24.2.14

Tanta fartura

Já ando cansado de ter esperança em melhores dias com a rapidez suficiente para ter alguma possibilidade de deles desfrutar.
O mais grave de tudo isto é que já não tenho paciência para ter alguma paciência para continuar a ver e ouvir esta cambada de rufias que nos governa às claras e que manda em nós às escondidas.
E o que é mais grave ainda é que a sua grande maioria foram nados e criados pela minha geração, a geração que lhe deu quase tudo, desde a educação ao carro e à boa vida, apesar de todos os sacrifícios que foi preciso fazer para levar estra gente aos sítios e locais onde agora se encontra.
Ainda havemos de lamentar, se é que não o estamos a fazer agora mesmo, a má sina de levar esta gente à universidade e aos empregos, nunca faltando os comes e bebes e mais alguma coisa para que fique demonstrado que o homem e a mulher também não vivem só de barriga cheia.
Demos a esta gente tudo aquilo que agora eles nos estão a tirar.
Colocámos nas mãos desta gente todo o poder para fazerem e desfazerem a seu  bel-prazer sem qualquer obrigação assumida de prestarem contas ainda nesta vida e não no juízo final.
Como contributo e reconhecimento estão a fazer de nós os pobres, os tontinhos, os inúteis, que não merecem sequer o que ainda comem sem que haja a sorte de se marcharem muito rapidamente.
Demos ao mundo, isto é, demos a Portugal a geração mais capacitada da nossa história, a geração mais bem formada de todas quantas por aqui passaram, a geração que mais rapidamente assumiu o controlo e o exercício do poder, mas uma geração que não soube, não sabe e não sei se alguma vez saberá, exercê-los com dignidade e sabedoria.
Parece que tudo isto caiu do céu aos trambolhões como se fora granizo do grosso e bem grosso para gáudio e alegria de uns quantos que estavam no lugar certo e na hora certa com as mãos devidamente abertas e preparados para abraçar o destino sem se saber o como e o porquê.
Mas se tivermos um pouco de consciência dos movimentos sociais logo veremos que as coisas são assim mesmo e alguém será o bafejado da sorte mesmo que se encontrem injustiças tamanhas de bradar aos céus, tanto mais que elas vieram precisamente lá de cima.
Apesar da minha grande frustração e do mais alto desagrado pelo estado da coisa, ainda vislumbro lá no horizonte muito longínquo uma ténue luzinha que me alerta para a possibilidade de tudo isto ser varrido, qual onda gigante, bem para lá do alcance da nossa vista.
Entretanto, também já não tenho paciência para ver e ouvir actuais e ex de qualquer coisa a mandarem bocas e palpites sobre tudo e mais alguma, principalmente quando se sentem com a carteira bem recheada, sem que se saiba muito bem de onde vem tanta fartura.

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