Excetuando os políticos, principalmente os governantes, muita gente terá aprendido alguma coisa com os acontecimentos dos últimos trinta dias.
Por mim, achei interessante que um comentador televisivo com larga audiência e muita durabilidade no exercício das suas funções tenha atirado aos quatro ventos aquela de "mentira substantiva".
Já conhecia outras expressões sobre a matéria, nomeadamente "mentira virtuosa", "mentira piedosa", "mentira amorosa", "mentirinha", mas estava longe de pensar que também existia a "mentira substantiva".
Tenho notado que o professor anda a fazer um esforço bastante relevante para chegar a conclusões que pouca gente tira a propósito dos atos da governação, tentando encontrar justificações que a maioria do pessoal não entende e não vislumbra no horizonte do bom senso.
Agora estaremos todos à vontade para justificar um ato não verdadeiro com uma não "mentira substantiva", pacificando as consciências de quem tem dificuldade em dizer e aplicar as palavras certas com o significado certo nas ocasiões certas e para os factos reais com realidade objetiva, substantiva e verdadeira, para que não haja hipótese de lavar a porcaria que se fez.
Já sabia que esta coisa da verdade e da mentira tem muito que se lhe diga, pois estamos sempre dependentes do significado e do significante e tudo aquilo que se pode atribuir à linguagem e aos seus estilos e subterfúgios.
Estamos longe de acreditar que a linguagem e o significado das palavras podem justificar tudo e mais alguma coisa, fazendo crer que uma mentira se pode tornar uma verdade pelo simples facto de estarmos perante uma posição de inserir no processo de comunicação o ruído bastante para aceitar como verdade uma meia verdade ou uma mentira.
Se a nossas vidas se resumissem ao "preto" e ao "branco" não valia a pena o esforço de muita gente devotada à cultura e ao conhecimento.
Se nos faltassem os intermédios ficaríamos reduzidos à triste pobreza da impossibilidade de dialogar com quem quer que fosse porque tudo seria incolor e transparente não havendo lugar à criatividade, como essência do pensamento.
Uns dizem que não mentiram?
Outros dizem que não falaram verdade?
Todos estão certos e com razões para estarem convencidos que não mentiram e que não falaram verdade, mas nós temos o direito de pensar que alguém meteu a pata na poça e que saiu com o sapato todo cagado, esperando que não deixasse marcas no pavimento, que está, ainda por cima, bem molhado…
Será justo e adequado aplicar o princípio da dúvida metódica…?
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