2.8.13

A mentira substantiva

Excetuando os políticos, principalmente os governantes, muita gente terá aprendido alguma coisa com os acontecimentos dos últimos trinta dias.

Por mim, achei interessante que um comentador televisivo com larga audiência e muita durabilidade no exercício das suas funções tenha atirado aos quatro ventos aquela de "mentira substantiva".

Já conhecia outras expressões sobre a matéria, nomeadamente "mentira virtuosa", "mentira piedosa", "mentira amorosa", "mentirinha", mas estava longe de pensar que também existia a "mentira substantiva".

Tenho notado que o professor anda a fazer um esforço bastante relevante para chegar a conclusões que pouca gente tira a propósito dos atos da governação, tentando encontrar justificações que a maioria do pessoal não entende e não vislumbra no horizonte do bom senso.

Agora estaremos todos à vontade para justificar um ato não verdadeiro com uma não "mentira substantiva", pacificando as consciências de quem tem dificuldade em dizer e aplicar as palavras certas com o significado certo nas ocasiões certas e para os factos reais com realidade objetiva, substantiva e verdadeira, para que não haja hipótese de lavar a porcaria que se fez.

Já sabia que esta coisa da verdade e da mentira tem muito que se lhe diga, pois estamos sempre dependentes do significado e do significante e tudo aquilo que se pode atribuir à linguagem e aos seus estilos e subterfúgios.

Estamos longe de acreditar que a linguagem e o significado das palavras podem justificar tudo e mais alguma coisa, fazendo crer que uma mentira se pode tornar uma verdade pelo simples facto de estarmos perante uma posição de inserir no processo de comunicação o ruído bastante para aceitar como verdade uma meia verdade ou uma mentira.

Se a nossas vidas se resumissem ao "preto" e ao "branco" não valia a pena o esforço de muita gente devotada à cultura e ao conhecimento.

Se nos faltassem os intermédios ficaríamos reduzidos à triste pobreza da impossibilidade de dialogar com quem quer que fosse porque tudo seria incolor e transparente não havendo lugar à criatividade, como essência do pensamento.

Uns dizem que não mentiram?

Outros dizem que não falaram verdade?

Todos estão certos e com razões para estarem convencidos que não mentiram e que não falaram verdade, mas nós temos o direito de pensar que alguém meteu a pata na poça e que saiu com o sapato todo cagado, esperando que não deixasse marcas no pavimento, que está, ainda por cima, bem molhado…

Será justo e adequado aplicar o princípio da dúvida metódica…?

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