15.2.13

A fatura e o juízo

Não concordo totalmente com aquela do escritor e ex-secretário de estado da cultura de mandar um outro secretário de estado a "tomar no cu" a propósito da obrigação dos consumidores andarem com faturas pelas pastilhas elásticas que comprem em qualquer lugar onde essas ditas estejam à venda.

Para além de não ser habitual juntar o verbo "tomar" a essa ação, parece-me também que peca por ser um pouco ordinária, quando em português vernáculo estaria muito mais apropriada por muito mais elegante e cultural a utilização da expressão "levar na peida" por se tratar de uma região muito mais alargada, permitindo muito mais criatividade e se quiserem muito mais empreendedorismo.

Mas como o homem é escritor e foi secretário de estado da cultura, levando-me a acreditar que se trata de um apoiante do novo acordo ortográfico, ninguém leva a mal que utilize de vez em quando uma expressão muito mais brasileira que portuguesa.

Para reforçar a minha ideia, já não exijo que os inteligentes da emissão das faturas para combater a economia paralela sejam mandados "levar na peida", mas acrescentaria o que lá na minha terra se faz acompanhar a dita "… que é um descanso e com rabo de porco com o pelo cortado de dois dias…" não haveria inteligente que se lembrasse de tamanha idiotice e muito menos que se lembrasse de colocá-la em prática, à maneira da pide de outros tempos.

Eu bem sei que os tempos são outros, que a carga fiscal pesa muito mais, que a fuga aos impostos é dever de todo o cidadão contribuinte, que o capital tem os paraísos fiscais, que os empresários só utilizam o dinheiro que não é deles para fazerem os seus negócios, que a receita do estado diminui na proporção da subida dos impostos, que o "mister bean" é o manda chuva da troika, que… muitas coisas mais… como os gastos dos gabinetes dos membros do governo e dos restaurantes e bares do parlamento…

Mas tudo isso não chega para justificar a ordinarice do escritor e ex-secretário de estado da cultura, uma vez que deixa de fora muito boa gente bem mais responsável     que o desgraçado que se lembrou da "foleirice" das faturas.

Contudo, não vou deixar de cumprir e levar à risca esta história de pedir e "levar" comigo todas as faturas referentes a todo e qualquer produto que seja por mim adquirido em qualquer local, independentemente do produto e da atividade a que diga respeito.

Isto é para levar a sério, porque não estou para ser multado por um qualquer fiscal por causa da compra de uma pastilha elástica, tanto mais que não custa nada e não pagamos impostos por transportar um grama ou um quilo de faturas, para descanso do nosso glorioso governo.

Fiquei pasmado e de boca aberta quando pedi a fatura da bica e o empregado que me atendeu coloca-me na frente uma quantidade delas e diz-me com toda a calma do mundo: "amigo, escolha a que quiser, são todas do dia de hoje…mas não me foda o juízo".

 

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