Sou dos muitos daqueles que consideram que as homenagens prestadas a Mário Soares por ocasião da sua partida para a última viagem foram justas, merecidas e adequadas.
Voltámos à rotina do dia a dia para ouvir mais uma vez o que já ouvimos centenas de vezes, para que a realidade do estado presente não se confunda com a memória da grandeza dos "nossos egrégios avós".
Foi uma homenagem onde não faltaram os lugares comuns proferidos a torto e a direito por aqueles que, de microfone na mão e sem teleponto, acompanharam minuto a minuto e em todos os canais de televisão as cerimónias fúnebres, parecendo, nalguns momentos, que se tratava de uma festa.
Ficaram de barriga cheia todos aqueles que têm poucas oportunidades no dia a dia de demonstrarem que sabem utilizar as pomposas e tónicas palavras de "também" e "então", mesmo que não venham a propósito.
Mas nunca tinha ouvido um tal repórter de microfone na mão e sem teleponto utilizar os tais advérbios devidamente unidos como se se tratasse de uma única palavra: "também então".
Deu-me vontade rir, mas somente expressei um "hoh..." de admiração porque fora a primeira vez a ouvir tal coisa.
Ainda mais empolgante que a utilização destes advérbios na rotina de jornalistas de microfone na mão sem teleponto foram as grandes e formidáveis e espectaculares entrevistas ao povo anónimo que nos foram brindadas durante quase três dias.
"O que é que sente..."; "donde veio..."; "que lhe parece..."; " o que está aqui a fazer..." "sabes quem é...", etc e tal.
Mimos, mimos e mimos, oferecidos gratuitamente...
Estejamos agradecidos pela qualidade, seja lá o que isto for...