29.1.25

O que importa

 No âmbito da política caseira mudar de opinião seja lá  sobre o que for torna-se deveras perigoso para a credibilidade de qualquer agente político, parecendo que a alteração de uma determinada posição sobre um determinado assunto é matéria que requer muita ponderação e muito bom senso sob pena da cair o carmo e a trindade sobre quem tem a ousadia de mudar de opinião, mesmo que o tema seja de lana caprina e sem qualquer interesse.

Contudo a coisa chia mais fino se tivermos em conta que a opinião pública depende na grande maioria das circunstâncias de uma meia dúzia de iluminados que vivem à sombra do que pensam e dizem os agentes políticos dos partidos ou movimentos de maior dimensão e que representam muitas vezes o pensamento da sociedade, devendo por isso terem em conta que estão sujeitos aos olhares penetrantes de muita gente.

Apesar disso tenha-se na devida conta que qualquer espirro de um determinado político pode desencadear um conjunto de reações umas vezes com algum significado e outras nem tanto.

Por isso nem sempre se entende a barafunda e a balbúrdia que se apodera dos fazedores de opinião quando um político se passa dos carretos e manda um bomba para o ar, umas vezes para experimentar o nível de atenção do pessoal, outras para se fazer ouvir e outras ainda para manifestar uma determinada posição sobre um determinado assunto de que se fala e se opina nos meios de informação.  

Somos levados a pensar que um qualquer indivíduo com responsabilidades sociais não pode nem deve alterar a sua posição política, social, ideológica ou até filosófica sobre uma determinada matéria importante ou não, mantendo-a inalterável e permanente independentemente de tudo à sua volta ter mudado, ter alterado, ter progredido, ter regredido, como se o universo não fosse feito de mudança...

Somos levados a pensar que uma das caraterísticas dos indivíduos humanos é o raciocínio permanente sobre as coisas e que está condicionado por milhentas variáveis, umas perfeitamente controláveis, mas a grande maioria fogem ao controlo de quem está sujeito às influências e condicionalismos da vida.

Somos levados a pensar que se trata de um "crime" a alteração e a mudança da posição assumida num determinado momento sobre um determinado assunto, recusando todo e qualquer avanço que aconteça nas diversas facetas da sociedade.

A fim e ao cabo não deixa de ser curioso o raciocínio: se mudas não deves mudar, se não mudas deves mudar...E lá estamos com o adágio popular: preso por ter e preso por não ter...

No fim de contas o que importa... é que falem...

 



28.1.25

A resposta

 Quando algum condenado,  algum prisioneiro, algum desgraçado privado ou condicionado na sua liberdade de pensar ou de agir quiser fugir ou libertar-se ou ver-se livre do seu imperador, deve ter como preocupação maior o plano de ação após os primeiros passos.

Não se trata de dar o grito de libertação e dar o berro como se a coisa já tivesse terminado a seu contento: trata-se isso sim de planear os primeiros passos absolutamente indispensáveis para haver algum resultado satisfatório.

Se não tivermos esse plano de ação que nos garanta o êxito esperado acontece pura e simplesmente que perdemos a possibilidade de atingir os objetivos havendo como consequência imediata o reforço do poder do imperador ou do ditador. A nossa fraqueza resulta no reforço do poder de quem nos queremos libertar.

Foi o que aconteceu: pretendia enfrentar uma decisão do imperador e recusou aceitar os seus processos. Até aqui tudo bem, apresentou a sua posição como se a coisa tivesse terminado, mas veio de imediato a resposta de quem mandar e detém o poder: ou aceitas isto ou vamos tomar outras medidas para eficazes para as quais não tens resposta nem pensou que seria possível alguém fazer o que se dizia que ia fazer.

Depois de algumas conversas, o contestatário meteu o rabo entre as pernas e aceitou o imperador.

Não digo que tinha opções para além do barulho inicial, mas poderia ter pensado que as ameaças e as chantagens iniciais seriam seguidas de outras mais violentas, pois quem manda e detém o poder tem sempre ao seu dispor mais que uma opção guardando para uma segunda investida a posição mais forte e mais violenta.

O contestatário ficou desarmado não tendo sequer a ideia de responder da mesma moeda: mais cinco por cento de tarifas então aqui vai mais dez por cento e ainda tenho ali vinte funcionários da embaixada que nada fazem e só chateiam o meu pessoal, pelo que vou pô-los na fronteira a bordo de um carro puxado a mulas e já muito velhas...


 

27.1.25

De mau humor

 Parece que o imperador está a ter dores de cabeça devido a algumas dúvidas sobre os procedimentos adotados por parte dos seus súbditos pobres e mal agradecidos.
Não acharam muita graça ao verem que os ilegais eram transportados em aviões militares e devidamente acorrentados para evitar surpresas durante o voo e imediatamente fizeram-se ouvir vozes de discordância que não foram aceites por se entender que se tratava de oposição, o que não constava dos planos iniciais.
Discussão para lado, berros por outro, ameaças com tarifas, apresentação de tarifas ainda mais elevadas e a coisa lá se compôs e mais alguns lá foram enviados para donde vieram.
Sucede que este episódio vai certamente dar origem a muitos outros com graus de gravidade mais elevados até que um dia o imperador vai dar-se conta que que as coisas nem sempre correm de feição, tornando-se necessário algumas adaptações e cedências para que os fins sejam atingidos pelo menos na sua maior parte.
As pressões externas vai dar origem a movimentos internos com resultados imprevisíveis de tal modo que o imperador vai ter entre mãos graves problemas para resolver que podem pôr em causa a sua liderança universal.
Qualquer dia vai começar a receber umas mensagens inofensivas mas ameaçadoras que não se reduzem a subida de tarifas mas a incidirem  no que mais custa ao imperador: a contestação do poder e do modo como é exercido.
Por cada milhar de devolvidos há uma resposta bem mais grave e bem mais contundente: todo o pessoal civil e militar de uma determinada base naval instalada num determinado local de um determinado país que representa a supremacia e o domínio do imperador é expulso e confiscado todo o equipamento...
 
Ainda se pensou numa resposta à altura do atrevimento manifestado fazendo uso da invasão por terra, mar e ar mas as análises dos seus escravos pensadores alertaram-no para a impossibilidade de tal projeto havendo quem pensasse que uma pequena bomba nuclear resolveria tudo a contento.  
Mas a coisa não resultou porque a revolta e a sequência dos acontecimentos podiam descambar  numa guerra total, pelo que a afronta foi assumida como afronta e o resultado seria catalogado  como falhanço da política planeada sem ter em conta que todos os desgraçados, porque são aos milhões, também dispõem de algum poder de reivindicação que é preciso ter em conta.
Os imperadores tomam posse de um império normalmente por herança e os ditadores assumem-no por conquista após algum tempo durante o qual vão dando conta dos descontentes, da eliminação de adversários, do desterro e da prisão de muitos outros até que a reino esteja pacificado e a contestação seja apenas permitida numa manifestação de não mais de três indivíduos. 
Assim se vai perpetuando o poder do imperador e do ditador, mas é coisa que não vai durar para sempre e um dia quando menos se espera a coisa dá para o torto e lá se vai o imperador e o ditador sem se saber nem como nem porquê.
Até agora todos caíram apesar de alguns terem resistido muito para além do devido e do aceitável...
Os deuses não dormem e até eles às vezes acordam de mau humor...



 

 


26.1.25

O imperador

 O imperador imperial falou e disse:

"Tendo presente as condições de habitabilidade da faixa que mais não é que um enorme campo de demolições determino que os então residentes devem ser acolhidos pelos países seus vizinhos temporariamente ou mesmo definitivamente pois que temos de derrubar o que resta de pé e para tal já autorizei o envio das bombas já pagas e ainda não entregues aos seus legítimos proprietários. E não me venham com histórias da carochinha pois que a faixa está altamente bem localizada e merece um tratamento condigno para que possa ser usufruída por todos aqueles que tenham a possibilidade de pagar um hotel ou uma vivenda ou até um resorts turístico, tudo de luxo das mil e uma noites, tudo equipamento merecedor de utentes detentores de contas bancárias capazes de suportar tudo o que se queira exigir. Maltrapilhos, famintos, assassinos, miseráveis, doentes, enfezados, etc. e tal bem podem habitar as areias dos desertos próximos e deixar para as pessoas decentes e convenientes aqueles lugares abençoados pela natureza com água morna, sol quanto baste e abundante leite e mel...
 
E basta de conversa fiada: quem não concordar, que não concorde e que vá protestar para o lado oculto da lua e tenham cuidado em não voltar porque podem ter à sua espera uns quantos aviões para os depositar num dos desertos onde abundam as dunas de areias que ocultam petróleo que nunca mais acaba e que espera por trabalhadores que o queiram extrair...

E se não acreditarem no que digo e que duvidam da minha capacidade de cumprir o que prometi, que prometo e que prometerei se for preciso podem olhar para o os milhares que já foram deportados e devidamente acorrentados para que não estraguem o meio que os devolveu às suas terras natais, de onde nunca deveriam ter saído.
 
Tenham todos presente que o regabofe acabou e que agora há quem mande e governe mesmo que tudo pareça fora dos eixos, sem rei nem roque, pois que o imperador não é só de nome, mas de poder, de força, de capacidade de fazer e de realizar e de colocar no seu devido sítio todos aqueles que pensam que podem viver a sua vida em liberdade sem dar cavaco a ninguém.

Agora temos um imperador disposto a tudo para ser imperador incontestado, porque manda quem pode, embora quem não possa pode barafustar à vontade e discursar aos peixinhos do antártico, enquanto eu não acabar com eles..."

 




 

25.1.25

E mais um

 Conforme programado, recebi a minha pensão no dia dezassete de janeiro do ano da graça de dois mil e vinte e cinco.
Tendo presente as múltiplas declarações  dos responsáveis governamentais fui logo à procura do que me tinham descontado e do que tinha recebido a mais relativamente ao mês de dezembro do ano anterior.
Após inúmeras voltas dadas aos números constantes nos documentos emitidos pela entidade processadora da minha pensão e após inúmeros cálculos matemáticos com recursos às mais elaboradas equações cheguei às seguintes conclusões:
 
1. Fui aumentado sessenta e quatro euros e noventa e seis cêntimos o que corresponde a um aumento de 2,154%;
2. A contribuição para a adse passou de cento e oito euros e vinte e sete cêntimos para cento e dez euros e cinquenta e quatro cêntimos a que corresponde um aumento de 2,104%;
3. A taxa de retenção do irs passou de 24,9% para 25,3% a  que corresponde um aumento de 0,4% apesar dos ditos e afirmações do pessoal responsável por estas coisas;
4. No final das contas, dos sessenta e quatro euros euros e noventa e seis cêntimos recebidos a mais relativamente ao mês de dezembro de dois mil e vinte e quatro recebi a substancial quantia de trinta e quatro euros e sessenta e nove cêntimos, isto é, 53,402% do total do aumento, o que não deixa de significar um saldo positivo nas minhas contas mensais.
 
Alguns dirão que não tenho razões para me queixar, apesar de o aumento ter sido comido pela inflação, mas isso acontece a todos, mesmo que não tenham tido qualquer aumento.
Embora admita que não tenho razões para me queixar da situação, devo confessar que apenas sinto alguma descrença e frustração relativamente às promessas da diminuição da retenção na fonte no que se refere ao irs se tiver presente o que foi tantas vezes reiterado.
Por isso até posso afirmar que há muitas coisas  ditas e reditas pelo pessoal que não são para levar a sério, sendo preferível manter as expectativas a nível zero até se ver e sentir a realidade dos factos ou, se quiserem, dos números, porque estes normalmente não enganam, muito embora possam ter muitas leituras...
 
A minha grande consolação que vai amenizar os meus dias do ano de dois mil e vinte e cinco é o ter a proteção e a vigilância do novo emperador do planeta, do universo e respetivos arredores.
 
Que os deuses sejam benignos connosco que tudo aceitamos e permitimos...