9.11.15

A apresentação

Quem teve a oportunidade, a curiosidade, a paciência e até a ousadia de ver e ouvir a apresentação e início da discussão do programa do vigésimo governo constitucional deparou-se com uma situação insólita e inesperada.
Nem o primeiro resistiu à tentação de atirar para as urtigas o programa do seu governo para disparar as setas quase envenenadas para o seu lado esquerdo atirando-se como gato a bofes ao possível e desconhecido, mas quase certo, acordo dos quatro partidos da esquerda com assento parlamentar.
Depois foi o que se conseguiu ouvir: pouco interessava a discussão do programa do governo, pois o que estava na mente de todos os deputados da coligação era o desconhecimento dos acordos e a necessidade imperiosa de os conhecer, como se já se tratasse da apresentação de um hipotético governo das esquerdas, quando nem sequer tinha sido discutido o programa do actual.
Tudo nos levava a crer que o objecto da discussão era o programa do vigésimo primeiro governo constitucional, depois da queda do vigésimo e da respectiva nomeação do vigésimo primeiro, depois da suprema decisão do presidente da república.
Foi um total devaneio político: tu já não és tu, mas tu ainda não és tu, porque eu ainda sou eu e só deixarei de o ser quando tu fores tu, o que eu não acredito que sejas, mas estou totalmente convencido que mais hora menos hora já não serei o que sou agora.
Independentemente da razão de uns e de outros, da tradição, dos usos e dos costumes entendo que é chegado o tempo de o pessoal se convencer e admitir que a mudança é inevitável no processo democrático e que as verdades e as certezas variam conforme a direção do sopro dos ventos.
Não valerá muito a pena insistir na questão do cumprimento da tradição, uma vez que as circunstâncias dos tempos se alteram conforme as necessidades e as oportunidades.
De resto, foi muito desagradável ver e ouvir alguns deputados proferir frases e afirmações que mais pareciam de autênticos carroceiros e não de lídimos representantes eleitos pelo povo.
Cada um pode ler os resultados eleitorais conforme os seus interesses, as suas ideologias e as posições políticas em que se coloquem ou em que se encontrem, mas devem ser tidas em conta todas as soluções que os resultados tornem possíveis sem que seja necessário denominar as posições dos adversários como "desonestidade intelectual" e outras coisas do mesmo jaez.
É feio, é inútil, e só torna a situação ainda mais deplorável do que verdadeiramente é.
Pelo que vi e ouvi durante a tarde desta segunda feira, dia nove de novembro do ano da graça do dois mil e quinze, o presidente não terá outro remédio que nomear um governo de esquerda nos próximos tempos, mesmo contra a sua vontade... pois o actual já não está
PS: Ficámos a saber que as bolsas europeias sofreram um trambolhão devido à instabilidade política em Portugal...
Que os deuses me valham...
 


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