Estou muito contente pela satisfação do governo demonstrada nos comentários aos desvios das previsões da recessão e do desemprego: para nós, cidadãos ignorantes, o falhanço das previsões do governo é mais um erro de avaliação e de análise do estado do estado, tornando-se evidente que a economia vai de mal a pior e nem as exportações tapam a desgraça.
Para eles, os governantes e os inteligentes dos partidos do governo, trata-se de uma pequeno desvio relativamente aos valores previstos e até, bem vistas as coisas, as diferenças verificadas nem sequer são assim muito significativas.
Estas duas visões, as do povo e as do governo, demonstram claramente que o pessoal que faz parte do povo continua com as suas capacidades de aguentar tudo isto suficientemente intactas para que o governo esteja certo e seguro que as quedas da receita, os erros de previsão, o aumento dos impostos, o corte dos benefícios sociais, o roubo dos salários, a apropriação indevida das pensões ainda são perfeitamente suportadas pelos tontos que vivem o dia-a-dia com a corda na garganta e com o estômago a dar horas ou confiantes que esta cambada vá à sua vida muito rapidamente, mesmo que os outros não nos garantam qualquer certeza de dias melhores.
Mas pelo menos não temos que ver quase todos os dias esta gente com cara de pau e falinhas mansas a fazer de todos nós os bombos da festa como se a nossa cabeça contivesse apenas serradura molhada, quando eles, os governantes e quejandos, beneficiam da inteligência superior dada e conferida aos eleitos dos deuses.
É preciso ter lata e muito pouca vergonha para aparecer continuamente a mandar postas de pescada acompanhadas daquelas tiradas de pregador a anunciar a aproximação do juízo final, como se as conversas balofas, qual balão de ar aquecido, servissem para nos convencer que a crise está a sofrer uma tal derrota imposta pela atual política económica que já não vai resistir por mais seis meses.
Aguardemos, pois, que o inverno do nosso descontentamento está para terminar, dando lugar a um período de crescimento e aumento do número de ricos e do número de pobres, ficando a classe média a ver as ondas do mar e a caravana passar e os burros a urrar e os governantes a fingir que governam, muito satisfeitos com os seus atos ao serviço da nação.
Muitos de nós, que pagamos e não temos possibilidade de gozar com estes espoliadores, gatunos e aldrabões, vamos continuar a pagar todos estes desvarios sem qualquer convicção de que o nosso sofrimento e o nosso dinheiro, roubado desta maneira, sirvam para alguma coisa com utilidade para a salvação do país.
Alguma coisa se há de "safar".
Que não sejam eles.
Porque não merecem.
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