Foram duzentos e quarenta e tal milhões de euros de investimento estrangeiro durante os últimos trinta dias, facto que constituiu a grande notícia constante da intervenção do ministro soldado ou, talvez, do soldado ministro do governo, durante a discussão do orçamento para o ano de dois mil e catorze.
Este e mais uns outros como o crescimento das exportações e a diminuição do desemprego, são os grandes sinais da recuperação da nossa economia, recuperação que será confirmada pelas estatísticas do ine e pela aprovação desse tal orçamento que agora se discute, a não ser que uns sujeitos desconhecidos se lembrem de lixar isto tudo.
A realidade é que o investimento estrangeiro chegou e foi anunciado com pompa e circunstância, mas o soldado ministro esqueceu-se voluntariamente de nos esclarecer o custo para Portugal desses tais milhões, em subsídios e isenções de taxas e de impostos, bem como a sua natureza e a que se destinam, se a criar novos postos de trabalho ou se foram diretamente para pagar os produtos e equipamentos com origem na importação.
Não estaria mal se o ministro soldado nos tivesse dito que estes milhões eram valores líquidos já livres de todas as contrapartidas que todo o investimento estrangeiro exige para sair do seu lugar e vir até estas bandas classificadas como inóspitas para a devida rentabilidade do capital, tendo presente a preguiça dos nossos trabalhadores.
Mas devo reconhecer que o ministro soldado tem razão numa das suas afirmações: até parece que as oposições estão a dizer mal da sua vida por causa dos êxitos do governo e pela luz ao fundo do túnel que os nossos governantes já conseguem descortinar apesar do denso nevoeiro que paira sobre a economia portuguesa.
Vivemos num país de miragens permanentes e até parece que só agora estamos perante uma crise que exige o sacrifício dos pobres e dos remediados, porque os ricos não podem ser tocados, porque deles é o reino do progresso.
Que poderia fazer um país qualquer se os ricos e os poderosos, os banqueiros e os industriais, fossem tratados abaixo de cão como é tratado qualquer cidadão, cuja conta bancária não impõe respeito aos executivos e aos gestores, que mandam no mundo?
Se a populaça se movimenta em luta pelos seus direitos ou pelo que pensa serem os seus direitos de trabalhadores, de pensionistas, de reformados, de pobres, de remediados, de desgraçados e de infelizes, está a trilhar caminhos perigosos e a pôr em causa o investimento estrangeiro, sendo o mesmo que dizer que está a maltratar os nossos credores, que continuam a sua obra primordial de explorar os cá de baixo.
Podemos então concluir que o ministro soldado está mesmo convencido que os tais duzentos e quarenta e não sei quantos milhões vieram de livre vontade para reanimar a economia, tratando-se de dinheiro fresco que fica todo em Portugal, pelo que não sairá daqui um único cêntimo em benefícios e isenções de taxas e de impostos…
Nós acreditamos!
Sem comentários:
Enviar um comentário