- Que brincadeira vem a ser esta com uma carta de pedido de demissão irrevogável numa altura em que toda a gente nos quer ver pelas costas, depois de uma outra carta com a demissão do gasparzito?
- Desculpa lá o mau jeito, mas depois da primeira tinha que vir a segunda e para não vir a terceira esta segunda só pode ser irrevogável.
- Olha, tenho uma informação para ti sobre este assunto e antes que a saibas pelos jornais já te vou adiantando que o mandachuva não aceita pedidos de demissão irrevogáveis, pelo que a tua carta continua aqui na minha mesa à espera de uma melhor oportunidade para a mandar para o cesto dos papéis, o que me faz pouca diferença pelo facto de já ser do conhecimento público…
- Pois é, mas trata-se de um pedido e de uma demissão irrevogável, pelo que o problema está nas tuas mãos, mesmo que haja uma crise do caraças por causa desta minha demissão…
- Mas há outra, já que falas desta…?
- Haverá outra se esta deixar de ser irrevogável.
- Dorme lá sobre o assunto e mete na tua cabeça que o mandachuva diz que a palavra irrevogável só se aplica a factos, coisas, situações, pensamentos, atos e omissões dele e não admite que haja nesta terra uma outra pessoa que possa utilizar de qualquer maneira a palavra "irrevogável".
- Eh pá, parece que o homem ficou mesmo bravo!
- Ficou mais que bravo e disse-me que ia dizer ao PAÌS que queria um acordo de salvação nacional com os xuxas, pelo que podes ficar em maus lençóis…
- Então, que pensas fazer com isto tudo?
- Nada. Fazemos umas reuniões com aqueles parvalhões para o mandachuva ver, mas com a intenção de os mandar às urtigas como sempre fizemos e depois cozinhamos uma solução, esta sim, irrevogável, para que possas continuar a dar as tuas passeatas a fazer diplomacia económica por esse mundo fora.
- Não pode ser, a minha demissão é irrevogável, mas não inegociável…
- Mau maria. O que é que pretendes com esta?
- Pouca coisa, mas toma lá nota: ser nomeado vice-primeiro ministro, para ser o número dois do governo; ser o negociador de todos os assuntos com a troika; ser o responsável pela reforma do estado e não exijo a gerência dos fundos europeus, porque já tenho um novo ministro para a economia que se encarregará de tudo isso…
- Não queres mais nada?
- Não. Mas repara que vais deixar de mandar coisa alguma no governo em troca de todo o tempo que quiseres para te dedicares a continuar a campanha eleitoral com vista as próximas eleições autárquicas, depois as europeias e depois as legislativas, porque se não te dedicares a isso, levas um chimbalau que só vais parar no Samouco…