14.11.05

Presidenciais II


A campanha eleitoral para Presidente da República tem cartazes curiosos, para utilizar uma expressão civilizada.

Um dos cartazes que me tem chamado a atenção é aquele onde se afirma que ”Portugal precisa de si”.

Este cartaz tem várias leituras possíveis, das quais destaco: é o Professor que o afirma dirigindo-se a mim; sou eu que o afirmo dirigindo-me ao Professor; o Professor precisa de mim, isto é, do meu voto.

Senhor Professor, esteja descansado que eu sei com toda a convicção possível que Portugal não precisa de mim para coisa alguma, muito embora eu pague todos os impostos consignados na lei.

Senhor Professor, se me quer por a ler o cartaz e ficar convencido que Portugal precisa do Senhor Professor, esteja descansado que eu já estou vacinado e que essas coisas não me causam qualquer tipo de constipação, para além de que a escrita ao contrário não se pratica na língua portuguesa, a não ser quando se utiliza o espelho…

Senhor Professor, se é o Senhor que precisa do meu voto para ser Presidente da República, esteja também descansado, porque esse sempre teve a mesma cor, que nunca foi a sua, pelo que não é agora que vai mudar.

O meu voto, Senhor Professor, está naquele número de votos de uns tantos milhares de funcionários públicos aos quais o Professor não sabia o que fazer com eles: despedi-los não podia; matá-los não devia, reformá-los não queria porque deixavam de descontar para a CGA e de pagar impostos, nada mais podendo fazer que não fosse aguardar pela sua morte. De resto uma ideia muito parecida com algumas que vigoraram na Europa lá nas décadas de trinta e de quarenta.

Talvez o Senhor Professor já se tenha esquecido, mas olhe que muitos desses funcionários públicos para os quais a solução era a morte, ainda estão vivos e muitos deles ainda vão votar.

Por outro lado, Senhor Professor, eu não gosto de desertores nem de comandantes que abandonam o barco quando navega em mar calmo e muito menos na tempestade.

Com duas maiorias absolutas que lhe permitiam fazer todas as reformas que entendesse conveniente para Portugal ser “maior”, tenho o direito de lhe perguntar e de o questionar por todas essas reformas que agora não careçam de ser reformadas.

Uma única, talvez: o aumento do vencimento dos magistrados e de alguns altos funcionários da Administração pública.

Senhor Professor, seria capaz de garantir que enquanto Presidente da República teria poder para acabar com o monstro que criou quando exerceu as funções de Primeiro Ministro durante dez anos?

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