21.3.08

Factura da água

Um destes dias recebi a factura da EPAL, devidamente detalhada como é habitual, tendo dado uma vista de olhos para me certificar se haveria alguma coisa relacionada com a mudança do contador, recentemente efectuada.

Não vendo nada sobre tal equipamento, dei por mim a olhar para os números constantes da referida factura e decidi fazer umas contas, não de cabeça, mas com máquina de calcular, para ser rápido, certo e sem erros.

A factura referia-se a dois meses, também como é habitual, para que o escândalo não se note tanto. Pois aí vai:

  • O custo da água, propriamente dita, representava 32,77% do total da factura;
  • A quota de serviço (claro que se trata do aluguer do contador) representava 30,01% do total da factura;
  • A participação da Câmara Municipal de Lisboa representava 34,07% do total da factura:
  • Desta participação, o Adicional da Câmara Municipal de Lisboa representava 8,69% do total da factura, o Saneamento variável era de 16,44% do total da factura e o Saneamento fixo era de 8,93 % do total da factura.
  • O IVA ficava-se por 3,15% do total da factura.

Não é preciso ser muito esperto para concluir que o custo da água na factura da água pouca importância tem para os consumidores, de tal modo que ficamos embasbacados quando temos presente que esse custo é apenas e pouco mais que 30% do total da factura.

Mais embasbacados ficamos quando nos damos conta que o custo da quota de serviço (vocês sabem o que é) é quase o valor da água consumida.

Mais aparvalhados ficamos quando nos apercebemos que o contributo para os cofres da Câmara Municipal de Lisboa dos consumidores de água representa mais que o valor da água consumida.

Será que tudo isto não dá para que os jardins mantenham a relva verde, para que as árvores não morram de sede, para a construção e manutenção de esgotos e de estações de tratamento e até para que as ruas andem normalmente limpas e lavadas…?

Mas agora fico a saber donde provém o dinheiro para pagar tanta rotura e tanta perda de água na rede da EPAL: da Quota de Serviço.

Ainda bem que existe quota de serviço, para que não haja necessidade de cobrar pelo aluguer de um contador durante uma vida inteira…

Ao fim e ao cabo podemos tirar uma importante conclusão: ainda temos a água muito barata…

18.3.08

Prosecontras

Estava eu com o vista do Bill, quando me chamaram a atenção para os prósecontras, onde pontificavam uns quantos trutas do nosso mundo empresarial.

Estive por ali durante umas dezenas de minutos contra o que me é habitual, mas resolvi deixar de ouvir a senhora que manda naquilo e ouvir apenas os tais trutas do primeiro parágrafo.

Não querem lá saber que a coisa parece que está a entrar nos eixos e aquele pessoal não dizia uma palavra contra as políticas, programas, opções e mais não sei o quê porque finalmente…

Gostei de ouvir, não tanto por dizerem "bem", mas principalmente pelo que disseram e teriam dito se a senhora não tivesse a mania de encher o teatro de gente importante e depois não os deixar falar…

Duas notas retirei daqueles minutos que ocupei a ouvir os trutas da economia nacional.

A primeira está relacionada com a pessoa do MP que não merecia uma palavra de simpatia por parte da grande maioria de jornalistas aquando da sua nomeação para Ministro da Economia e era objecto de comentários pouco agradáveis para uma pessoa que era altamente considerado lá pelas estranjas juntamente como uma meia dúzia de economistas, mas aqui na sua terra não valia um cêntimo furado. Agora… é o que se vê. O respeitinho é muito bonito…

A segunda nota vai para o contexto do programa e está relacionada com a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa, pois ouviu-se ali falar dos grandes projectos que estão a ser implementados no Alentejo, em Tróia e na Península de Setúbal… turismo, indústria, serviços, cidade aeroportuária, plataforma logística e mais não sei quantas coisas de altíssima qualidade, que vão ser a delícia dos portugueses e dos estrangeiros, dos trabalhadores e dos capitalistas, dos empregados e dos empresários e de todos aqueles que, de boa-fé, ainda continuam a acreditar que esta terra não é inferior às outras…

Cabe perguntar agora pelos motivos que estavam a apontar o novo aeroporto internacional de Lisboa ali para os lados da Ota, quando o futuro está no Alentejo, mesmo sem petróleo…, mas com Alqueva…

Cá por mim não tem nada a ver com os custos, mas com as oportunidades, pois o pessoal quer chegar rapidamente ao seu destino e nada melhor que ter os hotéis, os casinos, os campos de golfes e uma quantidade enorme de serviços à saída do avião.

A factura pouco vai importar, mas estou convencido que não vai ser menor da que estava prevista para a Ota. No fim, quando alguém fizer as contas aos custos do aeroporto, das pontes, do TGV, da mudança do campo de tiro, da desactivação da base do Montijo, etc, a factura ainda vai ser maior.

Nessa altura tudo estará feito, pelo que as lamentações não vão ter significado, tanto mais que já haverá avaliações para todos os professores e o novo mapa judiciário já estará totalmente implantado no terreno e a funcionar com normalidade, pois nessa altura a grande maioria dos actuais professores e juízes já estarão a gozar a merecida reforma.


 


 

 

10.3.08

Agora…

Acabou a marcha da indignação e todos regressaram a casa felizes e contentes depois da grande passeata.

Tomámos conhecimento dessa grandiosa marcha da indignação que trouxe a Lisboa cem mil professores (?) (não havia ninguém que não o fosse…) e agora muito gostaríamos de saber o que se segue quanto à magna questão da avaliação dos ditos, dado que os lenços brancos não surtiram o seu efeito.

A Ministra não se foi embora, o Primeiro não disse que a avaliação ia acabar, antes reforçou a ideia que a coisa vai continuar e nós continuamos na mesma: ficamos sem saber se vai haver avaliação ou se não vai haver avaliação.

De qualquer maneira, a coisa está preta: aquilo que os professores queriam não chegou e chegou aquilo que os professores não queriam.

Entraram num beco sem saída e agora vamos ver como vai ser, pois deveriam ter reparado na linguagem utilizada pela Ministra: vamos continuar a trabalhador com as escolas e com os professores…

Não disse que vamos continuar a trabalhar com os sindicatos…

Pois é!

O problema está mesmo aqui: os dirigentes sindicais deram-se conta que deixaram de mandar no Ministério da Educação e deram o grito da indignação, que se manifestou na revolta contra o processo de avaliação.

Nós ficámos a saber que a manutenção da Ministra não era uma grande questão para os professores, desde que a senhora desse o braço a torcer e entregasse o processo ao professores, isto é, aos dirigentes sindicais. Mas tudo foi por água abaixo. Lá terão que "gramar" este sistema de avaliação e mesmo assim, parece, que mais favorável que o dos outros funcionários públicos, como se nós não soubéssemos também que os vencimentos e as reformas dos ditos são bem mais elevadas que os e as dos seus pares em termos de patrão…

Se houver dúvidas disto, que a CGA publique as reformas dos professores para que os servos da gleba fiquem a saber um pouco mais do que já sabem.

Ontem, domingo, e hoje, segunda-feira, já tivemos alguma informação do que se segue: se mexerem no código do trabalho levam com uma marcha de indignação ainda maior do que a de sábado; na televisão pública, hoje, discutia-se o magno problema da sociedade portuguesa com o qual todos estamos preocupadíssimos: rei ou presidente?


 


 

6.3.08

As pontes

Não pensava escrever nada sobre o assunto, mas achei-o tão interessante que não resisto a deixar aqui a minha enorme admiração por afirmações de tal natureza, que revelam os elevadíssimos conhecimentos técnicos de alguns dos nossos eminentes engenheiros.

Num colóquio realizado num destes dias não bem onde, mas realizado com a participação de gente muito importante, um engenheiro professor do Instituto Superior Técnico terá afirmado que só a construção de uma nova ponte entre Belém e Trafaria é que retirava tráfego à Ponte 25 de Abril na ordem de 30% !!!

Não posso deixar de reconhecer que esta afirmação bombástica vindo donde vem deve merecer o nosso espanto e a nossa devota atenção porque significa o culminar de estudos muito aprofundados sobre o tráfego que diariamente entra e sai da capital, proveniente da margem sul. Digo da margem sul, porque estou convicto que o tráfego proveniente do norte não terá necessitar de atravessar as pontes sobre o Tejo para entrar em Lisboa…

O que mais me admirou não foi ler a nota jornalística da intervenção do professor, mas sim fazer notar que na altura deu-se uma grave omissão por parte de outros eminentes engenheiros professores por não terem levantado a sua voz para afirmar que a construção de uma nova ponte entre Santa Apolónia e o Alfeite retiraria, certamente, mais 20 % do tráfego à Ponte 25 de Abril… Esperava também que depois destas intervenções se levantasse uma pessoa normal e afirmasse que uma outra ponte entre o Terreiro do Paço e Cacilhas ainda retirava mais 15% do tráfego à ditosa Ponte 25 de Abril.

Nessa altura, levantava-me eu e proclamava: "… têm todos muita razão, mas desde que as pontes não tenham portagem…".

A avaliação

Continua o regabofe dos professores, ou melhor, das discussões sobre o sistema de avaliação dos professores: quem ouvir a ministra a falar sobre o sistema de avaliação dos professores fica com a sensação de que quem deveria estar a fazer manifestações seriam os outros funcionários públicos que estão mais prejudicados, ou se quiserem, menos beneficiados que os professores, por causa daquela coisa dos "bom" "muito bom".

Confesso que não conheço o sistema de avaliação dos professores e por isso não tenho grande moral para falar do assunto, mas confesso também que a grande maioria dos professores que se manifestam nas ruas e talvez, atrevo-me a afirmar, que muitos dos dirigentes dos professores também não conhecem em profundidade o referido sistema.

Porque se o conhecessem bem, teriam, certamente, vergonha na cara e diriam que o seu sistema de avaliação é tão mau ou tão bom como o de todos os outros funcionários públicos.

Para além do mais, é preciso ter em conta que estamos a tratar de pessoas com formação académica de nível superior, a maioria com licenciatura, muitos com mestrados e muitos com doutoramentos feitos.

Como se pode afirmar que este pessoal não sabe ou não é capaz de fazer uma avaliação a partir de grelhas iguais para toda a gente.

Então esta gente tem formação suficiente para leccionar cursos médios e superiores, serem patronos disto e daquilo e não estão preparados para fazer uma avaliação?

Quem ouve falar os professores inteligentes pode pensar que numa escola todos os professores vão aplicar o sistema de avaliação a todos os seus colegas e ficam sem tempo para se dedicarem ao exercício da sua profissão: serem professores…

Continuo a afirmar o que já afirmei: os professores não querem este sistema de avaliação como não querem qualquer outro sistema de avaliação que não seja da sua responsabilidade ou que não tenha
a sua concordância. Como esta concordância não se obtém com esta ministra, então não há sistema de avaliação aceite pelos professores…

Venham de lá as manifestações todas para ver se os professores dedicam algum do seu tempo livre a ler e a estudar um pouquinho o sistema de avaliação em causa.

Se tal não acontecer, então que sejam os alunos a classificar os seus professores…Talvez que a coisa fosse aceite pelos professores, reconhecendo que nos alunos se manifesta a enorme sabedoria e o grande talento que todos reconhecemos aos nossos professores…

Isto não vai durar muito mais tempo, pois temos aí outra bronca a nível da função pública…

Vamos ver se os professores vão sair à rua para novas manifestações…

Esqueci-me de contar quantas há cidades tem Portugal…

4.3.08

Avaliações

Durante o serão de ontem no antes das e no respectivo intervalo estive em frente da televisão a ver e a ouvir os prós e os contras, desta vez sobre a avaliação dos professores.

Tive a oportunidade de ouvir uns quantos intelectuais e especialistas da nossa vida científica e académica, pelo que todos eram ou foram professores. Por isso mesmo, as suas posições não deixavam dúvidas: aquele processo não ajuda nada, é muito complicado, é difícil, etc… e muitas mais coisas que os professores não aceitam, pois a política por um lado, o orgulho por outro...

Por outro lado, ouvi dois intervenientes que não são professores, mas experientes naquelas matérias; para eles a coisa é como todos os processos de avaliação: tem coisas boas, tem coisas más, mas nada que o impeça de ser compreendido e utilizado pelos professores para avaliar professores, porque daí não virá mal ao mundo. O que não se entende é que os professores possam dizer que aquilo não pode ser aplicado dada a sua complexidade.

Fui-me embora por duas razões fundamentais: durante o tempo em que estive a ouvir as intervenções percebi que quando não se quer não há maneira de fazer querer mesmo que as evidências o demonstrem e depois não vou à bola pela responsável do programa pelas interpretações permanentes que faz às intervenções dos "seus" convidados, quase sempre corrigidas pelos próprios.

Fiquei com a certeza que a guerra vai continuar se o sistema continuar; poderá haver alguma paz durante algum tempo se a ministra for embora ou se o sistema parar. A ver vamos…

O que me chateia no meio disto tudo é que eu passei por sistemas de avaliação na AP onde estava institucionalizado que qualquer funcionário, mesmo que nada fizesse de útil durante todos os dias do ano estava convencido de ter direito a um "muito bom" não de nove mas de dez!!!

Para mim a coisa é muito simples: os professores nunca aceitarão um sistema de avaliação que ponha em causa uma única coisinha daquilo a que chamam "direitos e regalias" na progressão na carreira até lá acima sem quaisquer condicionantes que não seja o tempo mínimo para lá chegar.

Alguém tenha coragem para dizer que o que está em causa é o máximo de dinheiro com o mínimo de responsabilidade e de chatices por processos de avaliação que podem fazer alguma selectividade.

Alguém pode dizer que também está em causa o "poder", mas este caiu no sistema de gestão das escolas e logo foi relegado para segundo plano quando a corporação percebeu que já não mandava no ministério e a ministra avançou com o sistema de avaliação.

Dizer-me que já não mando nada é uma coisa; meter a mão no bolso é outra…

3.3.08

A Guerra

Era uma vez um ministério que tinha um ministro que pensava que mandava alguma coisa nesse tal ministério, mas chegava sempre à conclusão que quem mandava no seu ministério também mandava numa razoável quantidade de trabalhadores desse ministério, muitos dos quais faziam de conta que faziam alguma coisa para merecer ordenados superiores a outros trabalhadores de outros ministérios que tinham rigorosamente a mesma formação mas que não tinham nem se encontravam ligados a quaisquer corporações ou grupos organizados.

Vai daí que um dia entrou um novo ministro e que quando quis fazer qualquer sem pedir autorização ou sem dar conhecimento aos que antes mandavam viu-se a braços com uma guerra sem quartel porque a coisa não podia processar-se dessa maneira.

Se quer fazer qualquer coisa, tem que fazer com a nossa autorização ou então fazer o que queremos que faça.

O ministro novo não atinou com a brincadeira e pensou que as coisas não poderiam passar-se como os tais queriam tão só porque estavam habituados a fazer o que muito bem entendiam e como ainda melhor entendiam.

Falou com o primeiro e perguntou se ainda era ministro ou se já teria sido nomeado outro ministro porque o pessoal lá do ministério andava numa roda-viva de protestos por tudo e por nada, dizendo-lhe o primeiro que não tinha nomeado outro ministro e que o ministro continuava a ser o mesmo ministro mesmo que o seu pessoal fizesse tudo o que quisesse fazer para correr com o ministro.

Vai daí o ministro não está com meias medidas e desata a fazer aquilo que queria fazer chegando ao ponto de querer fazer aquilo que os tais não queriam ele fizesse nem à lei da bala, pois não houvera ministro algum que tivesse a lata de dizer que alguns dos seus trabalhadores não eram "muitíssimo bom", mesmo que tivessem conhecimento das leis estatísticas e daquelas coisas que alguns sabiam, mas a grande maioria não sabia, que os dados parece que se acomodam num processo a que vulgarmente se chama de "curva normal", com inclinações umas vezes à esquerda outras vezes à direita, sendo normal não ir nem para a direita nem para a esquerda mas ficar comodamente no centro.

Não é um ministro qualquer nem qualquer ministro que tem capacidade para dizer que é isto e não aquilo e muito menos determinar que as coisas a partir de agora têm estas regras de funcionamento e que as antigas regras de funcionamento deixam de funcionar porque agora temos novas regras de funcionamento.

O ministro está na dele, outros estão na deles.

Espero bem que o primeiro não se lembre de fazer asneira e se recorde daquela guerra do primeiro, que era primeira, lá da ilha com os mineiros…