dinheiro? Creio que não pode ter outra origem que não seja o trabalho esforçado, pois que os grandes ganhos do mercado de capitais já tiveram a sua hora e a próxima ainda está longe no tempo.

Não deixa de ser curioso o facto de não haver jornalista ou comentador que se dedique a investigar e a comentar as variadíssimas situações, cujo objetivo supremo gira à volta da proveniência dos capitais em circulação.

Teremos sempre a possibilidade de envolver na nossa defesa os jogos de azar oficiais e legais, para além de todos os outros que utilizam os circuitos subterrâneos que ninguém controla e não sei se quer ou deseja controlar.

9.11.12

Um povo em fúria

Depois daquilo de ontem, sinto-me liberto e suficientemente motivado para manifestar o meu direito à indignação contra tudo o que está a acontecer neste desgraçado País.

Não sou responsável por nada que justifique esta política de pacotilha, pois que nem sequer me podem culpabilizar por ter qualquer interesse na compra dos submarinos e muito menos no cancelamento do contrato de aquisição dos pandurus que tanto prejuízo causou aos generais que se sentem privados dos seus brinquedos, quando qualquer menino pobre não deixa de ter o seu carrinho para as brincadeiras de rua.

Nada do que vem acontecendo tem qualquer justificação a não ser a total incompetência de quem toma decisões sobre a vida dos portugueses a mando seja de quem for mesmo que seja da troika.

Eu entendo os políticos; eu entendo a política; eu entendo os governantes; eu entendo os governados; eu entendo os inteligentes; eu entendo os imbecis.

Mas eu não compreendo como é que esta meia dúzia de inteligentes que põem e dispõem nesta terra não acertam uma de entre muitas: a taxa do desemprego, a taxa de crescimento, a taxa de aumento, a taxa de resíduos, a taxa de equilíbrio, a taxa de satisfação, a taxa de cumprimento, a taxa de incumprimento, a taxa de amizade, a taxa de guerra, a taxa de voluntariedade, a taxa de impostos e todas as outras taxas que não foram enumeradas mas que são ou deveriam ser da responsabilidade dos nossos políticos e governantes.

Contudo, tenho a certeza de uma coisa: esta gente não pode ser responsabilizada pelo que está acontecendo, porque quando aconteceu eles não estavam cá e agora a causa disto tudo está no antes e não no depois, pelo que de mãos limpas e lavadas vamos todos cantando e rindo, bastando afirmar que a culpa é de quem não está para se responsabilizar por isso mesmo.

Nesta terra não há tribunais, não há juízes, não há justiça que seja capaz de julgar e meter na cadeia quem de direito, porque não é conveniente arrancar a árvore pela raiz, pois o que importa é deixar sempre qualquer coisa à vista para justificação da incapacidade e da incompetência que abunda nos corredores e gabinetes do poder.

Um dia o povo vai acordar.

Nessa altura não haverá contemplações e serão todos corridos a pontapé.

Esperem um pouco mais e terão a oportunidade de apreciar um povo em fúria.

8.11.12

Em tempo oportuno

Andava sem qualquer tipo de motivação para passar à página em branco tudo o que vai na alma a um cidadão cumpridor dos seus deveres para com a sociedade em que está inserido.

Não é preciso pedir muito à vida para que se espere um pouco de tranquilidade depois de uns longos anos de trabalho cumprindo sempre com dignidade as suas obrigações sociais e profissionais, dando o contributo que lhe era solicitado para que viesse a usufruir dos prazeres que ausência de deveres concede a todos os que tiveram a sorte de estar ocupado umas boas dezenas de anos.

Eu cumpri com todas as obrigações que me foram solicitadas e se mais não dei foi porque entenderam que era o bastante e o suficiente para merecer o descanso que é concedido aos que trabalharam para isso.

Esperava a contrapartida devida ao contrato celebrado.

Mas as coisas não estão a correr de feição: nunca gastei mais do que aquilo que podia gastar; nunca me endividei para além das minhas capacidades pessoais e familiares e nunca fiz figura de novo rico nem de pobre miserável.

Do mesmo modo, nunca fugi às minhas obrigações e sempre contribuí para que nunca ninguém me pudesse apontar o dedo quando passava na rua ou quando no final de todos os dias demandava a minha habitação devidamente paga como produto do meu trabalho.

Hoje, posso afirmar que não devo nada a ninguém, a não ser os vinde mil euros que, segundo dizem, todos os portugueses devem as credores que continuam a fornecer o dinheiro para pagar a minha pensão, como se todos os descontos efetuados para o efeito por mim e supostamente pela minha entidade patronal durante quase quarenta anos não tivessem sido suficientes.

Mas a vida é assim: quando pensavas que era possível viver como esperavas os teus dias restantes, apresentam-te uma hipótese que não tem qualquer alternativa, como se fizesses parte a um povo de idiotas e mentecaptos, que necessita de uma meia dúzia de inteligentes para te indicar o caminho…

Esquece o que aprendeste e pensa que há outros bem piores que tu, que não têm capacidade nem possibilidade de contribuir para pagar todos e quaisquer desvarios que tu não fizeste mas outros terão feito por ti.

Para além do mais, deves ter consciência de que ninguém te proibiu de comprar uns milhares de ações do BPN no tempo oportuno…


 


 

Aldrabões e gatunos


Esta é a primeira vez que aqui estou desde a última vez que aqui estive. 
Aquela terá sido pronunciada há mais de cinquenta anos e esta há pouco mais de um ano, mas ambas marcaram um tempo durante o qual aconteceram coisas que nunca deveriam ter acontecido se os deuses tivessem sido justos para com este pessoal todo.
Mas é a vida e a vida tem destas coisas que não controlamos e muito menos estamos em condições de controlar em determinados momentos e circunstâncias que exigiam o melhor de cada um ao serviço de todos e de mais algum.
Não que fora pedir demasiado à vida, mas tão só um tudo nada de sorte e ventura para que houvesse um sorriso de esperança no rosto de muitos dos que carregam o fardo da desilusão sem esperança e sem perspetiva num futuro digno de se viver.
Não sei se é triste, mas alegre não é de certeza quando tentamos olhar para além do momento presente e não vislumbramos coisa que nos oriente no bom sentido da vida e nos carregue de ilusões para além do justamente expectável por todos aqueles que desejam viver com alegria e satisfação.
Um dia será, como sempre foi e sempre terá sido ao longo destas centenas de anos de identidade nacional.
É a pior de sempre?
Houve outras ainda piores?
É a triste sina desta gente toda, que quando começa a arrebitar cabelo logo leva uma marretada na cabeça para que haja consciência que o destino é este e não outro, pois parece que estamos fadados para levar a torto e a direito onde mais se sente e onde mais magoa: a nossa identidade.
Vamos ficando habituados à pancadaria, à traição e ao desprezo, mas nunca ninguém nem de fora nem de dentro foi capaz de dar cabo desta gente. 
Sempre teremos entre nós aldrabões e gatunos, mas está para aparecer o primeiro que nos venha dizer que o Dom Sebastião não virá um dia com a vida, com a esperança e com a felicidade, a que temos direito.