5.3.09

A dormir

Ao fim do serão de ontem estive a ouvir, durante cerca de quinze minutos, uma entrevista com o "patrão" do Pingo Doce, uma conhecida cadeia de supermercados de média dimensão.

Para além de umas tiradas de saudosismo político por parte do entrevistado e de uma deliberada manipulação política da entrevista por parte do jornalista, dei comigo a dirigir-me a um desses supermercados para receber o meu prémio do euromilhões que me coube em sorte sem que tenha feito qualquer coisa para tal; vai daí que me disseram que não podia ser nada porque já tinham distribuído os prémios todos e que se quisesse alguma coisa que me dirigisse à máquina das apostas que estava mesmo ali lado; pois claro que fui à máquina para jogar, mas quando me preparava para o fazer aparece-me no "écran" o ministro das finanças a dizer-me que podia jogar mas que a guita ia toda para ele porque já não tinha nada nos cofres para pagar a tantos desempregados; perante isso ainda tentei jogar o mínimo num rebate de consciência social, mas quando o fazia aparece-me a cara do Primeiro para me dizer que podia jogar à vontade, mas grande parte da massa era para ajudar a classe média que estava muito desprotegida relativamente aos capitalistas de dois bancos portugueses que tinham perdido tudo e que agora também andavam a choramingar por todo o lado incluindo a porta do gabinete ali para os lados de São Bento e que isso não fazia muito sentido pois as coisas eram tratadas por outras pessoas que para isso mesmo foram nomeadas ministros e não para andarem às jantaradas caríssimas nas festa de inauguração de um quilómetros ou dois de uma qualquer auto-estrado ou de uma rotunda em Viseu; não ficando convencido de tais coisas mesmo assim tentei jogar qualquer coisinha para ajudar toda essa gente, quando o meu neto me dizia que se a televisão estava avariada era chamar os homens da tvcabo e ver a tvbox porque ele queria ver o panda e logo de seguida o dvd da ovelha choné. Queria fugir dali para fora mas não tinha a mínima possibilidade porque a máquina continuava a mostrar-me o Pacheco Pereira a contar as notas de cem euros que ganhava num programa que queria fazer um círculo quadrado, mas que não conseguia nem com o António Costa a mandar umas bocas, porque o outro não está ali para se maçar muito de tal modo que aceita as negociações que o PP fizer sobre o volume das notas de cem por mês ou por programa não sei bem porque a máquina não me disse e quando eu lhe ia a perguntar qualquer coisa relacionado com isso deu-me uma dor do caraças na bexiga que me fez levantar para ir … eram três horas e cinquenta minutos da madrugada e ouvia uma o barulho de uma ventania danada…

Fiquei descansado por duas razões fundamentais: primeira porque aquilo não passara de um sonho sobre uma realidade verdadeira; segundo porque encontrei uma explicação para a gramática utilizada pelo Saramago: escrever acordado o que pensa a dormir…


 

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