Fiquei altamente surpreendido com a quadratura da última quinta feira, tão só porque não esperava que aquela gente gastasse cerca de cinquenta minutos a falar sobre a mesma coisa que outros canais e outros grandes comentadores, políticos e jornalistas a propósito da transferência dos restos mortais do Eusébio para o Panteão Nacional.
E tanto mais surpreendido fiquei pelo facto de o primeiro dedicar quase cinco minutos para dizer que não ia nesse caminho como se já tivesse dado tudo para aquele peditório.
Reforcei a minha surpresa quando o segundo se preparava para dizer que ainda é cedo e que depois tudo, mas que agora, bom, o emocional e o racional... etcetera e tal...
Mas o meu espanto atingiu as alturas mais altas quando o pacheco dedica quase quinze minutos a desancar na imprensa em geral e na televisão em particular como responsável por quase tudo o que aconteceu nos últimos dias a propósito das cerimónias do funeral do Eusébio, tecendo considerações de um conteúdo altamente sofisticado, como se tudo se resumisse a um factor de pobreza cultural dos portugueses, que carecem de enaltecer até ao infinito as grandezas de dois ou três para compensar as misérias de uns quantos milhões.
Pensava eu que a conversa sobre o tema acabava ali, mas qual não foi o meu espanto quando tudo continuou no mesmo sentido levando-me a pensar que desta vez o jornalista deu mesmo a volta ao pacheco fazendo com ele e os outros incorressem no mesmo devaneio de todos os outros quando passaram horas infindas a dizer lugares comuns que toda a gente já tinha ouvido milhentas vezes.
Pensava eu que pelo menos o filósofo e o pensador e o historiador não se deixava enredar pelos malabarismos de um jornalista, mas desta vez, querendo justificar uma posição já de si perfeitamente justificada no que se refere ao Panteão Nacional, não resistiu a continuar na lenga-lenga de todos os outros, facto que me deixou verdadeiramente surpreendido por ter caído na esparrela e na armadilha que lhe foi colocada.
Estou perfeitamente convencido que, se o homem se deu ao trabalho de visionar o programa a posteriori, terá ficada arrependido de se ter deixado ir na maria vai com as outras, cantando e rindo como se tudo se resumisse ao Eusébio e ao Panteão Nacional.
Confesso que não aguentei os últimos oito minutos, porque considerei ter havido ali mais uma mistificação de uma personalidade considerada e respeitada por muita gente, utilizando-se o caminha da facilidade de do lugar comum sem acrescentar nada de novo aos factos em análise e se tivermos presente que nada fazia prever que todo o programa fosse dedicado à magna questão do Panteão SIM e Panteão NÃO.
No fim daquilo tudo quem se ficou a rir terá sido o jornalista moderador por ter conseguido levar o pacheco a percorrer caminhos que este não desejava e que tanto criticou quem os percorreu anteriormente.
Não levei a mal o procedimento do jornalista moderador nem tampouco o procedimento dos comentadores, mas achei tudo aquilo uma imensa fragilidade e incoerência dos interve nientes quando não se pouparam a criticar todos aqueles que tinham dito o mesmo durante os quatro dias anteriores.
Vem a propósito aquela do "bem prega frei tomás..."