25.2.14

Os cegos

Ando verdadeiramente entusiasmado com a perspectiva de se sair do programa de empobrecimento de uma maneira "limpa", isto é, de uma maneira que se veja que a água ainda corre pelos os nossos rios, principalmente durante o inverno e nestes últimos tempos, que têm sido altamente bafejados com carradas de chuva.
Este entusiasmo é deveras merecido porque deixarei de dar a minha contribuição financeira para pagar os custos da vinda de uns quantos inteligentes e avaliadores da porcaria que se faz por aqui.
Ficaremos um pouquinho menos pobres uma vez que nos vão sobejar umas quantas centenas de milhares de euros para pagarmos os juros da nossa dívida e que não vão entrar nos bolsos de meia dúzia de mercenários que não vivem de outra coisa que não seja de sacar algum a uns poucos que caíram na esparrela de pedir um programa de ajustamento.
Ficaremos todos satisfeitos porque os troikos vão embora e não teremos que disponibilizar as nossas contas para que sejam vistoriadas a pente fino por estes cérebros, porque os de cá não têm categoria para tal fazer com alguma dignidade e até seriedade.
Ficarmos livres e libertos de tal gente vai demonstrar que o facto de estarmos mais pobres do que há uns anos atrás não desmerece nada do que significamos como povo nobre e valente, que nunca virou costas a quem veio para nos ajudar.
Ficaremos muito contentes porque vamos reinicar uma longa travessia do tempo com mais confiança nas nossas capacidades, porque saberemos que valeu a pena ficarmos mais dependentes de terceiros, mais obedientes aos desígnios do destino, mais seguros dos caminhos a percorrer e saberemos sempre e em qualquer momento que a presença dos nossos senhores é a certeza de que estamos bem e seguros e protegidos.
De resto, os sinais de que tudo vai correr pelo melhor, que o capital vai estar presente, que os investidores vão continuar atentos, que os mercados não deixarão de investir, que as exportações continuarão a ter um crescimento meritório muito para além das previsões dos sábios, contrariando sempre as que todos fizeram e fazem, sem esquecer as do gasparzito, pois esses tais sinais estão aí para que todos os vejam e fiquem a saber que os muitos sacrifícios dos portugueses estão a dar os seus frutos: a economia está no bom caminho.
Só os pobres e os remediados é que estão mais pobres e menos remediados...

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