Abandonei o almoço de comemoração do trigésimo nono aniversário da chegada a Lisboa do batalhão de cavalaria mil oitocentos e sessenta e oito vindo das campanhas angolanas para chegar a tempo e a horas de me sentar no meu lugar cativo para assistir cómoda e pacatamente ao encontro dos franganotes da segunda circular.
Em má hora o fiz, porque podia continuar a recordar tantas coisas daqueles vinte e oito meses, tão malucos e tão doidos, pois, para além de não me deixarem ver o jogo como gente normal, não presenciei nada de especial a não ser a grande novidade de a própria águia do Barnabé, desta vez, ter aterrado na relva, pelo que não acertou no poleiro, coisa nunca vista…
O resto… toda a gente viu e sabe que uns podiam ter ganho, outros poderiam ter perdido, se cada um dos jogadores estivesse preparado para jogar noventa minutos a séria e não como os “solteiros e os casados” de antigamente…
Depois querem que o pessoal encha os estádios onde se joga a bola ao faz de conta…
Mas o almoço, que teve lugar ali para os lados do Entroncamento, foi um encanto: já não via alguns dos presentes há mais de trinta e nove anos; já não recordava a cara de alguns camaradas com quem passei cerca de vinte e oito meses lá nos “cus de judas”, lá no noroeste de Angola, lá entre Ambrizete, São Salvador e Santo António do Zaire (desculpem lá os nomes, mas é assim que os recordamos) já não me lembrava de muitos nomes daqueles rapazes, feitos pais e avós…
Mas tudo isto foi desculpado, porque a vida de cada espalhou-se por esse mundo fora e cada um teve a sua conta, para além daquela que lhe ofereceram naquele fim do mundo, onde houve de tudo: suor, fome, sede, sono, medo, sangue, consciência, inconsciência, água, vinho, cerveja, batatas, bacalhau, bifes do lombo, da alcatra, do pujadouro e não sei se até de cornos da bicharada…
Foi rir a bandeiras despregadas, agora que falar alto já não prejudicava ninguém…
Foi nestas circunstâncias que se fizeram amigos para a eternidade.
Tivemos tempo para fazer votos de novo encontro para o próximo ano com a presença de todos, pois se não ficámos lá, que custa ir a Estremoz?
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