Um excelentíssimo senhor, antes deputado pelo partido socialista, antes ministro pelo partido socialista, depois deputado pelo partido socialista e agora administrador do Banco Europeu de Investimentos (?) sediado em Londres, veio dar uma entrevista em Portugal a lançar, mais uma vez, a discussão sobre a corrupção.
No seu entendimento, porque as suas propostas, enquanto deputado, não foram aceites, a actual lei não só não combate devidamente a corrupção como ainda potencia o seu desenvolvimento…
Nem sequer será difícil concordar com o homem, mas falar agora e neste momento sobre tal matéria, quando o senhor é administrador de um banco europeu, indigitado pelo próprio partido socialista e que ele aceitou quando ainda era deputado, dará também que pensar…
Se esse tal administrador queria defender até à última gota de suor do seu rosto as tais propostas quando desempenhava as funções de deputado, então que recusasse a ida para Londres ocupar o lugar de administrador do tal banco e aqui permanecesse para o que desse e viesse.
Mas não.
Lá foi para Londres, certamente que a ganhar uma pipa de massa muito para além do seu ordenadinho de deputado, reservando-se o direito de e de vez em quando e quando começasse a ser esquecido cá no burgo dar uma entrevista aos jornalistas parolos a terra sobre a tal história da corrupção.
Certamente que nunca lhe terá passado pela cabeça que o facto de ter sido nomeado ou indigitado pelo partido socialista (Governo?) para tal lugar não podia ser conotado ou ter o significado de uma "compra" perfeitamente aceitável para um homem que encetara uma luta contra a corrupção, mesmo que essa luta não tivesse passado de uns quantos artigos de uns tantos projectos de lei…
Que fez este homem contra a corrupção e contra os corruptos enquanto exerceu as funções de ministro das obras públicas, precisamente o sector onde se presume haver maior corrupção tanto em qualidade como em quantidade?
Que fez este homem contra a corrupção e contra os corruptos, quando dezenas e dezenas de colegas seus, do parlamento, do governo, de partido, e de outras coisas mais, foram nomeados administradores de empresas onde o Estado é parte interessada?
Será que este senhor, arauto da luta contra a corrupção, está mesmo convencido que essa só existe na casa dos outros e por responsabilidade dos outros…?
Será que este senhor, juiz em causa própria, está convencido que durante o seu tempo de ministro não foi cometido qualquer acto de corrupção no seu ministério, e que começaram a acontecer logo que reocupou a sua cadeira no parlamento?
Cada vez estou mais convencido que praticar a demagogia é bem mais fácil e populista que viver a democracia…