10.1.14

O Panteão

Fiquei altamente surpreendido com a quadratura da última quinta feira, tão só porque não esperava que aquela gente gastasse cerca de cinquenta minutos a falar sobre a mesma coisa que outros canais e outros grandes comentadores, políticos e jornalistas a propósito da transferência dos restos mortais do Eusébio para o Panteão Nacional.
E tanto mais surpreendido fiquei pelo facto de o primeiro dedicar quase cinco minutos para dizer que não ia nesse caminho como se já tivesse dado tudo para aquele peditório.
Reforcei a minha surpresa quando o segundo se preparava para dizer que ainda é cedo e que depois tudo, mas que agora, bom, o emocional e o racional... etcetera e tal...
Mas o meu espanto atingiu as alturas mais altas quando o pacheco dedica quase quinze minutos a desancar na imprensa em geral e na televisão em particular como responsável por quase tudo o que aconteceu nos últimos dias a propósito das cerimónias do funeral do Eusébio, tecendo considerações de um conteúdo altamente sofisticado, como se tudo se resumisse a um factor de pobreza cultural dos portugueses, que carecem de enaltecer até ao infinito as grandezas de dois ou três para compensar as misérias de uns quantos milhões.
Pensava eu que a conversa sobre o tema acabava ali, mas qual não foi o meu espanto quando tudo continuou no mesmo sentido levando-me a pensar que desta vez o jornalista deu mesmo a volta ao pacheco fazendo com ele e os outros incorressem no mesmo devaneio de todos os outros quando passaram horas infindas a dizer lugares comuns que toda a gente já tinha ouvido milhentas vezes.
Pensava eu que pelo menos o filósofo e o pensador e o historiador não se deixava enredar pelos malabarismos de um jornalista, mas desta vez, querendo justificar uma posição já de si perfeitamente justificada no que se refere ao Panteão Nacional, não resistiu a continuar na lenga-lenga de todos os outros, facto que me deixou verdadeiramente surpreendido por ter caído na esparrela e na armadilha que lhe foi colocada.
Estou perfeitamente convencido que, se o homem se deu ao trabalho de visionar o programa a posteriori, terá ficada arrependido de se ter deixado ir na maria vai com as outras, cantando e rindo como se tudo se resumisse ao Eusébio e ao Panteão Nacional.
Confesso que não aguentei os últimos oito minutos, porque considerei ter havido ali mais uma mistificação de uma personalidade considerada e respeitada por muita gente, utilizando-se o caminha da facilidade de do lugar comum sem acrescentar nada de novo aos factos em análise e se tivermos presente que nada fazia prever que todo o programa fosse dedicado à magna questão do Panteão SIM e Panteão NÃO.
No fim daquilo tudo quem se ficou a rir terá sido o jornalista moderador por ter conseguido levar o pacheco a percorrer caminhos que este não desejava e que tanto criticou quem os percorreu anteriormente.
Não levei a mal o procedimento do jornalista moderador nem tampouco o procedimento dos comentadores, mas achei tudo aquilo uma imensa fragilidade e incoerência dos interve nientes quando não se pouparam a criticar todos aqueles que tinham dito o mesmo durante os quatro dias anteriores.
Vem a propósito aquela do "bem prega frei tomás..."




7.1.14

O miserabilismo

Tal como acontece a quando da morte de uma personalidade de projecção nacional ou internacional aparecem as homenagens acompanhadas dos mais vulgares lugares comuns, de umas quantas histórias e de umas tantas palavras com significado que dignificam quem as profere e dão sentido à vida do homenageado.
Foi o que aconteceu durante todas as cerimónias do funeral do Eusébio da Silva Ferreira, conhecido e reconhecido aqui e além fronteiras como uma pessoa merecedora de todas as homenagens que lhe foram prestadas.
Fora as lágrimas de crocodilo de uns quantos que o sacanearam e o aldrabaram e o maltrataram em tempos idos, fica a intervenção de uma cidadã, com cabelo de cor de burro fugido à noite, de penteado à gladiador romano e a imperador de terceira categoria, com uma fácies pronta a receber botox ou à espera da devida intervenção estética, que desempenha altas funções na estrutura do estado português a falar dos elevados custos, na ordem das centenas de milhares euros, mais tarde corrigidos para umas quantas dezenas, que representaria a transferência dos restos mortais do Eusébio para o Panteão Nacional.  
Achei a dita intervenção de mau gosto tanto mais que foi proferida ali mesmo quando muitos milhares de portugueses viam ou ouviam tudo o que se passava à volta do Eusébio da Silva Ferreira.
De vez em quando ouvimos as coisas mais a despropósito que nem nos choca, mas estas mereceu da minha parte a minha mais profunda repulsa, pelo miserabilismo que significaram.
Pois aqui ficam duas sugestões para que a senhora presidente possa ter na devida conta: fale com o Vieira e no próximo domingo pede-se um euro aos presentes no estádio da luz para pagar a transferência do Eusébio para o Panteão Nacional ou então, se entender que isto é um bocado mesquinho e pobretanas e indigno, aumente um euro as refeições servidas no palácio de são bento e dois euros os whiskis velhos, as aguardentes velhas, os cognacs e o champanhe francês e o caviar e todos os mariscos durante seis meses e logo terá suportados todos os custos de levar os restos mortais do Eusébio da Silva Ferreira para o local onde repousam alguns dos maiores de Portugal, sem fazer figuras tristes e lamentáveis.

3.1.14

A vingança

Uma destacada e reputada comentarista da área do maior partido do poder dizia não entender a política do governo para com os reformados e pensionistas mostrando-se profundamente magoada com as medidas já tomadas tendo por alvo os funcionários públicos e os aposentados, às quais se vão somar estas agora anunciadas em substituição da chumbada convergência das pensões.
Não há muita coisa para entender na política do governo para com os aposentados se tivermos presente a fúria com que se atirou aos funcionários públicos, aos pensionistas e aposentados com vista ao ajustamento das contas públicas e à redução do défice para níveis impostos pelos nossos donos e senhores.
Ficou logo patente que tudo se ia resumir ao corte das despesas e ao aumento das receitas, sendo que naquelas estavam incluídas as reduções dos salários e pensões e nestas o aumento de taxas e de impostos, o que para os pagantes é tudo a mesma coisa. 
A política desta gente reduz-se simplesmente à consideração que estes governantes têm para com os pensionistas e aposentados, que não passam de um fardo e de uma carga para os cofres do estado, geridos por estes governantes de meia tigela.
Para o governo os pensionistas e os reformados não passam de uns indivíduos com o prazo de validade já ultrapassado, não passando de uns produtores de lixo e de porcaria, que ainda por cima custa dinheiro ao estado em limpar esta imundície toda.
Para o governo, gente que nada produz, gente que se manifesta, gente que protesta, gente que nada faz e gente que custa um balúrdio não tem razão de existir ou, pelo menos, não tem razão em levar uma vida como se se tratasse daquele indivíduo que passa o dia a trabalhar e a produzir e a contribuir para o produto interno bruto de uma maneira positiva e não como uma sanguessuga.
Mas estes craques estão a esquecer-se propositadamente e a ocultar informação importante à grande maioria dos portugueses quando se escuda na insustentabilidade do actual sistema de pensões e de aposentações.
De uma vez por todas e para que os portugueses possam manifestar algum respeito por este grupo de aldrabões seria interessante que nos dissessem o que fizeram estes e outros aos dinheiros da segurança social referente aos descontos dos trabalhadores e das entidades patronais e o que fizeram aos descontos dos funcionários públicos e dos aposentados e dos devidos pelos organismos oficiais.
Digam lá de uma vez por todos se a utilização destes muitos milhões de milhões de descontos foi sempre colocado ao serviço do pagamento das pensões e já agora que tanto falam dos custos do  sub-sistema de saúde dos funcionários públicos e dos aposentados digam também para onde foram e para onde vão os largos milhões de euros com origem nos descontos dos salários e das pensões destinados exclusivamente a esse sub-sistema de saúde, descontos que se somam aos referentes à aposentação.
É estranho que o governo não diga nada sobre este assunto?
Pois é, mas nós não esquecemos e não esqueceremos que o ódio gera ódio e a vingança serve-se fria na altura certa.
Ao fim e ao cabo, temos razões para considerar que a política do governo referente a este processo de austeridade não tem outra finalidade que não seja apressar a transferência da maior quantidade possível de capital da base para o topo, aumentando cada vez mais o fosso existente entre os pobres e os ricos pela eliminação pura e simples de uma classe média, que está quase a desaparecer, para gáudio e alegria destes governantes.

1.1.14

A noite

Fiquei altamente surpreendido, pela positiva, claro está, pela programação do canal público de televisão  na noite de passagem de ano.
Foi uma maravilha, porque tivemos a oportunidade de constatar como o canal público está a contribuir para a eliminação do défice e consequente ajustamento das contas públicas.
Assim deveriam ser todos os gestores das empresas públicas e todos os governantes relativamente às suas despesas, porque quem não tem capacidade para gastar não pode gastar e deve socorrer-se dos seus meios disponíveis e não entrar na mania das grandezas.
No mesmo sentido caminharam os outros canais generalistas livres que não alteraram a sua programação por causa da noite de passagem de ano, continuando com os seus programas de top de audiências, um com as cantorias e outro com uma coisa qualquer que eu nem sei classificar ou, melhor, nem quero dar-me ao trabalho de classificar, mas  que e apesar disto será o recordista de audiências como o é  de javardice.
Contudo, o canal público não deixou de entusiasmar o pessoal pela alta qualidade do seu programa de noite de passagem de ano com uma boa mão cheia de excelentes cómicos que deram todo o seu esforço e deram o seu máximo para que uns milhares de portugueses passassem uma noite deslumbrante.
Claro que não temos em conta o facto de se tratar de um programa em diferido querendo fazer crer que se tratava de um directo o que terá sido notado por muito boa gente, quando soube que o cómico máximo estava naquela hora a actuar em Lisboa, mas lá para os lados do terreiro do paço.
Este facto sem importância em nada desmereceu a noite televisiva do canal público, pois não tivemos que suportar aquelas imagens horríveis dos fogos de artifício de Lisboa, do Porto, do Funchal e de uma boa quantidade de outros locais quer em Portugal quer no estrangeiro, como o dubai, moscovo, londres, nova york e por aí fora.
Razão teve o canal público de televisão para nos poupar a este vergonhoso desperdício de milhares e milhares de dólares e de euros que poderiam ser poupados para alimentar milhares de pessoas que nesta noite morreram de fome e de sede por esse mundo fora sem ter a possibilidade de assistir à programação da nossa televisão pública para a noite de passagem de ano.
Fiquei muito contente por esta lição de economia dada pelos gestores da nossa televisão pública, pois ninguém poderá esquecer e ignorar que eles estão a gastar o dinheiro de todos aqueles que dispõem de um contador de energia eléctrica mesmo que não tenham rádio ou televisão e mostrar a todos os gastadores que é possível fazer coisa boa sem se importar seja o que for lá das estranjas ou do vizinho do lado, pois a prata da casa é paga para isso mesmo e não para ganhar uma pipa sem dobrar a espinha.
Por outro lado, não entendo nem percebo o atrevimento daquele canal por cabo que se deu ao luxo de estar em toda a parte com a sua gente em directo a mostrar tudo o que acontecia numa quantidade de locais onde o espectáculo era rei e senhor dos ecrans, havendo razão para perguntar de onde teria vindo a guita gasta naquele devaneio de jovem intrometido.
Aguardo, por isso, com alguma curiosidade o destino do aumento dos quarenta cêntimos por mês que vamos entregar ao nosso canal público para garantir estas maravilhosas transmissões dos próximos acontecimentos nacionais e mundiais sempre em diferido como se de directos se tratasse.
Já agora os gestores do nosso canal público poderiam dar a receita à ministra das finanças e ensinar-lhe como se governa uma casa gastando apenas o indispensável...