Os tiques e as expressões linguísticas têm o seu tempo, sucedendo-se umas às outras como se a linguagem fosse sendo construída num "co ntinuum", sem qualquer razão aparente.
Todos se lembram daquela que correu mundo e seus arredores com origem no porto, atribuída ao pintinho que a imortalizou "penso eu de que...", chegando ainda aos nossos dias com algumas variantes como "tenho a informar de que...", "esclareço de que...", " estou convencido de que...".
Nos primeiros tempos da crise, que ainda continua, viemos a ter conhecimento que o dicionário português contemplava a expressão "resiliência", totalmente desconhecida para mim, sendo que a ignorância era minha, que não podia der atribuída a uma falha do dicionário. Ela estava lá, e lá continua, para que os tecnocratas europeus nos ensinem alguma coisa e justifiquem a sua existência.
Vinda de paris, via sócrates, passámos a usar a expressão "narrativa" para catalogar qualquer coisa que não se sabia bem o que era, pelo que passou a ser "narrativa", principalmente no meio dos comentadores, que gostam muito de narrar as nossas narrativas.
Muito utilizada pelos comentadores e relatores desportivos vamos encontrar uma outra, que é um primado de beleza gramatical, quando pretendem introduzir na frase uma determinada informação ou observação e dizem "...ele que...".
Eu gosto muito desta porque tem a ver com um elevado conhecimento da gramática da língua portuguesa, que pode parecer do desconhecimento da maioria do pessoal que fala português por esse mundo fora e nada melhor que o futebol para chegar a toda a gente que se quer aculturar...
Mas a delícia de todas elas e que está no topo da criatividade e da inovação e da actualidade é o "então" e, em menor escala, o "também".
O "então" e o "também", usados a torto e a direito, com sentido e sem sentido, a propósito e a despropósito, em qualquer lugar e em qualquer tempo, com significado e sem significado, fazem parte do mundo dos jornalistas de microfone, como se estes fossem pagos pelo número de vezes que nos atiram com tais palavras no tempo de uma reportagem, que muito poucas vezes dura mais que um minuto.
O mais curioso é que lá encontramos uma meia dúzia de vezes estas palavras bem e a propósito utilizadas numa leitura de duzentas ou trezentas páginas de um qualquer livro ou até nos textos lidos por apresentadores de telejornais.
Tudo me leva a crer que que o mundo da fala permite todos os dislates possíveis e imaginários, mas o mundo da escrita é bem mais exigente.
Tudo me leva a crer que que o mundo da fala permite todos os dislates possíveis e imaginários, mas o mundo da escrita é bem mais exigente.
Talvez seja por isto que temos jornalistas de microfone e jornalistas de esferográfica...
Vá se lá entender o significado e a razão destas coisas...
E então?
Às vezes vale a pena mudar de canal...
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